quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Um mercado sem fim (Continuação)
O mercado brasileiro de saúde ficou grande demais -- já é o sexto maior do mundo -- para ser ignorado pelas grandes multinacionais do setor. Nos últimos cinco anos, a receita dos 30 maiores hospitais privados do país dobrou, as vendas de medicamentos cresceram quase 80% e o faturamento das operadoras de planos de saúde aumentou 111%. O Brasil é hoje o nono maior consumidor de medicamentos do mundo e a previsão é que alcance a sétima posição em quatro anos. A explicação para esses números pode ser encontrada em três principais frentes. A primeira é o aumento dos investimentos do governo, a despeito de todas as mazelas do sistema público de saúde. Quase metade do dinheiro aplicado em saúde tem origem pública e, entre 2003 e 2007, 42 bilhões de reais extras foram investidos. A segunda é a mesma razão por trás do bom desempenho de tantos outros setores da economia: o crescimento do emprego e da renda. Quanto maior o número de pessoas com carteira assinada, maior o acesso a planos de saúde, o que acaba por impulsionar o setor como um todo. Por fim, o aumento da expectativa de vida tem elevado a demanda por produtos e serviços de saúde -- espera-se que até 2050 a população brasileira tenha 64 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade, ante os atuais 19 milhões. "São exatamente esses novos consumidores que têm colocado o Brasil no foco das principais empresas do setor de saúde do mundo", diz Fernando Barreto, sócio da consultoria de gestão Primeira Consulta.
Nenhum outro elo da cadeia da saúde representa essa lógica de modo mais evidente do que a indústria farmacêutica. Há apenas oito anos, as economias maduras respondiam por 80% do crescimento das fabricantes de medicamentos em todo o mundo. Segundo a consultoria IMS Health, a proporção se inverterá neste ano. Mais da metade da expansão virá dos sete maiores países emergentes do mundo, grupo conhecido como pharmerging (junção do prefixo "farma" e da palavra "emergente", em inglês) e que inclui o Brasil. A principal razão para a mudança no equilíbrio de forças é a disparada do poder de consumo nos países em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, as receitas em países desenvolvidos -- que crescem em ritmo bem mais lento -- devem sentir um novo baque nos próximos cinco anos. Medicamentos inovadores consumidos largamente nessas regiões, como o Zyprexa, da Eli Lilly, e o Lípitor, da Pfizer, perderão suas patentes -- quando isso acontecer, seus preços cairão até 85%. "Haverá um hiato de quatro anos até que um grupo relevante de drogas bilionárias volte a ser lançado. Até lá, o crescimento dos laboratórios terá de vir dos emergentes", diz Wilson Borges, presidente do Zambon no Brasil, que já recebeu carta branca da matriz italiana para comprar um laboratório local.
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