A vinda do papa Francisco ao Brasil será um grande evento
religioso para os católicos. Mas para os brasileiros e para o mundo será
um evento político interessante, pois pela primeira vez o novo
pontífice se manifestará frente a uma conjuntura em ebulição.
Voltaire, em um de seus livros populares na França pré-revolucionária, atribui a um padre a máxima que os enciclopedistas gostavam de repetir, segundo a qual os homens só seriam livres “quando o último rei fosse estrangulado nas tripas do último padre”. Passados séculos desse furor anticlerical e antiabsolutista do início do Iluminismo, alguns monarcas realmente perderam as suas cabeças e vários padres também. Mas a modernidade conviveu com monarquias constitucionais, em que os seus reis submetidos às leis, mas também com outros que…muito antes pelo contrário. Quanto à Igreja Católica, ela não só sobreviveu como conseguiu prosperar em outros mundos, especialmente nos novos.
Joseph
Ratzinger, que virou Bento XVI, precursor da Igreja que vigorou nos anos
pré-Francisco, gostava de comentar em seus textos mais filosóficos que o
Iluminismo, que tanto prometia transformar a humanidade, não teria
cumprido as suas promessas de distribuição de felicidade, igualdade e
fraternidade. Sem falar que gerou ditadores do mesmo nível daqueles
contra os quais lutava. Nisso tinha razão... Mas Ratzinger, como
sabemos, iniciou um longo inverno no qual a Igreja Católica,
especialmente a latino-americana, viveu a exclusão de seus teólogos mais
originais, emparedou aquela que talvez tenha sido a mais inovadora
contribuição teológica à liberdade humana.
A renúncia de Bento XVI e a escolha do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio trazem novos ares para o seio de uma instituição que é sagrada para os seus seguidores e que é um exemplo de permanência. Em tempos de questionamento das instituições modernas, dos “recém-acordados”, vale lembrar que enquanto “todos eram forçados a dormir” foi parte dessa Igreja, ora presidida por Francisco, que ajudou a proteger os precursores daqueles que nunca se deixaram “adormecer”. Francisco vem, o nome em si já traz forte promessa. Sua Igreja...