A escalada da violência no Oriente Médio há muito deixou de ser fenômeno
regional. É ingenuidade imaginar que a motivação que rouba vidas na
Palestina, na Síria, no Paquistão, na Líbia ou em Israel tem
nacionalidade conhecida e certidão de nascimento registrada em cartório.
Não tem. A decapitação do jornalista James Foley transmitida mundo
afora pela internet serve de assustador exemplo.
Não se deve ao acaso a escolha do carrasco encapuzado que matou o repórter americano. Especialistas em fonética identificaram que o algoz não só falava um inglês perfeito mas denunciava sotaque multicultural londrino. Trata-se de um entre tantos jovens dos cinco continentes que engrossam as fileiras jihadistas internacionais atraídos por apelos de ódio que se espalham como rastilho de pólvora.
Além de britânicos, australianos, chineses e indonésios aparecem nas peças do terror divulgadas pelo grupo Estado Islâmico (EI). Formado por extremistas sunitas apeados do poder com a queda de Saddam Hussein, o EI espalha pânico no Iraque e no norte da Síria. Persegue minorias com crueldade que desconhece a compaixão. Dezenas de milhares de curdos se refugiaram em cavernas de montanhas e se tornaram reféns dos radicais, que os sitiaram e os impediram de sair. Na prática, foram condenados à morte por falta de água, alimentos e remédios.
Os Estados Unidos — principais responsáveis pela tragédia que se abateu sobre a antiga Mesopotâmia — mandaram ajuda humanitária aos refugiados e bombardearam os jihadistas para evitar o massacre de xiitas, curdos e cristãos. A resposta veio com a decapitação de James Foley e o recado de que, se os ataques continuarem, outro refém será sacrificado. Trata-se do jornalista Steven Sottof, ex-colaborador do jornal Time, e das publicações Foreign Policy e Christian Science Monitor.
A escalada do terror preocupa o mundo. O envolvimento de jovens de diferentes nacionalidades no Estado Islâmico permite imaginar que dificilmente a violência se restringirá ao Oriente Médio. É questão de tempo. Nada impede que a demonstração de força e poder chegue aos demais continentes. A reação será violenta e espalhará mais ódio que levará a mais violência.
Impõe-se cortar o círculo vicioso. Sem atacar a causa — o desamparo, a pobreza, a discriminação — abater os sintomas é secar gelo. Como as cabeças da hidra, novos grupos surgirão. A Al-Qaeda — que se notabilizou por espalhar o pânico com homens-bomba —, além de se multiplicar em células espalhadas mundo afora, convive agora com o Estado Islâmico, que, em vez de explodir as vítimas, corta-lhes a cabeça e exibe essa barbaridade pela Internet. É mais uma cabeça da hidra.