Para decepção de todos que esperavam um bom exemplo por parte da
cúpula da Justiça, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)
aprovaram na quarta-feira (12) uma proposta que estabelece pródigo
aumento de 16,38% em seus próprios vencimentos.
Se a
iniciativa contar com o beneplácito do Congresso e for sancionada pela
presidente Dilma Rousseff (PT), os 11 integrantes da corte passarão a
receber, a partir de janeiro de 2016, salários de R$ 39.293. Logo se vê
que consideram pouco os R$ 33.763 (42,8 salários mínimos) a que fazem
jus hoje em dia.
Na mesma reunião administrativa, os ministros
concordaram em sugerir um reajuste que varia de 16,5% a 41,47% para os
servidores do Judiciário (dividido em oito parcelas semestrais).
Do
ponto de vista das contas públicas, um avanço em relação às cifras
aprovadas pelo Congresso –e vetadas por Dilma– no primeiro semestre (de
53% a 79%), mas ainda assim em descompasso com a atual realidade
brasileira.
No caso dos servidores, a medida implicará gastos
adicionais de quase R$ 6 bilhões ao ano (depois da última parcela). Vale
lembrar que, em julho, reconhecendo a impossibilidade de poupar R$ 66,3
bilhões para manter a dívida sob controle, o governo rebaixou para R$
8,8 bilhões a meta de economia ao final de 2015.
Quanto aos
membros do STF, o impacto da elevação salarial afigura-se, à primeira
vista, bem mais modesto: R$ 2,17 milhões por ano.
Considerado,
porém, o efeito cascata no Judiciário, a conta monta a R$ 717 milhões
anuais –para nada dizer dos desdobramentos que possa ter no restante da
administração pública, já que o vencimento dos ministros do Supremo
constitui teto para o funcionalismo.
Agindo como líder
sindical, o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, afirma que a
correção para os integrantes da corte apenas repõe perdas com a inflação
de 2009 ao final deste ano. Na ponta do lápis, ele até tem razão. A
questão, no entanto, não é essa.
Em qualquer circunstância, a
remuneração dos magistrados mereceria ser objeto de maior debate. Além
dos salários, os membros dessa corporação gozam de inúmeras vantagens,
muitas das quais geram altos custos para o contribuinte.
Em
fevereiro, por exemplo, gastaram-se R$ 31.188 (apenas com diárias, sem
contar passagens aéreas) para Lewandowski cumprir agenda na Europa, onde
esteve, entre outros, com o papa Francisco e a rainha da Inglaterra.
Diante
de uma grave crise econômica, a parcimônia nas despesas públicas
torna-se muito mais necessária – e ainda mais inoportuna, portanto, a
reivindicação salarial de quem já está entre os servidores mais
privilegiados.
Em tese sem interesse nas lutas partidárias, os
ministros do STF poderiam ter dado o exemplo de grandeza de que o país
precisa. Preferiram, todavia, colocar-se no mesmo nível do Congresso.