Na volta ao Brasil, presidente eleita terá pela frente verdadeiros 'abacaxis' para descascar. Todos os partidos aliados querem cotas cada vez maiores na composição do ministério
Três ministérios dos Transportes, dois da Integração Nacional, dois de Comunicações, dois da Saúde, dois do Turismo e, ainda, duas Caixas Econômicas. A lista compõe parte dos pedidos a serem encaminhados à presidente eleita, Dilma Rousseff, a partir de amanhã, quando ela desembarca em Brasília. Nenhum dos 10 partidos que compõe a base do futuro governo pediu baixo ou se mostra, desde já, disposto a se contentar com pouco. E com um agravante: Lula já aconselhou a presidente que não componha o governo com derrotados nas eleições, porque, ao acomodar um, vários outros vão se achar no direito de reivindicar cargos.
A disputa pelo poder no principal pepino para Dilma resolver nesses 50 dias que faltam para a posse. Ontem, por exemplo, os integrantes da equipe de transição que cuidam da parte política concluíram que é melhor fechar primeiro o ministério e deixar a disputas das presidências da Câmara e do Senado para uma etapa posterior, de forma a não misturar as estações e complicar ainda mais o intrincado jogo para escolha de ministros.
O fato de Lula ter dito a Dilma que veja com cuidado a nomeação de quem perdeu a eleição ajuda a resolver alguns problemas, mas cria outros. Só no PT, são pelo menos quatro nomes à espera de uma compensação, Aloízio Mercadante (PT-SP), que foi ao sacrifício para montar um palanque forte para Dilma em São Paulo; Ideli Salvatti (PT-SC) e Ana Júlia Carepa (PT-PA), derrotadas nos governos estaduais, e, ainda, Fernando Pimentel, que perdeu o Senado. Dos quatro, pelo menos Mercadante e Pimentel são nomes fortes para representar o partido no governo de Dilma, especialmente, Pimentel que é amigo da presidente eleita.
No PMDB, Hélio Costa também gostaria de retornar ao Congresso, mas suas chances são remotas. Na Câmara, os deputados peemedebistas também já fizeram chegar ao líder Henrique Eduardo Alves e ao vice-presidente eleito, Michel Temer, que os postos de primeiro escalão devem ser reservados a vitoriosos que trabalharam pela eleição de Dilma em seus respectivos estados. O PR, que há dois dias indicou Alfredo Nascimento para o Ministério dos Transportes, ontem já reavaliava o nome pelo fato de Alfredo ter sido derrotado para o governo estadual.
Além desse problema, Dilma terá que avaliar a lista de pedidos que mais parece uma relação de "supermercado ministerial", conforme revelou um dos componentes da equipe de transição. Se fosse atender o PR, o PP e o PMDB, Dilma teria que ter três Ministérios dos Transportes, um para cada um. No caso do Turismo, a pasta hoje ocupada pelo PT, já foi reinvindicada pelo PTB. "O PTB ocupou o ministério e saiu porque Walfrido (dos Mares Guia) foi convocado para cuidar da coordenação política. É natural que agora retorne", diz um petebista. Da mesma forma que o PTB reinvindica o retorno ao Turismo, o PSB quer voltar ao Ministério da Integração Nacional, pasta que ocupou com Ciro Gomes até que o PMDB tomando o espaço quando a ala oposicionista da Câmara aderiu ao governo Lula.
Além da disputa entre os partidos por espaço de poder no Executivo, Dlima encontrará ainda parte de sua base aliada fechada com um aumento maior para o salário mínimo. Na quarta-feira, ao ser anunciado como futuro líder do PDT, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, anunciou que vai lutar pelo mínimo de R$ 580. "Nós já fechamos esse valor. Vamos ver se o governo aceita", disse Paulinho. Hoje, valor do salário mínimo previsto no Orçamento de 2011 é de R$ 538,15, que o relator pretende arredondar para R$ 540.
O problema é que cada ponto percentual de aumento do salário mínimo representa R$ 1,5 bilhão de acréscimo na despesa do governo. Ou seja, o Poder Executivo terá que tirar recursos de outras áreas para compor os R$ 580 defendidos por parte da base aliada e as centrais sindicais. A reunião para tratar desse tema será na terça-feira, quando a presidente eleita começa a despachar no Centro Cultural do Banco do Brasil. No fim de semana, ela passa a morar na Granja do Torto, para onde já foi a sua mudança. O problema de abrir a garagem e dar de cara com um batalhão de repórteres, cinegrafistas e fotógrafos é o único que ela encontrará resolvido quando desembarcar em Brasília.
Nenhum comentário:
Postar um comentário