Há 100 anos a medicina sabe da existência de um distúrbio mental chamado esquizofrenia, mas não pode dizer que conhece. Desde que foi descrita pela primeira vez, em 1911, pelo suíço Eugen Bleuler, até hoje, a doença continua sem causa definida. Os tratamentos, principalmente farmacológicos, têm sido usados amplamente há pelo menos meio século, sem que provoquem os efeitos esperados. “Há poucas provas de que eles realmente melhoraram a qualidade de vida da maior parte dos pacientes. Mas isso pode mudar se começarmos a abordar a esquizofrenia como um distúrbio neurodesenvolvimental, com o aparecimento da psicose somente mais tarde, um estágio que, potencialmente, poderia ser prevenido na doença”, argumenta o psiquiatra Thomas R. Insel, do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos.
O médico é autor de um artigo que estampa a capa da revista especializada Nature desta semana, que se propõe a ‘repensar’ a esquizofrenia, de forma que, daqui a 20 anos, os tratamentos oferecidos realmente ajudem a mudar a realidade dos pacientes. "Entender a doença sob uma nova abordagem pode não somente melhorar os tratamentos, como significar uma possibilidade de cura no futuro", disse Insel ao Estado de Minas. O psiquiatra segue uma linha amplamente difundida entre especialistas de que a esquizofrenia é um distúrbio de origem neurológica que, com o passar do tempo, agrava-se, levando os pacientes ao estágio psicótico.
Segundo Insel, a esquizofrenia é uma síndrome — uma coleção de sintomas de causa desconhecida e que pode ser caracterizada predominantemente pelas crises psicóticas dos pacientes. Na maior parte dos casos, os primeiros sinais aparecem entre o fim da adolescência e o início da idade adulta, quando a pessoa começa a sofrer de alucinações e paranoias. “Essas manifestações da doença mudaram muito pouco ao longo do último século. Cem anos atrás, tínhamos muitas instituições públicas para tratar doenças mentais sérias, tuberculose e hanseníase. Das três doenças, apenas os distúrbios mentais, especialmente a esquizofrenia, continuam sem alteração, tanto na prevalência quanto na invalidez que pode provocar”, critica o psiquiatra.
Estima-se que a patalogia atinja 1% da população mundial, sendo que menos de 14% dos pacientes conseguem se recuperar nos primeiros cinco anos depois de um episódio psicótico. A dificuldade de se encontrar um tratamento consistente reflete na falta de qualidade de vida de quem sofre do mal. Na Europa, menos de 20% de pessoas com esquizofrenia estão empregadas, e um estudo realizado nos Estados Unidos descobriu que esse é o percentual de doentes que se tornam sem-teto depois da primeira crise. “Apesar de muitos terem atribuído a falta de progresso aos sistemas de saúde falidos, a verdade é que ainda não temos um entendimento básico da psicopatologia do distúrbio; daí a falta de ferramentas para desenvolvermos um tratamento curativo ou preventivo”, reconhece Insel.
Química O psiquiatra explica que, quando Eugen Bleuler cunhou o termo esquizofrenia, ele acreditava que se tratava de um distúrbio do pensamento e do sentimento. Segundo Thomas Insel, durante boa parte do século 20, predominaram as teorias que estudavam a mente, mas desprezavam o cérebro. “A esquizofrenia era vista como uma reação psicótica, um ego fragmentado devido a uma rejeição materna”, exemplifica.
Cinquenta anos depois, o pêndulo balançou para outra direção: “Um foco no desequilíbrio químico do cérebro”, diz. “A esquizofrenia passou a ser considerada um distúrbio de dopamina, baseado nos efeitos indutores de psicose causados por drogas que liberam dopamina no cérebro, como a anfetamina. E também devido à eficácia antipsicótica de uma quantidade de drogas que bloqueiam o receptor D2 da dopamina”, acresenta. Porém, apesar de reconhecer que medicamentos que seguiam essa linha trouxeram alguns benefícios aos pacientes, Insel sustenta que elas não ajudaram na recuperação funcional dos pacientes. Segundo ele, os tratamentos ficaram muito focados nos remédios, deixando de lado o entendimento da doença.
Para o especialista, só será possível mapear a psicopatologia da esquizofrenia a partir do reconhecimento de que essa é uma doença neurodesenvolvimental, abordagem proposta pela primeira vez há 20 anos. “A psicose quase sempre emerge no fim da adolescência ou no início da idade adulta, com um pico entre os 18 e os 25 anos, quando o córtex pré-frontal ainda está em desenvolvimento”, diz. Por isso, para o psiquiatra, esse pode ser o momento em que falhas no desenvolvimento do cérebro levam à esquizofrenia. Como exemplo, ele cita o fato de que desnutrição materna, infecções durante o segundo trimestre de gestação, danos durante o parto e exposição a alguns tipos de substâncias químicas — fatores que já se sabe serem um risco para o cérebro — estão intimamente ligados à patologia.
O psiquiatra propõe o estudo dos genes para o mapeamento da doença. “A partir de células-tronco pluripotentes derivadas do fibroblasto (célula que compõe o tecido conjuntivo) de pacientes de esquizofrenia, poderemos ser capazes de avaliar diferentes tipos de células neurais, incluindo seu desenvolvimento, suas conexões funcionais e suas respostas às perturbações”, acrescenta. Como podem se transformar em qualquer tipo de estrutura, as células-tronco dos pacientes podem ser induzidas a gerar neurônios. Baseado na pesquisa, ele acredita que será possível desenvolver terapias de origem molecular, que combatam os danos surgidos ao longo do desenvolvimento do cérebro. “Se começarmos logo essa abordagem, por volta de 2030 nossos objetivos vão incluir a prevenção e a cura da esquizofrenia”, garante.
O médico é autor de um artigo que estampa a capa da revista especializada Nature desta semana, que se propõe a ‘repensar’ a esquizofrenia, de forma que, daqui a 20 anos, os tratamentos oferecidos realmente ajudem a mudar a realidade dos pacientes. "Entender a doença sob uma nova abordagem pode não somente melhorar os tratamentos, como significar uma possibilidade de cura no futuro", disse Insel ao Estado de Minas. O psiquiatra segue uma linha amplamente difundida entre especialistas de que a esquizofrenia é um distúrbio de origem neurológica que, com o passar do tempo, agrava-se, levando os pacientes ao estágio psicótico.
Segundo Insel, a esquizofrenia é uma síndrome — uma coleção de sintomas de causa desconhecida e que pode ser caracterizada predominantemente pelas crises psicóticas dos pacientes. Na maior parte dos casos, os primeiros sinais aparecem entre o fim da adolescência e o início da idade adulta, quando a pessoa começa a sofrer de alucinações e paranoias. “Essas manifestações da doença mudaram muito pouco ao longo do último século. Cem anos atrás, tínhamos muitas instituições públicas para tratar doenças mentais sérias, tuberculose e hanseníase. Das três doenças, apenas os distúrbios mentais, especialmente a esquizofrenia, continuam sem alteração, tanto na prevalência quanto na invalidez que pode provocar”, critica o psiquiatra.
Estima-se que a patalogia atinja 1% da população mundial, sendo que menos de 14% dos pacientes conseguem se recuperar nos primeiros cinco anos depois de um episódio psicótico. A dificuldade de se encontrar um tratamento consistente reflete na falta de qualidade de vida de quem sofre do mal. Na Europa, menos de 20% de pessoas com esquizofrenia estão empregadas, e um estudo realizado nos Estados Unidos descobriu que esse é o percentual de doentes que se tornam sem-teto depois da primeira crise. “Apesar de muitos terem atribuído a falta de progresso aos sistemas de saúde falidos, a verdade é que ainda não temos um entendimento básico da psicopatologia do distúrbio; daí a falta de ferramentas para desenvolvermos um tratamento curativo ou preventivo”, reconhece Insel.
Química O psiquiatra explica que, quando Eugen Bleuler cunhou o termo esquizofrenia, ele acreditava que se tratava de um distúrbio do pensamento e do sentimento. Segundo Thomas Insel, durante boa parte do século 20, predominaram as teorias que estudavam a mente, mas desprezavam o cérebro. “A esquizofrenia era vista como uma reação psicótica, um ego fragmentado devido a uma rejeição materna”, exemplifica.
Cinquenta anos depois, o pêndulo balançou para outra direção: “Um foco no desequilíbrio químico do cérebro”, diz. “A esquizofrenia passou a ser considerada um distúrbio de dopamina, baseado nos efeitos indutores de psicose causados por drogas que liberam dopamina no cérebro, como a anfetamina. E também devido à eficácia antipsicótica de uma quantidade de drogas que bloqueiam o receptor D2 da dopamina”, acresenta. Porém, apesar de reconhecer que medicamentos que seguiam essa linha trouxeram alguns benefícios aos pacientes, Insel sustenta que elas não ajudaram na recuperação funcional dos pacientes. Segundo ele, os tratamentos ficaram muito focados nos remédios, deixando de lado o entendimento da doença.
Para o especialista, só será possível mapear a psicopatologia da esquizofrenia a partir do reconhecimento de que essa é uma doença neurodesenvolvimental, abordagem proposta pela primeira vez há 20 anos. “A psicose quase sempre emerge no fim da adolescência ou no início da idade adulta, com um pico entre os 18 e os 25 anos, quando o córtex pré-frontal ainda está em desenvolvimento”, diz. Por isso, para o psiquiatra, esse pode ser o momento em que falhas no desenvolvimento do cérebro levam à esquizofrenia. Como exemplo, ele cita o fato de que desnutrição materna, infecções durante o segundo trimestre de gestação, danos durante o parto e exposição a alguns tipos de substâncias químicas — fatores que já se sabe serem um risco para o cérebro — estão intimamente ligados à patologia.
O psiquiatra propõe o estudo dos genes para o mapeamento da doença. “A partir de células-tronco pluripotentes derivadas do fibroblasto (célula que compõe o tecido conjuntivo) de pacientes de esquizofrenia, poderemos ser capazes de avaliar diferentes tipos de células neurais, incluindo seu desenvolvimento, suas conexões funcionais e suas respostas às perturbações”, acrescenta. Como podem se transformar em qualquer tipo de estrutura, as células-tronco dos pacientes podem ser induzidas a gerar neurônios. Baseado na pesquisa, ele acredita que será possível desenvolver terapias de origem molecular, que combatam os danos surgidos ao longo do desenvolvimento do cérebro. “Se começarmos logo essa abordagem, por volta de 2030 nossos objetivos vão incluir a prevenção e a cura da esquizofrenia”, garante.
Um esquisofrênico pode casar e constituir família?
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