Primeiro, o crime. Um bando de marginais armados andou pelas ruas do Rio a fazer arrastões e a queimar veículos. Em seguida, com certo atraso, a polícia e, logo depois, a Marinha, o Exército, a Aeronáutica, a Polícia Federal e uma multidão de repórteres e comentaristas. Marcaram encontro nas bocas de entrada das favelas do Complexo do Alemão.
A cidade e, talvez, o país todo, passou o sábado a aguardar um banho de sangue. Não houve. Para evitar que houvesse, o aparato policial marcou hora para subir. Na hora marcada e até com um certo atraso, subiu.
Houve prisões e apreensões de armas e toneladas de drogas. O Estado venceu!
Venceu?
Não acredito. Não pode haver vitória do Estado, quando a sociedade que ele representa não vence.
Por que uma multidão de crianças e adolescentes sem estudos e sem família, no coração de uma das mais importantes e maiores cidades do Brasil e, entre todas, indiscutivelmente, a mais bela e mais conhecida no mundo inteiro, tem acesso livre, farto e fácil a armas de todo tipo, até mesmo às mais modernas e mais pesadas?
De quem essa multidão de pobres compra as armas que usa? Como ela consegue o dinheiro para pagá-las? Quem as entrega? Com quem fica todo o dinheiro que é pago pelas armas? Que outros negócios esse dinheiro financia? Como esse dinheiro é transformado em dinheiro lícito e por onde ele circula?
Quem financia as drogas que financiam as armas? Quem as fornece? Como elas chegam aos morros? Como são entregues? Onde moram os que as consomem? O dinheiro que ela rende só compra armas?
Por que um grupo de policiais, aos olhos de todos os outros policiais e de seus comandantes, se transforma num grupo de bandidos?
Enquanto não houver resposta para estas e outras perguntas, as vitórias sobre o crime serão somente vitórias das polícias e do demagogo de plantão, nunca da sociedade.
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