E agora pra onde que eu pulo? |
Eleito para o primeiro mandato em 2002, reeleito em 2006, o presidente Lula sabia desde então que em 1º de janeiro de 2011 passaria a faixa presidencial a seu sucessor, fosse quem fosse. Até porque pensar num terceiro mandato era (e é) inadmissível, se bem que ele pensou nessa possibilidade. Soa, portanto, no mínimo estranha uma frase dita por ele a menos de um mês de “largar o osso”. “Tenho que me mancar, ou seja, eu já fui presidente. Agora é a vez dela (Dilma) ser presidente e eu vou ter que ficar um pouco de fora para depois começar a pensar o que vou fazer”, afirmou durante entrevista a rádios comunitárias.
Lula precisa entender que o poder é efêmero, mas o trabalho de um político não. Amadurecer a ideia da criação do Instituto Lula, para levar as experiências bem-sucedidas do Brasil a países mais pobres que o nosso, conforme ele mesmo tem anunciado, já é um bom plano. Os frutos do passado com certeza serão colhidos, mas o futuro está aí para ser planejado. Embora tenha desempenhado um papel importante na vitória de sua ex-ministra, Lula deve saber que o caminho a ser percorrido por ele e Dilma a partir do dia 1º é distinto. Cada qual com seus respectivos objetivos. Portanto, pula fora - chega!
E ela tem mostrado que os seus estão muito bem definidos. “Não vou repetir o governo dele porque a situação do país hoje é muito melhor do que em 2002. Meus desafios serão outros”, disse a presidente eleita ao jornal americano The Washington Post, em entrevista considerada seu “grito de independência”. Como diriam os antigos, Dilma colocou as manguinhas de fora (ou seria melhor arregaçou as mangas?) e tomou as rédeas do poder mais rápido do que se esperava. Aos poucos está fazendo o que fez com Brizola, ou seja, puxarndo o tapete do falecido.
Deixou clara sua posição contrária à abstenção do Brasil na votação da Organização das Nações Unidas (ONU), que questionou o Irã por violação de direitos humanos. Na formação do ministério, tem ouvido, sim, o presidente Lula e sofre forte influência dele e dos aliados, especialmente na escolha dos “ministros da casa”, mas ficou na linha de frente, a mando de Lula, ao pôr em banho-maria um voraz PMDB, que queria porque queria mais espaço no primeiro escalão. O partido, com as confirmações até o momento, perde prestígio no novo governo - nesse caso é o PT quem está puchando o tapete do PMDB. Por tabela, Dilma deu a seu vice, Michel Temer, presidente da legenda, o cargo de bombeiro, para acalmar os ânimos dos insatisfeitos, coisa que ela não sabe fazer em função da arrogância!
Na nota em que confirma mais 10 nomes para o ministério, a mesma que soltou no anúncio da equipe econômica, Dilma não sugere nem pede. Determina. “A presidente eleita determinou a seus novos auxiliares que trabalhem de forma integrada com os demais setores do governo para dar cumprimento a seu programa de desenvolvimento com distribuição de renda e estabilidade econômica, assegurando a melhoria de vida de todos os brasileiros”, diz o comunicado. Bem ao seu estilo.
Na economia, a presidente eleita também tem honrado a promessa de continuidade feita à exaustão durante a campanha eleitoral. Tranquiliza o mercado ao assumir, na entrevista ao Post, o compromisso com a manutenção do atual tripé macroeconômico: equilíbrio fiscal, câmbio flutuante e sistema de metas de inflação. E vai mais longe: convergência dos juros para níveis globais, racionalização do sistema tributário e aumento da poupança. Mesmo as últimas medidas anunciadas pelo Banco Central para conter o crédito e retirar R$ 61 bilhões dos bancos para frear a economia cheiram a política econômica do futuro governo, uma vez que o resultado disso será percebido efetivamente só no ano que vem, com a autoridade monetária sob o novo comando.
Todas as negociações e decisões têm como cenário a Granja do Torto, moradia da presidente eleita durante o período de transição, onde o entra e sai de gente importante deixa tontos os jornalistas que lá fazem plantão. Sinal de que a fofoca não para.
Portanto, presidente Lula, com todo respeito que sua história lhe confere – e também os 20 milhões que no seu governo saíram da miséria –, se manca… Desencarna da Presidência, como o senhor mesmo diz. E, num plágio do jingle do segundo turno da sua campanha em 2006, “deixa a mulher trabalhar”.
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