Nossas elites, nem sempre fazem parte do problema... desde que elas deêm a última palavra. |
Com o fim do governo Lula, se encerra também a participação no governo do vice, José Alencar. Não pôde ir à posse do novo governo. Queria e teria ido, se os médicos não o tivessem proibido. Dilma lembrou-se dele em seu discurso. Citou a sua luta contra a doença como exemplo de amor à vida.
O sucesso do governo Lula é também obra do milionário empresário José Alencar, escolhido para compor a chapa de Lula justamente como símbolo da aliança do PT com o capitalismo. Além é claro de outros ricaços que compuseram o ministério de Lula como Furlan (dono da Sadia), Mares Guia (dono de escolas e universidades), Meirelles e por aí vai. Tratava-se de dar sinal claro e inequívoco de que o PT não era mais aquele dos primeiros tempos que dizia que os ricos da direita não prestavam. Qualquer analista diria que já o sabia. Mas certas coisas para o grande público só ficam evidentes com sinais explícitos. A presença de José Alenacar na chapa era sinal de que o projeto que ali começava não representaria perigo para empresários grandes. Entrou para garantir aos ricos, banqueiros, multinacionais que todos iam ganhar muito dinheiro. E o pobre iria se lambuzar com o "cala boca" bolsa família... De fato os bancos nunca ganharam tanto. Os remédios nunca subiram tanto. Os planos de saúde fizeram o povo ficar doente, etc e tal...
Alencar encerrou o ciclo de oito anos de governo ao lado do companheiro Lula. “Mais do que um irmão”, foi uma entre as várias definições usadas pelo petista para referir-se ao seu vice. Ao longo dos oito anos, ele assumiu interinamente a Presidência da República por 504 dias. Assinou nesse período 2139 atos.
Empresários necessitam da política. Fazem política, mas a maioria não gosta de por a cara nela. Para grandes empresários, certas escolhas políticas podem representar golpes financeiros terríveis. O crédito governamental pode escassear. A fiscalização tributária pode aumentar. E, em casos de empresas em que o governo é o principal consumidor, a escolha errada pode significar o fim das vitórias em licitações. Um pequeno exemplo: hotéis cinco estrelas aqui no Rio estão sem pagar suas contas de água há 10, 15 anos... Imagine se o governo resolver cobrar?
Empresários normalmente participam "contribuindo", na hora da campanha e assim se safam das cobranças. Outra vantagem para Lula em ter José de Alencar em seu governo foi que muito antes de Lula se projetar, ele já estava na oposição a Fernando Henrique Cardoso. Fez campanha ao Senado em 1998 ao lado de Itamar. Eleito, foi voz dissonante ao então governo federal tucano. Desde essa época, pregou contra a taxa de juros que tanto afetava os investimentos e a geração de empregos, mesmo tendo milhares de empregados em sua folha de pagamento como, por exemplo, na COTEMINAS. Filiado ao PP, é amigo pessoal dos bispos Marcelo Crivella e Edir Macedo, que inclusive, estavam na posse de Dilma ao contrário dos Marinhos que não apareceram.
Com ele, Lula teve as portas abertas para um diálogo com os patrões que Lula sempre bateu, mas acabou tendo que arriar as calças. No governo Alencar botava a boca no trombone, e ninguém dava um piu. Foi o primeiro a criticar a taxa de juros ainda alta no primeiro mandato. Enquanto Antonio Palocci defendia a ideia de manter o transatlântico nesse rumo, Alencar pedia mudanças de trajeto.
O governo Lula mudou e o país mudou junto. Alencar é um homem de ponderação, mas sabe travar as suas batalhas. Foi voz dissonante pela rota do crescimento muito antes de o governo dela se convencer. Lula jamais o desautorizou em público durante a sua pregação contra os juros altos. Provavelmente deve-se a ele boa parte da forte presença mineira no governo passado.
Sem ele no governo quem perde é, principalmente, Minas. Alencar é generoso no apoio. Que os governistas o tomem como exemplo. Mas o maior exemplo que deixa na política é justamente aquilo que contraria uma fala recorrente do ex-presidente do qual foi vice. Nossas elites, nem sempre fazem parte do problema... desde que eles deêm a última palavra.
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