A língua inglesa tem prodigalizado o surgimento de neologismos que são "estranhas e maravilhosas palavras", como Paul Hellweg, há um quarto de século, discorrera num livro que porta as palavras em relevo (Weird and Wonderful Words, David & Charles, Londres, 1986). Nessa obra, o autor – notívago e insone – conseguiu a proeza de reunir três mil palavras estranhas quão intrigantes.
Os logo maníacos, de pronto, compulsando o escrito de Hellweg, já se deparam com a forte influência do significado dessa valiosa obra, dentre muitos, que a palavra de origem grega (logos) proporciona às modernas palavras. Mesmo assim, ampliando a geratriz de neologismos, muitos deles dão nascimento a palavras de interesse geral e, secundariamente, outros tantos abarcam termos mais especializados (medicina, psicologia, esoterismo).
Da mesma maneira como declinou mais de cem tipos de palavras, cada uma com significado singular, por exemplo, tipo de governo (por número; pelo bem, mal e ridículo; pelos tipos de religiões; pelos que levam em conta a riqueza ou a classe; pelo sexo; pela idade e por formas de governo com os sufixos "arqui" e "ocracia", a saber, etnarquia e teatrocracia), ele garimpou um número apreciável de palavras compostas para tipos de atividade, profissão, conhecimento, etc..
Anterior à Internet, o livro focado não pressagiou que a omnisciência dela é uma das mais significativas e transformadoras ferramentas do mundo atual. Se o Google é um veículo de pesquisa relevante, a Wikipédia, enciclopédia online, passou a ser, neste decênio de seu surgimento a amálgama da pesquisa (Google) com a apresentação, em formato próprio, a sua razão de ser: enciclopédia que se renova tanto quanto a Hidra da mitologia grega. Seu sucesso é garantido por quatrocentos milhões de visitantes cada mês. Trabalho voluntário e solidário de cada interessado leva a espanto saber-se que a Wikipédia tem milhões de voluntários que buscam trabalhar online para produzir um bem de valor agregado, sem mesmo conhecer as suas técnicas operacionais: ao conhecer como se empregam as crowdsourcing, tudo leva a nela operar, e basta.
Se a Wikipédia, como apontou "The Economist" (13/1/11, p. 14), transpira preocupações e releva cuidados, por divulgar notícias imprecisas, por não ser financeiramente autossustentável e por ter perdido seu "último toque" mágico de estar aberta ao público sem pêias, precisando se redescobrir ou se autopurgar, como cotejá-la com o WikiLeaks?
O mundo tecnológico está sacudindo o real com a Internet e seus variáveis aplicativos, repetimos, provocando o incitamento de vários povos de língua árabe a repensarem, a se mostrarem insatisfeitos com seus governos autocráticos, pentárquicos, oligárquicos, snobscráticos, estratoscráticos, corruptos até a medula. Mas isso é o início, porque faltam as reações dos africanos e dos asiáticos.
Por que não a China também?
Concordo com a aguda observação de Slavoj Žižek, o extrovertido pensador marxista, ao apreciar o livro de Richard McGregor, "O Partido: O mundo secreto dos dirigentes Comunistas Chineses" (London Review of Books, vol. 32, nº 20-21, outubro de 2010), quando opinou:
"Mas a China não é Cingapura (nem, aliás, é Cingapura): não é um país estável, com um regime autoritário que garanta a harmonia e mantenha o capitalismo sob controle. A cada ano, milhares de rebeliões por parte dos trabalhadores, agricultores e as minorias têm de ser contidas pela polícia e o exército. Não é de se admirar que a propaganda oficial insista obsessivamente sobre a noção de sociedade harmoniosa (...). A China mal está sob controle. Ela ameaça explodir."
O povo mudou. Esse processo é irreversível.
*Jayme Vita Roso
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