Em um pronunciamento feito à nação estadunidense durante seu mandato (1989/1993), George W. Bush, o pai, ameaça sem rodeios os usuários de drogas daquele país. “Usar drogas é contra a lei. E, quando você for pego, será punido. Alguns acham que não haverá espaço nas cadeias. Criaremos espaço.” De lá para cá, muitas coisas mudaram não só nos Estados Unidos, mas no resto do mundo. Algumas evoluíram, outras continuam do mesmo jeito. Nessa última categoria está incluída a política de enfrentamento da questão das drogas na maioria dos países da América, quase sempre centrada exclusivamente na criminalização do usuário e na repressão ao tráfico. Apesar de ser amplamente adotada como principal ferramenta para conter o uso de substâncias ilegais, ela é hoje um fracasso.
O consumo de drogas continua crescendo e não há governo no mundo que dê conta de criar presídios para abrigar tantos usuários. Até porque junto com o aumento do uso de drogas de toda sorte, veio também o crescimento da violência e do tráfico de armas. De nada adiantou a voz grave e ar circunspecto de Bush pai em sua vã ameaça. Os Estados Unidos é hoje o país com o maior número de pessoas presas por algum tipo de crime ligado a drogas, de consumo a tráfico.
Esse depoimento do ex-presidente George Bush abre o documentário Quebrando tabu, que trata da falência da política proibicionista de combate às drogas, e que tem como âncora o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Perto de completar 80 anos, FHC assumiu publicamente a defesa no Brasil da descriminalização do consumo de drogas e da regulamentação do uso da maconha, como forma de diminuir o poder de fogos dos traficantes. Um debate longo e polêmico que envolve tema controverso em todo o mundo, inclusive no Brasil. Mas inevitável e, mais ainda, inadiável.
A Comissão Global de Políticas sobre Drogas, entidade não governamental ligada à Organização das Nações Unidas, divulgou na semana passada o relatório “Drogas e democracia: Rumo a uma mudança de paradigma”, que defende um novo modelo de enfrentamento do problema na América Latina. Assinado por Fernando Henrique e também pelos ex-presidentes da Colômbia César Graviria e do México Ernesto Zedilio, o documento afirma que a guerra global contra as drogas falhou e que é preciso “romper o tabu” e reconhecer os fracassos das políticas vigentes e suas consequências negativas. “Precondição para a discussão de um novo paradigma de políticas mais seguras, eficientes e humanas”, afirma o documento, que contou também com a colaboração dos escritores Mario Vargas Llosa (peruano), prêmio Nobel de Literatura, e do brasileiro Paulo Coelho, defensores da legalização do consumo e de campanhas sem rodeios sobre o assunto para desincentivar o consumo.
E alerta: estamos cada vez mais distantes da erradicação das drogas. Problema grave, principalmente para a América Latina, que continua sendo o principal exportador mundial de cocaína e maconha, e assiste a cada ano o aumento da produção de ópio e heroína.
Além de romper o silêncio e propor um debate claro sobre o assunto o documento traz propostas concretas, entre elas tratar os usuários como pacientes do sistema de saúde, descriminalizar o uso da maconha para consumo pessoal, adotar campanhas inovadoras de alerta contra os riscos do uso de todo tipo de droga, tendo como foco depoimento de ex-dependentes. Defende também o desenvolvimento de estratégias regionais e globais para combater os efeitos do tráfico (lavagem de dinheiro, crime organizado, tráfico de armas) e reforçar o controle nas fronteiras.
Descriminalizar!
ResponderExcluirA descriminalização substancial no caso do consumo de drogas retira do ato o seu caráter criminoso, legalizando-o totalmente.
ResponderExcluirDescriminalizar é o mais prudente hoje. Concordo cegamente com o Rodrigo.
ResponderExcluirO enfrentamento direto da questão,sem rodeios e admitindo que o sistema atual falhou!A discriminalizacão como forma de diminuir o poder do trafico!Oxalá os governos realmente adotem medidas mais efetivas,Eduardo!Gostaria de ver uma luz no final deste tunel!
ResponderExcluirPor todos os argumentos apresentados, minha conclusão é descriminalizar nunca.
ResponderExcluirDescriminalizar nunca o que? Aí falta argumento ...
ResponderExcluirO sistema falhou em prender a bandidagem do colarinho branco, logo vamos descriminalizar. E assim vamos "desconstruindo" um sistema falho para construir outro pior ainda!
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