BNDES, a serviço de quem ?
A criação do BNDES, fundado no segundo governo Vargas em 1952, é símbolo da crença do país nas suas possibilidades de industrialização. Seria propulsor de crédito para criação e desenvolvimento de setores econômicos, sobretudo os nascentes e essenciais para o país. O BNDES atenderia aos interesses verdadeiramente republicanos no que tange ao desenvolvimento econômico brasileiro.
Não foram poucas as fases em que o banco virou um "balcão de negócios" a serviço de transações pautadas na ausência de transparência e em interesses mesquinhos de empresários. Todavia, sua filosofia sempre foi a referência para que não se caísse na mesquinhez desprovida de uma visão verdadeiramente nacional. Conforme consta de sua apresentação "(...) o BNDES reforça o compromisso histórico com o desenvolvimento de toda a sociedade brasileira, em alinhamento com os desafios mais urgentes da dinâmica social e econômica contemporânea."
BNDES, a serviço de quem ? Diz ainda a apresentação do Banco que "o BNDES investe em empreendimentos de organizações e pessoas físicas segundo critérios que priorizam o desenvolvimento com inclusão social, criação de emprego e renda e geração de divisas". O BNDES não é obviamente uma ilha em meio à administração pública. Obedece aos programas e aos interesses do governo de plantão. É o que ocorre com a atual gestão. Note-se que está inserido num contexto no qual não existe de fato nenhuma política consistente que faça o país superar a sua condição eterna de emergente. A taxa de câmbio se valoriza por força de uma política monetária sem nenhuma evolução relevante nos últimos anos - temos a maior taxa de juros do mundo -, não há agregação de tecnologia suficiente nos produtos industriais, não há nenhuma mudança crucial no campo do desenvolvimento, o déficit externo se acumula numa velocidade impressionante... e assim vai. Uma olhadinha nas políticas da China e da Índia dão a noção exata de que estamos ficando para trás. E daí ? Perguntamos ao governo e ao BNDES.
BNDES, a serviço de quem ? O anúncio da possibilidade de o BNDES apoiar a fusão do Pão de Açúcar e o Carrefour chega a ser um atentado ao bom senso, não fosse um bofetão no conceito de interesse público. O governo, por meio de sua instituição mais importante e poderosa no que tange ao desenvolvimento nacional, apóia uma fusão que concentra o mercado varejista nas principais áreas econômicas do país, que agrega valor aos acionistas em detrimento da renda do cidadão, que não agrega nada em termos de competitividade externa, que não favorece as classes mais pobres da nação... e assim vai. Enfim, uma operação que apenas serve aos poderosos acionistas de ambas as empresas. De um lado, um empresário desejoso de "emparedar" o seu atual sócio francês, o Casino, e de outro uma empresa com sérios problemas societários na França e no mundo. É disso que se trata e nada mais. O resto fica por conta de análises tendenciosas e maliciosas que pretendem dar credibilidade a esta operação.
Assim sendo...
O caso Pão de Açúcar/Carrefour/Casino, resulte no que venha a resultar exige providências com urgência urgentíssima :
1. Reavaliar, reestudar a política do BNDES, que, no fundo, é a nova política de capitalismo estatal brasileiro. O banco de investimento já produz carne, já vende celular, já está nos plásticos.
2. Revisar toda a política brasileira de concorrência e o papel de órgãos com o CADE, a SAE e a SDE. Há um projeto sobre isto tramitando no Congresso que, além de estar andando no "ritmo do Congresso", é considerado insatisfatório em alguns pontos e, até mesmo, perigoso pelos especialistas.3. Tornar o consumidor, o cidadão, o verdadeiro foco as políticas públicas nacionais.
Por fim, não nos esqueçamos que é o dinheiro do distinto trabalhador que está a financiar este capitalismo duvidoso.
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