Depois de comemorar a tecnologia nacional dos motores flex, que permite alternar automaticamente o uso da gasolina com o etanol da cana, o consumidor brasileiro vive a inédita situação de, em plena safra do biocombustível, não apenas não contar com ele a preço competitivo com o derivado de petróleo, como a de não ter a menor ideia se valeu a pena, a esta altura, ter pago mais caro pelo carro bicombustível. A absoluta falta de planejamento por parte do governo, que se tem preocupado apenas em dosar a mistura do álcool com a gasolina na ilusão de que, com isso, pode controlar a oferta e os preços, acabou desaguando num beco sem saída a curto prazo. Um verdadeiro fiasco, medido pelo desequilíbrio entre o espetacular crescimento da frota de veículos nas ruas e a óbvia expansão da demanda por etanol, já que a maioria dos carros novos é equipada com motores flex. Sem sinais confiáveis de que podia investir no aumento da produção do etanol, o setor sucroalcooleiro ficou onde estava, enquanto a frota crescia e o açúcar subia de preço no mercado mundial de commodities agrícolas.
E, como todo produto do campo, as safras são sujeitas ao tempo, variando de ano para ano. Depois de um quase apagão de etanol no ano passado, o que obrigou o país a importar o biocomustível dos Estados Unidos, a situação tende a se agravar este ano, pois a safra atual é uma decepção. A estiagem em regiões produtoras e a idade avançada de boa parte dos canaviais está produzindo uma queda de 35 milhões de toneladas na safra 2011/2012 do Centro-Sul do país. As últimas projeções do setor são de moagem de 533,50 milhões de toneladas, das quais 46,94% serão destinadas à produção de açúcar, pequeno aumento em relação aos 45,56% do ano passado. A maior parte da safra, portanto (53,06%), será destinada à produção de etanol. Ainda assim, em razão da queda safra de cana, a produção de etanol será ainda menor do que a de 2010, quando os preços ao consumidor ultrapassaram os 70% do da gasolina.
A queda prevista na produção de etanol é nada menos do que 11,61% em relação aos 25,38 bilhões de litros do ano passado. Dos 22,54 bilhões de litros que sairão do campo este ano, 13,99 bilhões vão para as bombas de etanol hidratado e os restantes 8,55 bilhões vão para mistura da gasolina na forma de álcool anidro hidratado. É com esse volume da mistura que o governo conta para tentar segurar os preços, além de manter alguma importação de etanol. Na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, profundo conhecedor da matéria desde criancinha, voltou a admitir que a mistura do álcool na gasolina será mesmo alterada, mas não definiu quando. É o retrato da imprevidência e da perda de uma oportunidade de ouro de o país se consolidar como grande fornecedor de combustível limpo e de fonte renovável: até o Congresso norte-americano já se rendeu e está disposto a derrubar as barreiras ao etanol de cana brasileiro. Mas especialistas garantem que os preços vão continuar em alta, pois mesmo que o país se organize, volte a agir com planejamento e persistência, investimentos que forem decididos agora na formação de canaviais e na implantação de novas usinas não estarão produzindo antes de 2014. Poderá ser tarde demais para quem pretendeu liderar esse mercado no mundo.
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