O culto incessante à beleza associada à juventude é uma constante em nossa cultura. Esconder as marcas físicas do tempo como as rugas e cabelos brancos é a regra número um. Os que podem prosseguem adotando intervenções cirúrgicas que, levadas ao limite, ocultam rugas e marcas do tempo chegando a criar expressões faciais como o de um peixe de aquário. Dizer a um idoso que seu espírito é jovem tornou-se elogio que serve de alento aos que inelutavelmente são velhos. Em suma, no Brasil a velhice é tida como um mal contra o qual devemos lutar ou fugir a qualquer custo.
Entre as oito nações indígenas – xacriabá, kaxixó, xucuru-kariri, pataxó, krenak, maxakali, aranã e pankarar – espalhadas Brasil afora, ou até mesmo na China, predomina outra concepção de velhice e dispensa-se outro tratamento aos velhos. O ancião geralmente é visto como o guardião da sabedoria dos ancestrais, grande conhecedor das regras de convivência do grupo, experiente e capaz de lidar com as adversidades e, por isso, um conselheiro nato nas situações delicadas. Assim, admirar e respeitar os mais velhos não é um sinal de compaixão e, sim, um ato de inteligência.
Nascido em 15 de dezembro de 1907, o arquiteto carioca Oscar Niemeyer é um dos nomes mais influentes na arquitetura moderna internacional. Seu pioneirismo na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado está, por exemplo, ligado a minha terrra Belo Horizonte pelo complexo arquitetônico da lagoa da Pampulha ou de seus projetos em Brasília, também encomendados por Juscelino Kubitschek. Quando a Igrejinha de São Francisco, às margem da Lagoa da Pampulha, foi inaugurada, em 1943, a proposta de Niemeyer causou espanto e admiração. Abandonando as tradicionais lajes sobre pilotis, ele optou por uma abóboda parabólica em concreto armado, que encantou leigos, artistas e seus colegas de profissão. Entretanto, a obra não agradou às autoridades católicas. O arcebispo de então, dom Antônio dos Santos Cabral, burro de carteirinha, associava o prédio a um galpão e não a uma capela que só foi reconhecida oficialmente 14 anos mais tarde. O pior é que o "tal" Dom Cabral virou nome de bairro nobre e até da famosa Fundação "Dom Cabral" em Beagá. Niemeyer, ano passado, assinou projeto da Cidade Administrativa de Minas Gerais, sede do governo mineiro, inciciativa de Aécio Neves (que custou zilhões aos cofres públicos!) que tem o maior prédio suspenso do mundo, com vão livre de 147 metros de comprimento e 26 metros de largura. Aliás, não foi a última grande obra do arquiteto em Minas. Com seus 103 anos, assina também o ousado projeto da Catedral de Belo Horizonte.
Há quase 70 anos, dom Cabral entendeu como abominável a proposta de Niemeyer, materializada na Igrejinha São Francisco, às margens da Lagoa da Pampulha. Agora, o atual arcebispo dom Walmor Oliveira, cobra criada, foi pessoalmente ao Rio de Janeiro encomendar do arquiteto o projeto. Nem mesmo a Igreja Católica, com todo o peso de sua tradição milenar, deixou de se curvar ao talento do arquiteto. A Catedral Cristo Rei será a maior construção católica da Capital mineira, capaz de receber até 20 mil pessoas em eventos especiais. Niemeyer nos passa que a velhice não é inimiga da competência, da ousadia e da criatividade. Aos velhos, respeito; não compaixão.
Sobre o Dom Cabral? ele foi Arcebispo, se tivesse talento seria Arquiteto, E Neimeyer, se não fosse arquiteto, teria sido, talvez, escritor? Ops, ele é escritor. Talento podemos chamar de Dom, não de Dom Cabral, sabedoria se adquire, é vivênciada.
ResponderExcluirA juventude me foi emprestada! Mas a velhecide me pertence.