Era mais uma quinta-feira de trânsito caótico nas vias próximas à Esplanada dos Ministérios, dia em que as autoridades se apressam para deixar Brasília rumo a seus estados de origem. Às 18h30 de 7 de outubro de 2010, o motorista do carro oficial da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República fez um “gato”, nas proximidades do Ministério do Trabalho, para encurtar o percurso e fugir do congestionamento. Trafegando na contramão, o veículo que transportava a então ministra Nilcéia Freire bateu na moto de Ricardo Alexandre Monteiro, 25 anos, causando dupla fratura de fêmur do piloto e a morte de sua noiva, Fabíola Reis Carigé, na época com 19 anos, que estava na garupa. Depois do acidente, o motorista foi cedido para o Ministério da Agricultura, sem sofrer qualquer tipo de punição. A fatalidade é o extremo de uma situação corriqueira no coração do poder: o império da impunidade no trânsito quando as infrações são cometidas por veículos oficiais.
A cultura dos privilégios concede aos carros oficiais o que os especialistas chamam de “consignação de prioridade”, condição não formalmente prevista na legislação, mas consolidada na experiência do dia a dia. Há dois anos, os veículos enquadrados nessa categoria nem sequer recebiam multas de trânsito quando flagrados em situação irregular. Dados da execução financeira dos três poderes mostram que o montante pago em multas cresceu 90% de 2010 para este ano, depois da formalização do sistema que vincula as placas oficiais ao número do Renavam dos carros, para penalizar os motoristas infratores. Em 2011, a União desembolsou R$ 2,59 milhões em multas, relativas a veículos oficiais e de serviço em todo o país.
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