Os números do Estudo Global sobre Homicídios – levantados em 207 países e divulgados há dois dias pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (Unodc) – situam o Brasil no desconfortável 26º lugar do ranking mundial e revelam preocupação com o ritmo crescente da violência em três cidades: Rio de Janeiro, Salvador e Brasília. Será que a culpa é da Grécia? De acordo com o relatório, quando inserido no contexto da América Latina, o país dá considerável salto para a quinta posição do ranking dos assassinatos e galga mais uns degraus na escala sombria da criminalidade – se analisado em comparação com países da América do Sul. Nesse caso, o Brasil ficou atrás apenas da Venezuela (49 homicídios por 100 mil habitantes) e da Colômbia (33,4 casos por 100 mil).
Dados do documento já tinham sido antecipados na quinta-feira, mostrando que, em 2004, a taxa brasileira de homicídios para cada 100 mil habitantes era de 22,5, subindo para 22,7 em 2009. A média mundial é de 6,9. A contagem da ONU é baseada em informações do Ministério da Justiça e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). No entanto, o número nacional – 22,7 mortes para cada 100 mil habitantes – estaria subestimado se fossem levados em conta apenas os óbitos registrados pelo Ministério da Saúde, principal fonte do governo brasileiro. A taxa de assassinatos passaria a situar-se, no período de 1998 a 2008, em 30 homicídios para cada 100 mil habitantes.
A arquitetura dos dados publicados pelo Unodc foi erguida a partir da análise de quatro fatores preponderantes: a crise econômica mundial, o tráfico de drogas, o crime organizado e a população juvenil. Sobressai-se ainda como fator motivador da tragédia brasileira e latino-americana a imensa quantidade de armas de fogo no continente (responsáveis por 74% dos homicídios). As conclusões que podem ser projetadas diante desse cenário são de descompasso entre o crescimento econômico e a reforma social, tomando-se o país como exemplo no seleto grupo das nações emergentes.
Tem-se a impressão de que o Brasil vive uma guerra de Pirro – fortalece a economia, gera empregos e renda, mas patina no combate à criminalidade. Há, por certo, até exemplos positivos, embora isolados, como o de São Paulo, estado que vem conseguindo baixar o número de mortes violentas. De fato, a taxa paulista de assassinatos caiu 70% entre 1999 (52,58/100 mil) e 2010 (10,6/100 mil). Mas, no geral, é sintomático que a polícia brasileira seja das que mais matam no mundo — só a do Rio teria provocado mais de 500 mortes em atos de resistência no ano passado. Trata-se de distorção grave, um paradoxo (a função policial é reduzir a violência) a ser enfrentado com rigor, sem a menor sombra de corporativismo. Também é inegável que o país enfrenta verdadeira epidemia de crack, um gatilho armado sobre a cabeça da população. Faltam pontes entre a União e os estados para a construção de uma política de segurança pública consistente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário