É grave o que se passa na Bahia. A população de Salvador e das principais cidades baianas, que a esta altura de fevereiro viveria a alegria da preparação do carnaval, enfrentou ontem o sétimo dia de medo e apreensão. Os baianos e os milhares de turistas que visitam suas belas praias tornaram-se reféns de um bando de policiais que, a propósito de reivindicar melhores condições de trabalho – direito que a ninguém pode ser negado –, usam o poder que julgam ter de chantagear um governo democraticamente eleito. Desde terça-feira, quando lançaram um movimento grevista, policiais militares da Bahia adotaram postura de confrontação com a autoridade do governador Jacques Wagner (PT) e deixaram as ruas à mercê de bandidos. Já passa de 80 o número de homicídios e contam-se às centenas os assaltos e cenas de vandalismo. Nas praias da capital e do Sul do estado, banhistas são incomodados por arrastões. O comércio nessas áreas não tem podido funcionar normalmente e as escolas foram aconselhadas a adiar o início do ano letivo de ontem para depois de resolvido o conflito. Disposto a manter a confrontação, um grupo de policiais ocupou a Assembleia Legislativa, obrigando o presidente da Casa a solicitar formalmente o apoio de tropas do Exército, que cercaram o prédio desde as primeiras horas de ontem.
Em vários pontos da capital baiana, em vez da movimentação de trios elétricos, blindados do Exército e militares da Força Nacional deslocados nas últimas horas para a Bahia ocuparam as principais ruas e avenidas desde domingo. Um grupo de 40 homens da elite da Polícia Federal também desembarcou em Salvador, a mando do governo federal, com a missão de cumprir 11 mandados de prisão expedidos contra os líderes grevistas. No domingo, o governador ofereceu reajuste de 6,5% nos vencimentos de R$ 1,9 mil (soldados) e R$ 2,3 mil (cabos e sargentos), sem anistia para os que aderiram ao movimento (exceto os que estão com prisão decretada). A proposta foi recusada. A verdade é que todas essas providências dos governos estadual e federal vieram tarde. A greve dos policiais baianos não teria como se instalar nessas proporções se não tivesse sido preparada semanas atrás.
Além disso, há menos de um mês que policiais do Ceará fizeram igual paralisação e é de esperar que surjam movimentos semelhantes em outros estados. Há ainda um fato político que não pode ser desprezado: tramita no Congresso Nacional a PEC 300, uma emenda constitucional que propõe a equiparação do salário de todos os policiais do país com os do Distrito Federal (unidade federativa que, como se sabe, é mantida com recursos da União e que, portanto, desfruta de condição fiscal privilegiada em relação aos estados). Mas não foi só a falta de prevenção e a demora em agir do governo baiano que deixaram a população nessa situação de perigo. Rápidos para autoconcederem reajustes e benesses, ou para aprovarem emendas que rendem votos, deputados e senadores continuam devendo à cidadania a regulamentação da lei que regula movimentos reivindicatórios de funcionários públicos, em especial os das classes de Estado, como militares, diplomatas, fiscais e outros funcionários de setores essenciais ou que são armados pela sociedade. Ninguém quer enfrentar algo que pode lhe trazer desgaste. A sociedade, bem, a sociedade que se foda!
SR. EDUARDO,
ResponderExcluirgoverno eleito democraticamente ou eleito de qualquer jeito, com recursos, que nem Deus sabe de onde vêm. Eleito democrat... assim não!
Eu espero que os grevistas sejam civilmente acionados pelos familiares das vítimas de homicídios registrados no período e pelo setor turístico, tendo em vista as perdas verificadas, em termos de abandono e cancelamento de reservas. E sejam processados em números milionários.
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