Conhecimento de desvios
As projeções de cenários indicam que a
presidente Dilma será inserida na moldura de corresponsável pela situação
caótica da Petrobras. Se Graça Foster sabia do que ocorria na petroleira, por
ter sido comunicada pela gerente Venina, é evidente que, em conversas com a
presidente e amiga Dilma, daria a ela conhecimento dos fatos. A partir daí, a
presidente teria dado carta branca para Graça fazer assepsia completa. É o que
se deduz. Razoável é imaginar que o conhecimento, tanto por parte de Graça
quanto de Dilma, se refira a desvios, descaminhos, não propriamente a valores,
percentagens, distribuição de propinas a A, B ou C.
Impeachment ? Pouco provável
O conhecimento sobre ilícitos pode gerar ação
de impeachment da presidente ? As oposições, a depender do clima ambiental e
ante a possibilidade de surgirem novos fatos, poderão, até, ensaiar uma
solicitação de afastamento. Mas é pouco provável que esse recurso caminhe no
Congresso. O rolo compressor governista evitará essa possibilidade. É sabido que
as oposições também têm costados quebrados e, a qualquer hora, o escândalo do
mensalão mineiro poderá voltar à tona. E tomar conhecimento de algo escandaloso
e compactuar com ele são coisas diferentes. Este consultor não acredita na
hipótese de que barulho sobre cassação do mandato presidencial prospere.
A força das ruas
Há, ainda, a fortaleza das ruas. Dilma foi
eleita pela maioria do eleitorado. É possível que tenha perdido muitos votos das
eleições até hoje. Mas a força das ruas ainda lhe é francamente favorável,
significando muralhas e exércitos em sua defesa, comandados por Lula. Claro, o
PT perdeu, e muito, de sua capacidade de mobilizar as massas. O partido sofre a
maior crise de imagem de sua vida. Mas possui cacife para fazer mobilizações.
2015, aliás, será aberto sob a barulheira das ruas, com alas, setores, grupos,
movimentos da situação e da oposição procurando, cada qual, arregimentar bases e
demonstrar força.
Os políticos
Descartada a hipótese de impeachment da
presidente, a atenção se volta para a esfera política : como os políticos
reagirão ao envolvimento de seus nomes ? Se a lista for pequena e se as provas
forem contundentes, é razoável apostar na alternativa de abertura de processos
no âmbito das Comissões de Ética das duas Casas Congressuais. Coisa que deverá
tumultuar o ambiente político. Se a lista apontar um número alto - digamos em
torno de 50 - é razoável trabalhar com a hipótese de corporativismo, protelação
do debate, patinação no mesmo lugar. Se o STF condenar os implicados, o nó terá
de ser desfeito com a decisão das Mesas Diretoras de levar os processos a
plenário. O imbróglio se estabelecerá. Se as ruas reagirem contra o corpo
parlamentar, aí, sim, os representantes poderiam decidir cortar a própria carne.
Saneamento geral
Não se pode negar o efeito positivo que a crise
deverá provocar na teia institucional. É o caso de apontar para o maior controle
de máquinas e estruturas. O tão ambicionado lema "vamos passar o Brasil a limpo"
teria condições de ser, finalmente, adotado. Transparência seria o eixo da
gestão pública. Os painéis de investigação seriam mostrados nos organogramas de
obras, nos processos de licitação, enfim, nas agendas da administração pública.
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