Depois de surfar
alegremente a onda de preços altos das commodities no mercado
internacional nos anos anteriores ao início da crise financeira mundial
(setembro de 2008) – período em que o governo brasileiro não se furtou à
bravata de que tinha o que ensinar ao mundo em matéria de política
econômica –, o Brasil não para de gerar notícia ruim no setor externo.
Estudo
da Organização Mundial do Comércio (OMC) divulgado ontem revela que,
entre as 30 maiores economias do mundo, o Brasil foi o país que teve, em
2014, a maior retração nas exportações, com queda de 7%, enquanto a
média mundial foi de uma pequena expansão de 1%. Com isso, o Brasil
perdeu posições no ranking dos maiores exportadores.
Segundo a
OMC, o país, que ocupava o 22º lugar nesse ranking, fechou 2014 na 25ª
posição, à frente apenas de Tailândia, Suíça e Malásia, economias muito
menores do que a brasileira. A participação do Brasil no comércio
internacional, que nunca foi condizente com o tamanho e a potencialidade
de sua economia, ficou menor ainda, baixando de 1,3% para 1,2%.
E
a OMC não prevê melhora do desempenho brasileiro neste ano nem em 2016.
Há razões para esse pessimismo. A primeira delas é o passado recente.
Nos últimos dois anos, o Brasil se revelou incapaz de amenizar os
efeitos do fim do boom das commodities e da desvalorização do dólar,
provocada pela autoridade monetária norte-americana até o ano passado.
Ao
desastre nas transações correntes de 2013, quando contabilizou
preocupante déficit de US$ 81,1 bilhões, seguiu-se resultado ainda pior
em 2014: saldo negativo de US$ 90,9 bilhões, uma das marcas do último
ano do primeiro governo da presidente Dilma Rousseff. Esse déficit
equivale a 4,17% do Produto Interno Bruto (PIB), proporção amplamente
desaconselhável para uma economia como a brasileira. E, para agravar a
situação, trata-se de valor que deixou muito longe o ingresso de
investimentos estrangeiros diretos – US$ 62,4 bilhões –, o que ampliou o
tamanho do rombo no setor externo em 2014.
É hora de reconhecer
que pouco ou quase nada fizemos para depender menos das commodities,
sempre sujeitas a oscilações fora do controle do exportador. Tampouco se
pode continuar contando com as desvalorizações cambiais, igualmente
independentes das condições internas de cada país. Assim, é precário o
atual otimismo do governo quanto à possibilidade de superávit comercial
este ano.
É provável que ele ocorra, mas, além de ser muito menor
do que os rombos de 2013 e 2014, será bancado mais pelo câmbio e pela
parcial recuperação da economia mundial do que por real e sustentável
aumento de competitividade da economia brasileira.
O Brasil
precisa cortar amarras internas que impedem o investimento privado em
sua infraestrutura, ajustar o gasto público de modo a reduzir a carga
tributária sobre a produção, reduzir a burocracia e abandonar o
ultrapassado viés político que nos retirou de negociações com parceiros
que realmente pesam. É urgente.
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