A decisão da presidente Dilma Rousseff (PT) de, pela primeira vez desde
que assumiu o poder, em 2011, deixar de fazer pronunciamento em rede
nacional de rádio e TV no feriado de 1º de maio, Dia do Trabalho, apenas
fez os protestos mudarem de lugar. Ontem, os ataques à petista migraram
das ruas e janelas para o mundo virtual. Ao longo do dia, a presidente
postou mensagens e vídeos no Facebook e no Twitter voltadas para os
trabalhadores e, em reação, políticos e partidos contrários a ela usaram
a internet para criticá-la. Internautas insatisfeitos com o governo
federal também organizaram um panelaço on-line, postando nas redes
sociais fotos de panelas e áudios com o som da batida nos recipientes. O
senador Aécio Neves (PSDB-MG), principal opositor ao governo, chegou a
chamar o 1º de maio de “Dia da Vergonha”, pela ausência do
pronunciamento da presidente.
Na última vez em que ela apareceu
em rede de TV e rádio, no Dia Internacional da Mulher, 8 de março,
moradores das principais capitais brasileiras bateram panelas em
protesto. Ontem, o Palácio do Planalto divulgou três vídeos em que a
presidente exalta ações do governo em prol dos trabalhadores e anuncia a
criação de um fórum de debate sobre políticas de emprego, trabalho,
renda e previdência social.
Dilma afirmou que a valorização do
salário mínimo é uma das maiores conquistas nos 13 anos de governo do PT
e também cita a correção da tabela do imposto de renda. “O trabalhador
terá seu salário preservado e não irá pagar um imposto maior”, comentou
Dilma, sem mencionar que, inicialmente, defendeu correção prejudicial ao
trabalhador de faixas salariais menores. Nas entrelinhas, Dilma também
alfinetou o governador do Paraná, o tucano Beto Richa, e a ação da
Polícia Militar durante protesto dos professores, que deixou mais de 200
feridos na quarta-feira. “Temos que nos acostumar às vozes das ruas,
aos pleitos dos trabalhadores. Temos de reconhecer como legítimas as
reivindicações de todos os segmentos sociais da nossa população. Temos
de nos acostumar em fazer isso sem violência e sem repressão”, comentou.
CRÍTICAS
Mas o discurso não convenceu a oposição. Num vídeo feito a caminho do
evento da Força Sindical, em São Paulo, Aécio Neves chamou a presidente
de covarde. “Este 1º de maio vai ficar lembrado como o dia da vergonha, o
dia em que a presidente da República se acovardou e não teve coragem de
dizer aos trabalhadores brasileiros por que eles vão pagar o preço mais
duro desse ajuste”, afirmou o senador. “Mas eu digo: vão pagar porque o
governo do PT foi irresponsável e deixa como legado inflação alta,
desemprego crescendo e crescimento minúsculo da nossa economia”,
comentou na publicação divulgada em sua página no Facebook.
O
PSDB preferiu chamar o 1º de maio de “Dia da Mentira”. O partido
divulgou uma série de vídeos nas redes sociais na qual acusou a
presidente de ter mentido para os trabalhadores durante o pronunciamento
do Dia do Trabalho no ano passado e compara as informações com matéria
publicadas recentemente sobre a crise econômica. A legenda diz, por
exemplo, que Dilma mente ao afirmar que “o nosso governo nunca será o
governo do arrocho salarial nem o governo da mão dura contra o
trabalhador”. Logo depois, mostra as medidas provisórias propostas pelo
Planalto que mudam as regras trabalhistas e reduzem alguns benefícios,
como o seguro-desemprego.
ARROCHO
Um dia depois de afirmar que
Dilma não faria o pronunciamento na TV “por não ter nada a dizer”, o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), voltou a se posicionar
contra o Palácio do Planalto. Num vídeo postado nas redes sociais,
ontem, o senador se opôs ao ajuste fiscal proposto pelo governo. “O
Congresso Nacional está contra todos aqueles, e sempre estará ao lado
dos trabalhadores e contra todos aqueles que, venham de onde vierem,
tentarem impor aos trabalhadores, aos mais pobres, mais sacrifícios,
sobretudo, neste momento em que a economia não vai bem”, afirmou Renan,
que concluiu: “O Congresso Nacional não será um mero espectador do
ajuste fiscal. O congresso é próprio fiscal do ajuste. Ajuste que
penaliza o trabalhador é desajuste.”
O presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), defensor da terceirização de
atividades-fim, postou no Facebook uma explicação sobre os “mitos da
terceirização” e ainda rebateu a fala da presidente sobre o assunto em
evento da Força Sindical, em São Paulo. “Ela (presidente) tem de ter a
cautela de que o governo federal deve ter a posição da maioria de sua
base de sustentação. Passa a ser perigoso quando você assume a pauta do
PT”, disse.
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