Não sou lá muito esperto e não há muito o que eu possa fazer diante dessa predisposição genética, ainda mais agora que estou idoso. Assim, não cheguei a me surpreender por não ter entendido quando, há mais ou menos um mês, Osmar Resende Peres Filho adquiriu o título o Jornal do Brasil (Catito é sublicenciado da marca, pois o licenciado continua sendo Nelson Tanure), de Nelson Tanure desde 2000, e, no embalo, anunciou que ele voltaria às bancas, deixando de ser apenas digital, como ocorre desde 2010.
A minha incompreensão nem era tanto por Catito, como é conhecido, ir contra a corrente e voltar ao mundo impresso quando, dizem os sábios, o caminho rumo ao digital é inexorável. Afinal, se você organizar a coisa direito, o digital amplia o alcance do impresso, que nem precisa ter uma tiragem enorme para atingir um público grande. O problema era o porquê um cara do ramo de restaurantes (Fiorentina e Bar Lagoa, no Rio, Piantella, em BSB) iria voltar ao jornalismo com uma operação tão arriscada. Sim, voltar porque Resende Peres Filho já foi dono da TV Panorama, afiliada da Globo em Juiz de Fora, onde possuía a rádio do mesmo nome, e ainda tivera uma passagem-relâmpago pelo Jornal do Sports (mas não rápida o suficiente para evitar ser processado na Justiça do Trabalho).
Ainda bem, porém, que há gente realmente esperta nesse mundo. Sobraram até algumas no jornalismo, como é o caso de Consuelo Diegues, da Piauí. Um tempo para você ler a matéria assinada por ela, que nem é extensa, para os padrões da revista do João Moreira Salles. 1, 2, 3…..
Leu? Então sacou, como eu, é que o “revival” do ex-“jornal da Condessa” às bancas é, na verdade, uma volta do Tanure na Anatel, jogada para poder sentar à mesa de controle da Oi. Um lugar bem amplo, pois, diferente do que está na matéria da Consuelo, Tanure não seria mais dono de apenas 7% das ações de tele, mas de algo entre 22% e 25%, contando suas participações em outras fontes, também acionistas da companhia.
“Ok, mas por que raios o Tanure quer tanto ser influente numa empresa que deve R$ 65 bilhões a mais de 60 mil pessoas físicas e jurídicas?”, perguntará você, com toda a razão. A explicação para o aparente contrassenso está no PLC 79/2016, aquele que, dizem muitos, daria de presente R$ 100 bilhões em bens de telecomunicação da União às teles. Estes seriam bens que retornariam à União em 2025, para a realização de novo leilão. Há dúvidas bem razoáveis de que o valor desses bens seja mesmo de R$ 100 bi – as teles dizem que é de algo em torno de R$ 20 bilhões. O projeto de lei já tinha sido aprovado no Congresso e esperava apenas a sanção de #foraTemer quando foi paralisado por um liminar e retornou ao Senado, cujo então presidente, Renan Calheiros, bateu o pé e diz que agora só entraria em pauta quando o STF definir-se sobre o mérito da ação proposta pela oposição contra o PLC, o que não tem data para acontecer.
Enrolado, né? Mas nada que assuste Tanure (ou Catito), gente muito bem relacionada que conhece bem os bastidores da política (Resende Peres Filho foi secretário de Indústria e Comércio na gestão de Itamar Franco em Minas e candidato ao Senado pelo PDT, em 2006). Tanure aposta que, uma hora, a Oi vai dar um tremendo retorno, mesmo sem o PLC – a companhia é peça-chave nas telecomunicações do país, “grande demais para quebrar”, e, assim, mais dia, menos dia, o governo terá que ajudá-la a sair do buraco, o que a valorizaria. Aposta arriscada, claro, mas os ganhos compensam os riscos, na avaliação dos jogadores.
Como se vê, o JB velho de guerra é apenas uma peça, e não tão importante assim, num jogo muito, muito maior, que nada tem a ver com jornalismo.
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