Está em vias de ser fechada – o anúncio pode ser feito a qualquer
momento – a venda de 80% das ações da Delta Construções, que pertencem
ao presidente do conselho de administração da empresa, Fernando
Cavendish, para o grupo JBS, dono do Friboi, o maior frigorífico do
mundo. Cavendish não colocaria um centavo no bolso. O JBS está de olho é
nos R$ 4 bilhões em contratos de obras que a Delta tem espalhados pelo
país. A notícia boa é que a negociação pode garantir a manutenção dos 33
mil empregos na Delta, envolvida até não poder mais na CPI que
investiga os atos do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e o
banqueiro do jogo do bicho Carlinhos Cachoeira, ambos flagrados em
comprometedoras conversas gravadas pela Polícia Federal com autorização
judicial.
Fernando Cavendish se afastou da presidência do
conselho de administração da empresa assim que o escândalo tornou a sua
situação insustentável. A CPMI, integrada por deputados e senadores,
iniciou ontem a coleta de depoimentos. Nesta primeira fase, eles estão
sendo feitos em sessões secretas, já que os inquéritos correm em segredo
de Justiça. Procuradores e delegados envolvidos na investigação são os
primeiros a serem ouvidos. Para a semana que vem, está previsto o
depoimento de Carlinhos Cachoeira, que está preso em um presídio de
Brasília. Seus advogados, no entanto, tentam ganhar tempo e adiar a sua
ida ao Congresso. Se for, Cachoeira deve invocar o direito de ficar
calado para não incriminar a si próprio.
O negócio da
venda da Delta Construções, além de salvar os milhares de empregos, pode
tirar do foco outros contratos que a CPI não quer e não pretende
investigar em alguns estados. Só para citar alguns governadores que já
estão na berlinda: Agnello Queiroz, do PT; Marconi Perillo, do PSDB; e
agora Sérgio Cabral, do PMDB. Os três partidos têm o poder de controlar a
investigação.