Polêmico
talvez seja o adjetivo mais adequado para caracterizar Hugo Chávez. Em
relação a ele, não há meio-termo. Ou se aplaude com entusiasmo, ou se
critica com paixão. É Deus ou diabo, céu ou inferno. Olhar mais isento,
porém, admite a existência do purgatório. Há nuances entre o branco e o
preto. Elas permitem ver um governante que fez muito, mas deixou muito
por fazer.
Mergulhado nos petrodólares que jorraram dos poços venezuelanos graças à disparada do preço do óleo — de US$ 25, o barril foi para US$ 100 —, Chávez levou avante um dos maiores programas sociais do mundo. Com foco assistencialista, investiu em educação, saúde, habitação e transferência de renda. Colheu frutos — a redução da pobreza e da desigualdade. Em 1999, quando assumiu o poder, a porcentagem de miseráveis na população chegava a 20,3%. Treze anos depois, caiu para 7%.
A política populista financiada pela grande riqueza nacional transformou-o em herói dos pobres — a exemplo de Juan Domingo Perón na Argentina e Getúlio Vargas no Brasil. Fosse um estadista, Chávez teria usado o capital amealhado para modernizar o país e aperfeiçoar a democracia. Não o fez. Ampliou os limites constitucionais para beneficiar o projeto pessoal — perpetuar-se no poder e implantar um tal de socialismo do século 21, que encontrou eco em Cuba, Nicarágua, Bolívia e Equador.
O discurso retrógrado com ataque aos Estados Unidos, aos investidores externos e ao neoliberalismo lembra práticas do século 19, distantes das exigências da era da globalização. Ao mesmo tempo em que demonizava a potência do Norte, o controverso presidente avançava contra a iniciativa privada e as instituições republicanas. Usou os mecanismos da democracia para pisá-la com plebiscitos que moldavam a Carta Magna segundo os projetos chavistas.
Calou empresas de comunicação, domesticou o Judiciário, alterou os colégios eleitorais para evitar que a oposição conquistasse cadeiras no Legislativo. Não só. Destroçou a economia ao estatizar empresas, destruir o incipiente parque industrial e tornar o país mais dependente de importações. A inflação disparou. Em 2012, atingiu 23,2%. Este ano deve chegar a 28,8%. Desabastecimento, apagões e infraestrutura em frangalhos infernizam a vida dos cidadãos.
A morte do líder folclórico e carismático deixa espólio político que, com certeza, será disputado pelos seguidores. Eleições previstas para daqui a no máximo um mês devem legitimar o vice, Nicolás Maduro. A prazo mais longo, o cenário dependerá do que ocorrer no seio do chavismo e do desempenho da oposição. Depois do boicote às eleições de 2006, que deixou Chávez nadar de braçadas no poder, os opositores tiveram bom desempenho em 2012. Henrique Capriles obteve 45% dos votos. Não se elegeu. Mas acendeu a luz da renovação. A expectativa é de que a sucessão, ainda cercada de incertezas, se faça segundo o esquadro democrático.