terça-feira, 2 de novembro de 2010
Professor Luiz Ademir da UFSJ/MG entra em desespero e reitor promete apuração. Um dos blogs mais lidos do GLOBO ONLINE @reporterdecrime divulga o caso
Direito de Resposta
O amigo e colega Sidney Rezende me perguntou se eu publicaria a seguinte carta no meu blog. Claro, com prazer...
Prezado Sr. Sidney Rezende,
Em primeiro lugar, peço desculpas em incomodá-lo em véspera de feriado. Mas o assunto tem um caráter de urgência. Hoje, ao ser informado sobre uma notícia postada no blog do jornalista Eduardo Homem de Carvalho, que é um dos blogs do seu site, fiquei surpreendido, indignado, por vários fatores.
Sei da sua seriedade como jornalista, possível de ser verificada na qualidade do seu site e na sua extensa e bem sucedida carreira jornalística. Mas as questões envolvem acusações feitas pelo jornalista Eduardo Homem de Carvalho que tentam me desqualificar, desqualificar a instituição a qual estou vinculado. Sou jornalista e professor universitário, pesquisador, com uma carreira construída há mais de 10 anos. Mestre e doutor em Ciência Política pelo Iuperj no Rio de Janeiro, desenvolvo hoje várias pesquisas e sou muito respeitado tanto pelos meus pares quanto pelos meus alunos. Isso se deve à forma responsável como lido com o meu trabalho, pela minha postura ética e o meu compromisso com o interesse público.
Pois bem. Por questões circunstanciais, Eduardo Homem de Carvalho tornou-se amigo de um dos meus alunos - Luís Gustavo e acabou puxando discussões no twitter comigo. Mantivemos um diálogo sobre a disputa presidencial, em que ele se declarava favorável a Serra e eu me declarava favorável a Dilma. Até então, nenhum problema. Numa democracia, como professor e cientista político, acho que a democracia vive justamente do embate de ideias, de argumentos. No twitter, obviamente, pelo formato, estas discussões são mais fragmentadas.
Na discussão sobre mídia e política, fiz algumas postagens questionando o papel da grande imprensa na disputa presidencial. Baseado em argumentos do professor e pesquisador da UNB, Venício de Lima, um dos estudiosos que utilizo em minhas aulas,
disse que no Brasil é preciso um controle público da mídia para evitar a formação dos oligopólios. Venício de Lima mostra claramente que hoje 6 grupos midiáticos controlam a mídia no Brasil - Globo, Record, SBT, Bandeirantes, Folha e Abril. Está no seu livro "Mídia. Crise política no Brasil", publicado pela editora Perseu Abramo em 2006.
Concordo com os argumentos de Venício de Lima e defendo uma legislação mais rigorosa como existe nos países desenvolvidos para evitar o que chamamos de propriedade cruzada - controle de várias mídias. Isso certamente é um avanço para a consolidação da democracia e da democratização da mídia no Brasil. São ideias que defendo e como eleitor de Dilma disse que acho que ela deveria ter uma posição favorável que pudesse rever os oligopólios da mídia. É claro que, por viver num regime democrático que nos traz a possibilidade de expressar nossas opiniões e ideias, defendo que todas as decisões devem ser amplamente discutidas com a sociedade civil. Vivemos hoje numa democracia deliberativa com cidadãos cada vez mais informados e participativos.
Até então, eram discussões temáticas e consistentes. Mas até que a discussão começou a cair num discurso mais panfletário. O Sr. Eduardo Homem de Carvalho chegou a me chamar de louco, de ET. Depois, respondi que deveria ser atributos dele e não meus.
Passado isso, fiz questão de bloqueá-lo do meu twitter, porque não gosto de discussões que são tão acaloradas que acabam perdendo o senso crítico e argumentativo. Foi o que fiz. Mas ele continuou me monitorando e monitorando meus alunos. O resultado é a notícia que ele postou com a foto do reitor da universidade que trabalho, em que ele distorce os fatos ao selecionar trechos do twitter e editá-los de forma tendenciosa, procurando me desqualificar. Conversas com meus alunos sobre cotidiano, brincadeiras, foram inseridas como se fossem um patrulhamento ideológico.
O pior é são as conclusões totalmente desprovidas a qual ele chega sem sequer tem me consultado, escritas por ele. "A máquina pública, tendo à frente o "comandante professor" de jornalismo Luiz Ademir de Oliveira, da Universidade Federal de São Soão Del Rey/MG, esteve a serviço da campanha da petista com "ajuda" de seus alunos", afirma. Faz questionamentos ao reitor sobre a minha qualificação para estar atuando na universidade.
Como professor de Jornalismo, sei que algumas regras básicas devem ser seguidas no bom jornalismo:
1. Antes de publicar qualquer notícia, é preciso checar e, principalmente, ouvir o outro lado. Ele destila opiniões, me desqualifica, tenta queimar imagem construída há anos com um trabalho sério e sequer tenta me entrevistar.
2. Descontextualiza os fatos e cria um factóide sobre um suposto esquema de utilização da máquina pública, insinuando que utilizo a sala de aula para fazer campanha. Em que bases o jornalista fundamenta suas acusações de tamanha gravidade?
3. Confunde os meus papeis - sou professor, mas sou cidadão. No espaço do twitter, sou livre para expressar minhas opiniões pessoais e políticas. E depois ainda questiona a liberdade de expressão;
4. Utiliza uma fala minha de forma distorcida e equivocada. Diz que o meu depoimento (está nos comentários da notícia) sobre o controle público da mídia como forma de evitar os oligopólios significa que sou contra a liberdade de expressão. Sinceramente, falta consistência teórica e argumentativa do jornalista. Digo controle público - em que Estado e sociedade civil organizada podem discutir, conjuntamente, um projeto rico e consistente de mudanças que levem a uma democratização da mídia no Brasil. Não se trata de controle estatal - há uma diferença conceitual e prática gritante entre controle público e controle estatal. Defendo a liberdade de expressão, mas acho que, assim como ele fez no seu blog, os jornalistas devem responder por seus atos. Acusar sem provas e de forma leviana não é praticar liberdade de expressão muito menos um jornalismo ético.
5. Ao mesmo tempo em que ele questiona o meu posicionamento pessoal a favor de Dilma no meu twitter – que não é o espaço da sala de aula – no seu blog, é visível o seu posicionamento claramente favorável ao candidato Serra. Não combina com a seriedade do site do qual o senhor é responsável e destoa do seu discurso sobre a imparcialidade jornalística.
6. Mas o que me deixa mais chocado é a troca de insultos e o nível a que chegou as suas conversas virtuais pelo twitter e orkut com os meus alunos. Eu só fui tomar conhecimento disso hoje e estou chocado que um jornalista que se diz tão experiente possa travar um embate de ofensas pessoais com alunos.
7. Uma das questões que mais me deixou chocado ao ler a postagem da aluna que ele faz referências à minha vida privada e íntima. Isso é inadmissível que haja esta invasão de privacidade. Além de nunca ter conhecido pessoalmente este sujeito, considero que o jornalismo e a mídia são espaços, mesmo que no twitter, para tratar de questões públicas, a não ser que as pessoas queiram expor as suas vidas privadas. Não exponho a minha vida privada e me senti totalmente ofendido e invadido, ao ver que ele fez referências no universo público. Tem a coragem de dizer que estou manipulando meus alunos. Não subestimo a capacidade dos meus alunos e de qualquer ser humano. Trabalho com outra perspectiva – de que os indivíduos são livres, racionais e definidores de suas decisões.
8. Resolvi enviar este e-mail porque, certamente, sei da seriedade do jornalismo que o seu site pratica e dos excessos cometidos pelo jornalista Eduardo Homem de Carvalho. Espero, sinceramente, que ele tenha a generosidade de reconhecer o erro, retirar o mais urgente do site a notícia postada que afeta a minha imagem e da instituição da qual faço parte e que encerre este show de baixarias.
Desde já agradeço a sua atenção.
Aguardo um retorno.
Cordialmente,
Prof. Luiz Ademir de Oliveira