Antes de tomar leve a camisinha |
O acesso da população a medicamentos para controlar o vírus HIV na luta contra a Aids está enfrentando um singular desafio: a incapacidade mundial de produzir a quantidade necessária de preservativos para venda ou distribuição gratuita pelos governos planeta afora, pois não há camisinhas para todos. Pelos cálculos das Nações Unidas para Aids se metade da população de 15 a 49 anos usasse camisinha uma vez por semana, seriam necessários 42,2 bilhões de preservativos por ano – quantia 2,7 vezes maior do que a produção mundial de 15,3 bilhões anuais.
A dificuldade de governos para aquisição do produto começa a ser sentida. Quando licitações envolvem grande quantidade de preservativos, há um número menor de empresas capacitadas para a disputa. Breve o Brasil vai enfrentar problemas para aquisição. Porém, o governo recusou a venda para países vizinhos interessados em comprar preservativos produzidos em Xapuri, no Acre. A fábrica – que usa matéria-prima borracha fornecida por seringueiros locais –, embora considerada um marco, está longe de atender às necessidades de um país cujo esporte favorito é botar pra f... Atualmente, a unidade fabrica 100 milhões de unidades por ano, havendo potencial para que esse quantitativo seja duplicado. Ocorre que, com a grande quantidade de pintos no mercado e queda da oferta, a camisinha vai ficar mais cara. Sua escassez pode pôr em risco o trabalho de convencimento para uso de preservativos.
A oferta limitada da borracha, principal matéria-prima do preservativo, esbarra na falta de expansão do plantio de seringueiras. A espécie demora anos para se tornar produtiva, mas a trepação não para. Outro problema é a alta do preço da matéria-prima. Neste semestre, a Índia registrou elevação de 200% no preço do látex, o que fez com que pequenos fabricantes literalmente se despirocassem. Empresas maiores têm táticas distintas: umas preferem aguardar mais um período, mas há quem já anuncie aumento de preço do produto destinado à exportação. Há vários fatores para isso ocorrer: redução da mão de obra nos seringais, provocada pelo forte movimento de urbanização registrado nos países produtores; parte dos seringais está sendo substituída por outras culturas, consideradas mais rentáveis, algumas voltadas para a produção de biodiesel; e aumento da concorrência para definir o destino da borracha, cuja maior parte é destinada à fabricação de pneus, para o que não se exige grande qualidade do insumo, como ocorre com os preservativos.
Aparentemente sem importância, a questão precisa ser encarada com toda a seriedade possível por Dilma, pois, depois da rebordosa de fim de ano, vem aí o carnaval (13 a 16 de fevereiro), quando o próprio Ministério da Saúde, por meio das secretarias estaduais e municipais, distribui milhões de camisinhas em todo o país. Urge, portanto, maior produção de borracha especial para a fabricação desses artefatos (quase piroténicos!) de prevenção não só à Aids, mas a outras doenças sexualmente transmissíveis, especialmente entre adolescentes e jovens, também vulneráveis a gravidez não desejada.