O governo federal baixou um
pacote de bondades, em favor das empresas concessionárias de rodovias. Aumentou
o prazo das concessões, dilatou os prazos de financiamento dessa mãe brasileira
que é o BNDES, e diminuiu o valor do patrimônio líquido exigido para as
empresas do setor.
Quando Lula lançou o modelo
petista de pedágio, tudo se passou como se o preço do serviço fosse determinado
somente pela vontade dos governos. Nos governos tucanos (e no do ex-governador
Antônio Britto, aqui no Rio Grande) o pedágio era dos ricos. E no modelo
petista, claro, se criou o pedágio dos pobres. Muita gente boa embarcou nessa
teoria simplória.
Os pedágios, como qualquer
negócio, obedecem a uma lógica implacável: os preços devem suportar os custos
da operação e deixar no guichê da empresa uma margem de rendimento e lucro.
Ora, operar estradas, mantê-las transitáveis, fechar buracos, sinalizar,
investir em pistas novas, etc., é caro, requer muito dinheiro. É assim em todos
os lugares do mundo. Se a empresa trabalha no fio da navalha, no balanço de custos
e receita, então cumprirá precariamente as suas funções, e deixará para trás
uma boa parte das suas obrigações.
Não estou defendendo preços
altos, nem de pedágios, nem de coisa alguma. Não tenho nenhum interesse ligado
às empresas do setor. Mas o jornalista tem o dever de olhar os fatos além das
suas aparências, no seu contexto amplo, na conjunção das suas causas remotas e
dos seus efeitos tardios, no tempo e no espaço. Todos os governos, uns mais
outros menos, por vocação e definição, de alguma maneira tentam nos engrupir
com suas? Conquistas? As quais, com frequência, não passam de propaganda
enganosa. É preciso estar atento para desinventar às lendas criadas nos
gabinetes oficiais.
Não há pedágios para ricos
ou pobres, ou caros e baratos. Eles afetam só o bolso de quem os usa. É o preço
de um serviço. Se for caro demais, existe a alternativa de não usá-lo. O preço
está na razão direta do modelo de pedágio, dos compromissos contratuais da
concessão, da qualidade dos serviços da rodovia, de sua conservação e
segurança.
Se o governo, agora, se
obriga a abrir o leque de facilidades para o negócio, então é porque as
concessionárias, no modelo petista, não estão dando conta do recado, não estão
cumprindo os compromissos contratuais. É o famoso barato que sai caro.
Mesmo essas medidas de
ocasião, meramente cosméticas, nada irão resolver. Os pedágios continuarão
custando pouco e a rodovia continuará meia-boca. O que resolve é preço. Se não
mexer no preço, podem escrever que daqui a cinco anos o governo? Seja ele qual for?
Terá que abrir de novo a comporta das benesses.
Mas pior do que o pedágio
caro, e mesmo que o pedágio? Barato? Que vem do governo Lula é a ideia de
estatizá-lo. Em cinco anos, quando fizerem a comparação da estatal de pedágios
com uma empresa concessionária qualquer, do mesmo porte, você saberá que a
estatal terá o dobro de funcionários, o triplo de diretores e cargos de
confiança (é preciso acomodar a “cumpanheirada”) e a estrada terá o quádruplo
de buracos. Lá na frente, vai sobrar para o combalido orçamento estadual.
titoguarniere@terra.com.br