domingo, 13 de junho de 2010
Imposto sobre grandes fortunas seria um tiro no pé.
(Continuação...)
http://www. kanitz. com. br/impublicaveis/defesa_da_classe. asp
O qual foi comentado de forma divertida pelo Luciano Pires em seu podcast:
http://www. lucianopires. com. br/cafebrasil/podcast/?pagina=/2010/01/14/falando-sobre-nacao/
Ocorre que a maioria, senão a totalidade, as grandes fortunas, isso no Brasil, não nasceu do empreendorismo, da genialidade e boa administração dos negócios ou da inovação. Primeiro porque não valorizamos a criatividade, o empreendorismo, já no início de um empreendimento o Estado se mostra não facilitador, mas um dificultador, a começar pelas dificuldades em abrir e fechar um negócio no Brasil, nas universidades não é valorizado o empreendedorismo, a grande maioria prepara profissionais para serem empregados, subalternos, submissos, principalmente empregados públicos, dada a supervalorização que alcançam as salas de aula a defesa das empresas estatais. Sem contar que tudo começa pela deformação ideológica, que coloca ideologias de esquerda como as mais importantes a serem observadas. Sem contar que a nossa estrutura universitária está pautada pelas universidades federais ou estaduais, onde se pratica o efeito Robin Hood ao contrário, dos impostos dos mais pobres são canalizados os recursos para os estudos dos mais ricos, ou daqueles que podem e deveriam pagar por ele, seja antes através de uma capitalização, durante através das mensalidades ou bolsas, ou depois através de financiamentos justos ou de um serviço militar. Retiramos recursos que deveriam ir para o ensino fundamental, que é de baixíssima qualidade, para direcioná-lo às universidades, destruindo assim todo o potencial dos brasileirinhos.
"Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas." (Rubem Alves)
Em um de seus podcast, Luciano Pires inicia com o professor e escritor estadunidense Derek Bok: "Se você acha a educação cara, experimente a ignorância." Vamos falar de educação usando um texto de Rubem Alves que diz: "Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas." E depois tratamos da experiência do Instituto Ayrton Senna que está revolucionando a educação em algumas regiões do Brasil, gastando 100 reais por ano por aluno. Você leu certo: 100 reais…
Na trilha sonora: Álvaro Henrique, Paulo Autran, Lo Borges, Alex Saba, Karnak, Elba Ramalho com Renata Arruda e o Época de Ouro com Sivuca.
O texto do programa, com poesias e letras das músicas pode ser encontrado no DLOG CAFÉ BRASIL, publicado em www.lucianopires.com.br/dlog
Ouça, o tema é Educação:
http://podcast.lucianopires.com.br/podcasts/cafe_brasil_custo_da_educacao.mp3
Acompanhe áudio através do Dlog:
http://www.lucianopires.com.br/dlog/show_dlog.asp?id=129&num=93
Bem, mas a realidade é triste, dói tanto quanto a perda de um ente querido, revela que não há compromisso, os resultados são piores que poderíamos imaginar, só 33% das 294 metas do Plano Nacional de Educação, criado por lei em 2001, foram cumpridas.
As grandes fortunas praticamente não nascem no Brasil ou, dada a regra do jogo, são resultado do capitalismo de comparsas, fruto do clientelismo político. Vivemos em uma sociedade de privilegiados.
Não temos mercado e não propiciamos as condições para que sejam criadas grandes fortunas, tivemos em nossa história empreendedores, como o Barão de Mauá, o Engenheiro André Pinto Rebouças, notáveis durante o Império, depois os poucos sempre conquistaram antipatia dos políticos, ditos republicanos, com destaque a Vargas, que foi um dos inimigos do Conde Francesco Matarazzo, criador da IRFM - Indústrias Reunidas Francesco Matarazzo, um império destruído pela excessiva tributação e entraves políticos, por uma miopia política de muitos governantes, que ao invés de promover a concorrência e aprender com o sucesso do mesmo, procuravam distribuir a riqueza conquistada.
O império da IRFM foi criado por alguém que não queria ter um patrão, mesmo com toda a adversidade que se iniciou ao desembarcar no Rio de Janeiro, em 1881, tinha tudo para se desesperar. A tonelada de banha de porco que trazia da terra natal para comercializar aqui afundou com a embarcação que levava a carga do navio, por puro azar, pouco antes de aportar no Brasil. Sem perspectivas e com pouco dinheiro no bolso, a única esperança de se manter vivo era encontrar um velho amigo e conterrâneo, Fernando Gradino, que vivia em Sorocaba (SP). Meses depois escreveu para a família que deixara na Itália - a mãe Mariângela, a esposa Filomena, oito irmãos e dois filhos: "Abri uma venda em Sorocaba e não procurei, nem jamais procurarei, ter o que se chama de patrão.
Ao completar 80 anos, era de longe o homem mais rico do Brasil à época, sendo que a riqueza produzida por suas indústrias ultrapassava o PIB de qualquer estado brasileiro, exceto São Paulo, chegando a reunir 365 fábricas por todo o Brasil e um porto exclusivo, o de Antonina no Paraná. A renda bruta do conglomerado é a quarta maior do país, e 6% da população paulistana depende de suas fábricas. Faleceu em 10 de dezembro de 1937. Sua fortuna não durou mais do que duas gerações ou três, filhos e netos souberam dissipá-la, incluindo a família de um hoje Senador pelo PT de São Paulo. O mesmo que veio em defesa da tributação, acredito que tenha sido o único. Este Senador foi também um dos que se inspiraram nos trabalhos de Milton Friedman em defesa do imposto de renda negativo, mas o desvirtuaram, criaram o maior estelionato eleitoral de todos os tempos.
"Mas doutor, uma esmola, pra um homem que é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão..." ("Vozes da seca", de Luiz Gonzaga do Nascimento - Gonzagão - e José de Souza Dantas Filho)
“Corremos o risco de acabar absolvendo o Estado, responsável pela formação de uma geração de jovens empobrecidos e desesperançados, e condenar esses jovens. [É preciso] rediscutir valores humanos para saber onde erramos” (Luiz Inácio Lula da Silva – pr@planalto.gov.br)
"A qualidade do ensino público só melhora na Universidade porque nela estão os formadores de opinião pública e um seleto público votante". (Gerhard Erich Boehme – gerhard@boehme.com.br)
Criar este tipo de imposto não fazia sentido, pois o que temos que fazer é atrair justamente as grandes fortunas, o economista Cândido Prunes já nos alertou sobre esta questão, merece destaque seu artigo “Em defesa da concentração de renda²”, cujo título, a princípio nos assusta ou cria ojeriza, mas que nos remete a uma importante reflexão.
Este tipo de imposto é um dos mais ineficazes, pois irão incidir justamente sobre os que melhor sabem se defender dele, ou haverá fuga de capital, o que é ruim, ou serão criados artifícios legais, jurídicos, “ilegais”, para que venha a ser cobrado, prejudicando a toda a sociedade, principalmente pelo péssimo exemplo. Antes deveríamos questionar sobre as razões pelas quais os bancos obtém vultuosos lucros e são justamente eles que são os menos tributados, isso dentro das regras atuais. Não precisamos olhar o nosso congresso e o histórico de nossos presidentes, ministros, governadores, etc. para enxergar uma infinidade de banqueiros.
Grandes fortunas, na realidade são geradoras de novos empreendimentos, as geram com maior rapidez, com muito mais facilidade, assim gerando também o crescimento de empresas que irão gerar mais riqueza, emprego e renda, como também impostos que irão assegurar recursos para bens e serviços públicos de qualidade, que o brasileiro necessita, que podem inclusive ser canalizado para incentivar o empreendorismo, como as incubadoras, que hoje se limitam e com baixo desempenho, isso em função do número de empresas incubadas, muito pequeno, irrisório para um país com as dimensões do Brasil. Mas temos ótimas incubadoras, como a Fundação CERTI, mas estão limitadas à área de C&T e a falta de recursos, dada a mentalidade míope dos políticos, quando nos faltam incubadoras não apenas na área de C&T, mas também na área cultural, turismo, gastronomia, etc..
E vale lembrar:
"Bens e serviços públicos têm como característica essencial a impossibilidade de limitar o seu uso àqueles que pagam por ele ou a impossibilidade de limitar o acesso a eles através de restrições seletivas, com uma única exceção eticamente aceitável: o privilégio ou benefício dado ao deficiente físico ou mental . "
Instituir o imposto sobre grandes fortunas é desconsiderar que o capital é volátil e ligeiro, anda na velocidade da luz e é de difícil rastreabilidade, ainda mais em um país onde os maiores crimes são justamente os financeiros e nem mesmo temos uma polícia judiciária especializada nesta especificidade, sem contar que não temos uma polícia judiciária eficaz, não está vinculado ao judiciário, tanto no âmbito federal, quanto estadual, são politicamente administradas, mas dão os primeiros passos da justiça (Polícia Federal e nos estados as Polícias Civis e as Técnico-científicas).
Apesar de a Constituição Federal de 1988 haver delegado à União competência para instituir impostos sobre grandes fortunas (art. 153, inciso VII), a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) decidiu rejeitar, nesta terça-feira (9), projeto de lei (PLS 128/08 - Complementar) do senador Paulo Paim (PT-RS) propondo a criação do tributo. O parecer pela rejeição foi apresentado pelo senador Antonio Carlos Júnior (DEM-BA) e acolhido pela comissão, com o voto contrário do senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
Ao relatar a proposta, Antonio Carlos Júnior considerou louvável seu objetivo primordial: proporcionar distribuição de renda. Mas optou por recomendar a rejeição do PLS 128/08 - Complementar por entender "que a instituição do imposto sobre grandes fortunas (IGF) é um retrocesso e não atingirá as metas imaginadas".
Segundo comentou, países que decidiram adotá-lo não alcançaram resultados satisfatórios. Os maiores problemas envolvendo o IGF seriam dificuldades de ordem administrativa para sua implementação - a começar pelo complexo processo de identificação e avaliação do patrimônio do contribuinte - e a pequena arrecadação gerada.
Em relação ao tímido impacto na arrecadação, Antonio Carlos Júnior resgatou trecho de discurso do senador Francisco Dornelles (PP-RJ) que, em 1991, quando ainda era deputado federal, comentou que avaliação da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE) já indicava que o tributo contribuía, na década de 1980, com apenas 0,5% da receita tributária da Áustria; 0,41% da Dinamarca; 0,31% da Noruega; e 0,39% da Suécia.
"Assim, ao analisarmos os custos e os benefícios da instituição do IGF, verificamos que ele é um tributo caro demais para a administração tributária. A justiça social buscada pelo autor da proposição pode ser feita de forma muito mais eficiente pelo imposto de renda", sustentou Antonio Carlos Júnior ao final do parecer.
O primeiro senador a apoiar a rejeição do PLS 128/08 - Complementar foi Roberto Cavalcanti (PRB-PB), que parabenizou o relator pela "sensibilidade, coragem e pelo conhecimento técnico" demonstrados na elaboração do parecer. Já Francisco Dornelles cumprimentou Antonio Carlos Júnior pela percepção de que a progressividade do imposto de renda bastaria para taxar as pessoas de maior renda e patrimônio.
O senador César Borges (PR-BA) observou que, à primeira vista, poderia parecer justo tributar as grandes fortunas. Mas, conforme ponderou em seguida, se o patrimônio é fruto da renda, essa é que deve ser tributada, conclusão endossada pelo relator. Por fim, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) se declarou radicalmente contra qualquer aumento de carga tributária.
Suplicy foi o único senador a sair em defesa do PLS 128/08 - Complementar. Na sua argumentação, recordou que o Senado já havia aprovado, anos atrás, projeto do então Senador Fernando Henrique Cardoso (PLS 162/89 - Complementar) instituindo a tributação sobre grandes fortunas familiares, proposta que acabou sendo rejeitada pela Câmara dos Deputados. Felizmente.
Apesar de Estados Unidos, Austrália, Japão e Itália terem optado por não adotar a taxação de grandes fortunas, alegando ônus em sua administração, Suplicy ressaltou que quase todos os países escandinavos que têm situação de equidade econômica resolveram criar o tributo, ainda que sob taxas modestas. E apontou como vantagens do IGF o combate ao excesso de incentivos fiscais e à desigualdade na cobrança do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), mostrou sua sede em ampliar sobre a sociedade a tributação, irracional.
No meu entender o que falta é simplificarmos, desonerar as empresas e ampliar os impostos sobre o consumo.
Além de ser um verdadeiro manicômio, a carga de impostos, taxas e contribuições cobradas das pessoas e empresas drena todos os recursos da sociedade que poderiam estar sendo aplicados na produção e consumo, sem contar que limitam os juros, os recursos para criar e desenvolver os negócios, criar novos produtos e principalmente remunerar dignamente aqueles que optaram por se abdicar do consumo no passado confiando no empreendedorismo e a realização profissional.
Assim, além de simplificar a legislação tributária, a União, os estados e municípios deveriam se comprometer em reduzir significativamente a carga de impostos. Este entrave expõe o brasileiro à escravidão, pois contribui e os recursos não retornam à sociedade através de serviços públicos de qualidade, em especial o ensino básico de qualidade e a segurança pública. Atualmente temos a perda de liberdade de ir e vir em muitos lugares e períodos do dia, sem contar o elevado custo de vida resultante com as despesas para conferir ao cidadão melhores condições de segurança. O cidadão é triplamente penalizado, paga impostos para ter segurança pública, aloca recursos na segurança pessoal e sofre os resultados (prejuízos materiais, morais, físicos, sem contar as vidas humanas que são imensuráveis) da violência e a impunidade devido a falta de justiça. O resultado é o custo de vida crescente, piores condições de qualidade de vida e a sonegação, a corrupção e falta de transparência nas contas públicas.
http://www. kanitz. com. br/veja/faltam_engenheiros_governo. asp
http://www. institutoliberal. org. br/editorial. asp?cdc=373
http://www. senado. gov. br/web/cegraf/ril/Pdf/pdf_146/r146-06. pdf
Por Gerhard Erich Boehme
boehme@folha.com. br
boehme@globo.com
sábado, 12 de junho de 2010
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Aquilo que os americanos não conseguiram em 31 anos, nós conseguimos em 18 horas. Presidente Lula hoje, na fábrica da Volks.
(Continuação...)
Quero cumprimentar o Berthold Huber, presidente da Federação Internacional dos Metalúrgicos do IG Metall,
Quero cumprimentar o (incompreensível), presidente do Comitê Mundial de Trabalhadores da Volkswagen,
Quero cumprimentar o Diretor Mundial de Recursos Humanos,
Quero cumprimentar o Viktor Klima, presidente da Volkswagen para a América do Sul,
E cumprimentar o nosso querido e popular Chalita, que acabou de falar,
Quero cumprimentar os companheiros do Sindicato, o Nobre que está aqui, a Diretoria do Sindicato, o companheiro Grana, da Federação dos Metalúrgicos,
Dizer para vocês que talvez esta seja a minha última vinda à Volkswagen como presidente da República. Afinal de contas, oito anos é muito pouco para quem governa, mas é muito para quem faz oposição. Já está na hora de terminar o mandato. E ao terminar o mandato, eu fico todos os dias fazendo reflexão do que aconteceu na minha vida a partir do dia 24 de abril de 1975, quando eu assumi, pela primeira vez, a Presidência do Sindicato dos Metalúrgicos. Naquele tempo, os especialistas em sindicalismo, aqueles que tinham mais vivência e mais experiência do que eu, diziam que era bobagem eu entrar no Sindicato porque a legislação sindical brasileira era cópia fiel da Carta del Lavoro, de Mussolini, na Itália e, portanto, nós não poderíamos fazer nada, porque a lei proibia. Tinha até uma lei chamada Lei 4.330, que proibia os trabalhadores de fazerem greve. Então, eu entrei no movimento sindical com a convicção, dada pelos mais experientes, de que era muito difícil a gente conseguir fazer alguma coisa a partir dos sindicatos, porque nós vivíamos em um regime autoritário e porque a legislação brasileira não permitiria que a gente fizesse isso, inclusive a Lei de Segurança Nacional.
Veja que, independentemente de todas as dificuldades que existiam na legislação, em três anos nós mudamos a história do movimento sindical brasileiro. No dia 12 de maio de 1978 eclodiu a primeira greve na Scania, e foi uma grave feita pelos trabalhadores da Scania, dentro da Scania, e foi a primeira greve depois de 1968. Nós não sabíamos o que ia acontecer com os trabalhadores, porque quem governava o país, na época, era o presidente Geisel, e havia uma dureza muito grande no trato da questão sindical.
O dado concreto é que nós vencemos a greve de [19]78, fizemos um bom acordo. Na Volkswagen houve uma lamentação muito grande porque os trabalhadores da Volkswagen não conseguiram parar em [19]78. A ferramentaria, sobretudo, tinha uma vontade de parar, mas não conseguia parar. Ou seja, foi um ano de frustração. Mas nós conseguimos parar a Ford, conseguimos parar a Mercedes, uma parte da Mercedes e, por conta disso, nós conseguimos voltar a trabalhar com um bom acordo, um bom acordo feito entre o sindicato e a indústria automobilística. Depois veio [19]79, [19]80, aí vocês já conhecem a história do movimento sindical, alguns até já viveram parte dessa história.
O dado concreto é que foi da minha experiência sindical que surgiu a ideia de criar um partido, que surgiu a ideia de fazer com que a classe trabalhadora pudesse reivindicar também o direito de governar o país. Não era possível que aquele segmento, que é o segmento majoritário na sociedade, aqueles que vivem do seu trabalho - seja trabalhadores formais ou não -, não governasse o país. E foi uma descoberta que nós fizemos, a partir de [19]78, quando nós descobrimos que não tinha representante dos trabalhadores no Parlamento brasileiro. Em vinte anos, nós conseguimos criar o mais importante partido de esquerda da América Latina e, em 20 anos, nós chegamos à Presidência da República do meu país.
Ao chegar à Presidência da República do meu país... eu vou contar uma história para vocês. Eu, quando ganhei as eleições, eu não acreditava que eu tinha ganhado. Eu ficava me beliscando todos os dias, para saber se era verdade que um metalúrgico de São Bernardo do Campo tinha ganhado a Presidência da República. Eu lembro que quando eu cheguei ao Palácio da Alvorada, na primeira noite, eu me deitei naquele Palácio, me deitei, encostei a cabeça no travesseiro, de barriga para cima, e fiquei olhando: será que é verdade que eu estou aqui? E ficava... porque era uma coisa, uma coisa muito rara que um metalúrgico pudesse chegar à Presidência da República do Brasil.
Aí veio o grande desafio. É importante os companheiros terem em conta que a minha maior preocupação era a preocupação de que nós tínhamos que fazer um bom governo, nós tínhamos que dar certo. Eu trabalhava muito com a ideia do fracasso do Walesa, na Polônia, porque o Walesa era um metalúrgico do estaleiro de Gdansk que, com a queda do Muro de Berlim e com uma ajuda do Santo Papa, ele chegou à Presidência da República na Polônia, e foi um fracasso. Foi concorrer a um segundo mandato, teve menos que 1% dos votos. E eu trabalhava sempre com a certeza de que eu não podia fracassar, porque se eu fracassasse, nunca mais um trabalhador poderia pleitear a Presidência da República, porque eles iriam dizer: "Não sabe governar. Peão de fábrica não sabe governar". Eu tinha que provar que nós sabíamos governar, eu tinha que provar que nós poderíamos fazer as coisas bem feitas e eu tinha que provar que nós poderíamos ser melhores do que aqueles que governaram antes de nós este país. Graças a Deus...
Eu não sei se vocês sabem de uma coisa. Quando eu era dirigente sindical, quando a gente ia começar a fazer uma campanha salarial, eu me preocupava com o que os diretores do Sindicato falassem na porta de fábrica, porque quando a gente abre a boca para falar, você tem duas hipóteses: ou você não fala nada com nada, portanto, você não é notado; ou você fala muita bobagem e as pessoas que estão assistindo falam "Esse cara não está com nada"; ou você é capaz de ser convincente, falar e as pessoas saírem, depois de ouvir você falar, aprendendo um pouco mais e um pouco mais motivadas.
Então, no Sindicato, Aloizio, eu chamava, normalmente, os diretores do Sindicato e eu dizia: eu quero saber qual é o discurso que você vai fazer na porta de fábrica. Eu tinha, na minha sala, um microfone e uma caixinha de som, que era para ouvir os diretores fazer discurso na porta de fábrica. É muito mais vergonhoso falar para mim, sozinho, o cara chegar na minha frente: "Companheiros e companheiras"... Mas, de qualquer forma, de qualquer forma, o que a gente queria era que a gente, a cada vez que abrisse a boca e falasse uma palavra, essa palavra servisse de conscientização e de motivação para que os trabalhadores confiassem no Sindicato.
Bem, o dado concreto é que nós chegamos ao final do governo, e graças à compreensão do povo brasileiro, graças à ajuda que eu tive de muita gente, o Brasil vive quase um momento mágico da sua história. Eu fui dirigente deste Sindicato, fiz muita... muito barulho aqui na porta da Volkswagen, muito barulho, e consegui algumas coisas e perdi muitas coisas. Agora esta meninada, por conta daquilo que a gente brigou muitos anos atrás, esta meninada não tem que brigar mais do jeito que a gente brigava. Hoje a gente não tem que ficar na porta da fábrica entregando boletim, porque pode colocar na linha de produção, cada um pega o seu boletim sem fazer nenhuma anarquia. Hoje o Sindicato não tem que ficar uma semana na porta da fábrica xingando a direção da empresa para motivar o pessoal a fazer a greve, não precisa. É só a comissão de fábrica se reunir e dizer que precisa parar, que o pessoal para e faz greve quando é necessário fazer a greve. A greve, também, não é um estado de espírito. A greve, a gente faz quando entende que é necessário fazer, porque ela é um instrumento muito forte e a gente, também, não pode banalizar a greve por qualquer coisa. A greve, para fazer, é preciso que tenha uma boa motivação, uma boa razão e a gente estar convencido de que ela é um instrumento necessário.
Então, eu acho que houve uma evolução extraordinária. Então, vejam uma coisa. Eu vou terminar os meus oito anos de mandato com a convicção de que o movimento sindical brasileiro só não conquistou, no meu governo, aquilo que ele não reivindicou. Pode parecer presunção, Nobre, mas tudo que vocês reivindicaram, tudo, ou 99% de tudo... talvez vocês foram muito humildes, muito generosos comigo pela nossa amizade, porque não reivindicaram absurdos. Quando vocês foram reivindicar as 40 horas, eu falei: não peçam para mim as 40 horas, porque as 40 horas não podem vir de cima para baixo. Elas não deram certo em alguns países porque vieram de cima para baixo. É preciso que haja uma movimentação de baixo para cima, para que a conquista das 40 horas seja uma coisa sentida pelos trabalhadores. Aí, vocês, então, fizeram coleta de assinaturas, deram entrada num projeto de lei de iniciativa popular, que eu espero que seja votado logo, logo, para que os trabalhadores possam ter mais tempo para ficar em casa, para estudar, para cuidar da família, para relaxar, para descansar. E que essa redução da jornada possa significar a possibilidade de contratação de mais trabalhadores para que a gente possa distribuir mais renda no nosso país.
Então, eu deixo a Presidência, depois de oito anos, com a convicção de que nós fizemos o que tínhamos que fazer. Certamente, com a consciência de que ainda falta fazer muito. Uma coisa que me dá muito orgulho. Quem está falando com vocês sofreu todo tipo de preconceito que um ser humano pode sofrer. Eu sofri todos os preconceitos, por ser nordestino, por não ter diploma universitário, vocês sabem disso. Pois bem, vejam a ironia do destino: eu e o Zé Alencar somos, na história do país, a primeira vez que o presidente e o vice-presidente não têm diploma universitário. Entretanto, ao deixar o governo, eu serei o presidente que mais fez universidades no nosso país e que mais fez escolas técnicas no nosso país. Parece ironia do destino, mas nós estamos fazendo... a Universidade do ABC está construindo o seu campus aqui em São Bernardo do Campo; fizemos em Mauá - em Mauá, falta o Osvaldo dar o terreno... mas o Ministério da Educação vai comprar um terreno, que era uma fábrica antiga que tinha lá, que é de qualidade; fizemos em Santos, em Diadema, em Santo André, em Guarulhos; vamos fazer em Osasco. E uma coisa mais importante: nós criamos um programa, aqui, chamado ProUni, que é um programa em que a gente troca o imposto das universidades particulares - uma parcela - por uma bolsa de estudos. Este ano, nós chegaremos a 726 mil alunos no ProUni, 726 mil alunos. Vejam que interessante: este ano eu vou fazer uma festa com os primeiros 540 estudantes que se formaram médicos pelo ProUni. Gente pobre, da periferia, que não teria condições de estudar, que vai se formar médico, advogado, engenheiro, o que mais vocês querem? Sobretudo engenheiros, porque o Brasil tinha deixado de formar engenheiros. Quem se formava ia trabalhar no sistema financeiro. Nós, agora, com o crescimento econômico, estamos sentindo falta dessa profissão.
Então, eu quero dizer para vocês da minha alegria, alegria de ver o Brasil crescendo, de saber que a indústria automobilística brasileira está numa situação melhor do que a da Europa, do que a americana, do que a japonesa. Nós só disputamos com a China hoje, para ver quem está mais porreta, mais crescendo, mais gerando emprego. Este ano, se Deus quiser, nós vamos gerar 2 milhões de empregos. Eu terminarei o mandato gerando 14 milhões de postos de trabalho com carteira profissional assinada.
Este Sindicato nunca mais, desde que eu fui presidente, fez acordo perdendo dinheiro. Sempre fez acordo ganhando aumento real de salário, e isso vale para 90% de todas as categorias de trabalhadores deste país. Saio da Presidência com o Brasil muito mais respeitado no exterior. Vocês viram a conquista das Olimpíadas, lá em Copenhague, vocês viram a conquista da Copa do Mundo. Antigamente, um presidente do Brasil não saía nem no rodapé de um jornal alemão. Verdade ou mentira? Não saía. Miguel Jorge, você que trabalhou aqui muito tempo... Agora não, agora nós ocupamos muito espaço na imprensa alemã, na imprensa francesa, na imprensa americana, na imprensa inglesa. Tem hora que eu apareço tanto, que eu nem consigo ler o que está se falando de mim lá.
Bem, então, o Brasil vive um momento excepcional, e eu quero que isso continue, precisa continuar, porque o povo brasileiro... Eu trabalho com a convicção de que dentro de seis ou sete anos o Brasil será a quinta economia do mundo, eu trabalho com essa convicção. Vocês estão lembrados, a gente não produzia mais navio. Agora nós estamos produzindo navio, plataforma, sonda. A indústria naval brasileira tinha apenas 1.600 trabalhadores. Já está com 50 mil trabalhadores. Nós... graças a Deus, nós descobrimos o pré-sal, e o pré-sal tem muito petróleo a 6 mil metros de profundidade. Uma parte desse petróleo, a gente quer dedicar o lucro dele para a educação, para a ciência e tecnologia, para o meio ambiente e para a questão cultural do país, que são quatro coisas extremamente importantes no país.
Eu quero terminar dizendo aos companheiros da Volkswagen que eu não seria o que eu fui, não teria realizado o que eu realizei se não fosse a compreensão de vocês. Eu lembro, eu lembro que daqui de São Bernardo do Campo, quando os conservadores, em 2005, tentaram... na minha opinião, aquilo era uma tentativa de derrubar o governo, porque eles não se conformavam como é que um metalúrgico, um torneiro mecânico podia fazer mais do que eles. Eu lembro que partiu daqui de São Bernardo, partiu do nosso Sindicato um adesivo que dizia: "Mexeu com o Lula, mexeu comigo". A partir daí, isso tomou conta do Brasil e hoje, por conta de vocês, eu sou o presidente mais bem avaliado da história do nosso país.
A coisa mais sagrada era que nós precisávamos recuperar a nossa autoestima. Houve um tempo em que nós, brasileiros, nos tratávamos como se fôssemos de segunda categoria. Eu fiz um plano de ciência e tecnologia, onde nós investimos R$ 41 bilhões em ciência e tecnologia. Hoje o Brasil é a 13ª nação em publicação de artigos em revistas especializadas de ciência e tecnologia. Passamos a Rússia e passamos a Holanda, numa demonstração de que não existe limite para este país, na hora em que a gente acredita. Eu estava vendo a Fórmula Indy no domingo passado, e um corredor lá, que o carro dele quebrou, depois recuperou, ele chegou em último lugar ou em penúltimo, aí foram perguntar para ele: "Mas seu carro quebrou, você não está chateado?" Ele falou: "Olha, eu sou brasileiro e não desisto nunca". Eu achei aquilo extraordinário, porque é esse o nosso lema.
Eu posso dizer para os trabalhadores da Volkswagen: qualquer empresário alemão, qualquer empresário americano, qualquer empresário francês, qualquer empresário japonês que vier investir no Brasil, ele vai ter a sensação de que não existe trabalhador mais produtivo e mais criativo do que o trabalhador brasileiro. Ele vai sair com essa convicção em apenas um ano. Em um ano ele já vai ter certeza de que o trabalhador e a trabalhadora brasileiros são mais produtivos, são mais criativos e trabalham com mais alegria. Eu acho que é isso que permite que a gente possa ter o orgulho de dizer que nós somos brasileiros e não desistimos nunca, porque este país desistiu muitas vezes, este país desistiu muitas vezes. Este país, entre 1950 e 1980, foi a economia que mais cresceu no mundo; durante 30 anos, a economia que mais cresceu no mundo. Entretanto, o resultado dessa riqueza não foi distribuído de forma justa para todos os brasileiros.
Pois bem, nós, agora, nós, agora... Primeiro, aprendemos a crescer, aprendemos a crescer, e nós aprendemos que o crescimento gera emprego, o emprego gera salário, o salário gera consumo, que gera mais empregos, que gera mais salário. É tudo isso que nós queremos. Nós aprendemos que nós, brasileiros, não devemos nada a ninguém. Nós não queremos ser melhores do que ninguém, mas também não queremos ser inferiores a ninguém. Queremos ser tratados em igualdade de condições, com o respeito que nós merecemos ter no mundo.
Eu vou terminar, eu vou terminar contando uma coisa para vocês. Eu fui ao Irã. Todos vocês acompanharam, pela imprensa. Tem uma briga: se o Irã vai fazer bomba nuclear ou não vai fazer bomba nuclear; se ele vai aceitar a proposta da Agência Internacional de armas atômicas [Agência Internacional de Energia Atômica] ou não, (incompreensível). E qual era o grande problema? O grande problema era que o Irã não se sentava à mesa para negociar. Era a queixa dos americanos, a queixa dos franceses, a queixa dos ingleses, a queixa dos chineses, a queixa dos russos. Na última reunião, em Pittsburgh, no ano passado, eu perguntei para todos os líderes, do Hu Jintao ao Obama, se eles já tinham conversado com o companheiro Ahmadinejad. Ninguém nunca tinha conversado, inclusive a nossa querida Angela Merkel, primeira-ministra da... chanceler da Alemanha, nunca tinha conversado. Todo mundo, todo mundo falava mal do Irã, mas ninguém nunca tinha sentado, num tête-à-tête, para conversar. Pois bem, eu fui. Vocês estão lembrados que eu estava viajando para lá, e a imprensa cansou de publicar declarações "O Lula é ingênuo. O Lula está acreditando em fantasias. O Ahmadinejad está enganando o Lula, está enganando a Índia". Eu falava: não. Vocês estão lembrados que eu estava na Rússia e a imprensa perguntou para o presidente Medvedev: "De zero a cem, qual é o percentual que você acredita, de possibilidade do Ahmadinejad negociar?" O Medvedev falou: "30%". Eu falei: pô, 30% não é otimismo, Medvedev. Otimismo é o meu: 99,9%. Pois bem, cheguei em Teerã, o que aconteceu? Depois de 18 horas de conversa, aquilo que os americanos não estavam conquistando há 31 anos - não é há 3 anos, não -, há 31 anos... Não é o caso do Obama. Já teve Obama, Clinton, Bush pai, Bush filho, Reagan, todo mundo... Aquilo que eles não conseguiram em 31 anos, nós conseguimos em 18 horas de conversa e o Irã resolveu se sentar à mesa para negociar, numa demonstração de que o diálogo é a melhor forma de você resolver os conflitos. Não atirando, como Israel atirou ontem em um barco turco que ia levar comida para a Faixa de Gaza, um barco que estava em águas internacionais. Existem milhões e milhões e milhões de razões para a gente construir a paz e não existe uma única razão para a gente construir a guerra. É este país que sabe fazer paz porque o povo brasileiro é pacífico, porque nós gostamos de ser bons, porque nós gostamos de ser generosos. É este país que está dizendo ao mundo: em vez de armas e em vez de balas, mais comida e mais diálogo, mais emprego e mais salário, para que a gente possa resolver todas as crises do mundo.
Quero, do fundo do coração, agradecer a vocês e dizer para vocês: não pensem que vão se livrar de mim porque eu, ainda este ano, virei fazer campanha na porta da Volkswagen, lá fora, lá fora. E no ano que vem, não se desesperem se, em vez de encontrar o Nobre ou o Chalita em cima de um caminhão, vocês virem o ex-presidente Lula conversando com vocês às 6h da manhã.
Um abraço, que Deus nos abençoe.
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