Fermento para grandes debates, o programa Mais Médicos, que muitos
dizem ser um compromisso que Lula assumiu com a ditadura dos Castro e
que só agora Dilma começa a cumprir, após quase três anos de sua posse,
ainda vai dar pano para manga.
Na semana passada, o artigo desta página comparou o projeto liderado
pelo ministro Alexandre Padilha com a decisão da equipe econômica de
Fernando Collor, no início dos anos 90, responsável por trazer a marca
Lada para o Brasil e pela abertura do mercado de automóveis para os
importados, o que, consequentemente, culminou com a modernização dos
automóveis do Brasil.
Passada uma semana da chegada dos primeiros profissionais cubanos, as
notícias geradas são, até o momento, um turbilhão de dúvidas sobre o
sucesso do programa e de seu impacto na popularidade da presidente.
Porém, a importação em discussão gera mais melindres. Os protestos de
médicos recém-formados nos aeroportos onde os primeiros cubanos
desembarcaram revelaram, além da indignação dos doutores brasileiros, um
preconceito que de leniente não tem nada, como se o problema em questão
fosse de quem descia do avião, e não dos que, às escuras, forjaram esse
tipo de política, em que a parte mínima da remuneração, antes de chegar
aos bolsos dos médicos importados, transita pelos cofres governamentais
da ilha comunista.
Aos enviados de Cuba só restam manifestações de lamento pelas redes
sociais e, claro, a obediência, como a de um cão escaldado, acostumado
com as duras penas de um proprietário cruel. Afinal, qualquer fato que
possa ser interpretado como contrariedade pelos dirigentes da ilha pode
significar deportações e castigos aos familiares que em Cuba
permaneceram.
Passada a saraivada de humilhações e de constrangimentos tanto para
brasileiros, acusados de racismo, quanto para cubanos, alçados à
condição de vítimas, os outros problemas, como as portas dos carros da
Lada que não fechavam nos anos 90, já começam a se empilhar.
DEMISSÃO DOS BRASILEIROS
Com menos de sete dias da chegada dos profissionais, prefeitos de
diversos rincões do Brasil já anunciaram a demissão de médicos
brasileiros, que, segundo os políticos, “ganham muito”, e que absorver
os profissionais do programa de Dilma é um negócio e tanto.
A justificativa, sob o ponto de vista simplista da compensação para
esses administradores municipais, é cabível, afinal, o que é preferível?
Pagar R$ 30 mil para um brasileiro ou receber um médico cubano sem
pagar nada (os R$ 10 mil pagos aos médicos estrangeiros são totalmente
desembolsados pelo Ministério da Saúde)?
Ao que tudo indica, nos lugares mais longínquos, os benefícios tardarão, pois chegará um cubano e deixará o posto um brasileiro.
Associações médicas, diante da decisão da Justiça de negar a
ilegalidade do programa, pediram “juízes importados”, levando outro tipo
de crise para o colo de Dilma. Os dias da presidente não estão sendo
fáceis. O Mais Médicos, pelo andar da carruagem, será muito mais
confusão do que solução.
Heron Guimarães