Principal alternativa do PT ao ex-presidente Lula na disputa presidencial de outubro, o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, atual secretário de Desenvolvimento Econômico do estado, foi indiciado criminalmente pela Polícia Federal. Ele foi alvo da Operação Cartão Vermelho, que investiga irregularidades na contratação da demolição, reconstrução e gestão da Arena Fonte Nova, em Salvador, um dos estádios da Copa do Mundo de 2014. A PF suspeita que Wagner tenha levado R$ 82 milhões de valores desviados das obras do estádio. Ele foi governador entre 2007 e 2014. A PF fez busca e apreensão na casa dele e chegou a pedir a prisão do petista, negada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Houve busca também no gabinete de Wagner na secretaria. Em nota, a PF informou que ‘entre as irregularidades já evidenciadas no inquérito policial estão fraude a licitação, superfaturamento, desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro’. A defesa do ex-governador nega irregularidades e diz que as acusações são “factoides”.
A Operação da PF apreendeu 15 relógios na casa do ex-governador. “É sabido que ele tem muito interesse em relógios. Hoje foram apreendidos cerca de 15 relógios de luxo. A gente ainda vai analisar o valor desses relógios, porque vai ser submetido à perícia técnica para calcular o valor”, afirmou a delegada da Polícia Federal Luciana Matutino Caires.
“Conforme apurado durante as investigações, a licitação que culminou com a Parceria Público Privada 2/2010 foi direcionada para beneficiar o consórcio Fonte Nova Participações (FNP), formado pelas empresas Odebrecht e OAS. A obra, segundo laudo pericial, foi superfaturada em valores que, corrigidos, podem chegar a mais de R$ 450 milhões, sendo grande parte desviado para o pagamento de propina e o financiamento de campanhas eleitorais”, afirma a PF.
Os sete mandados expedidos pelo TRF-1 foram cumpridos em órgãos públicos, empresas e endereços residenciais dos envolvidos no esquema para apreensão de provas complementares dos desvios nas contratações públicas, do pagamento de propinas e da lavagem de dinheiro.
A PF pediu a prisão de Jaques Wagner, do secretário de Casa Civil do estado, Bruno Dauster, e de um empresário, todas negadas pelo TRF-1. Segundo o superintendente da PF na Bahia, Daniel Justo Madruga, os investigadores queriam inicialmente a condução coercitiva dos três suspeitos. Como a medida está suspensa desde dezembro, por decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal requereu a prisão temporária.
“Entendíamos que neste momento seria importante a condução coercitiva dos investigados para que eles depusessem sem a possibilidade de combinar nenhum tipo de resposta, mas por decisão do Supremo Tribunal Federal as conduções coercitivas estão suspensas. Não se pode adotar esse tipo de medida. Entendíamos que era necessária a condução. Não havendo a possibilidade de condução, alternativamente se pediu a prisão temporária, que foi negada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região”, afirmou Madruga.
“Em razão das delações da Odebrecht e de material apreendido na OAS, verificamos que de fato o então governador recebeu boa parte do valor desviado do superfaturamento para pagamento de campanha eleitoral e de propina. Havia dois intermediários, seja pela OAS seja pela Odebrecht, que também foram alvo de busca nesta data. Um desses intermediários é o atual secretário da Casal Civil do Governo do Estado da Bahia e outro é empresário muito próximo do então governador e que também foi alvo de busca nesta data”, disse a delegada da PF Luciana Matutino Caires.
ACUSAÇÕES SÃO ‘INFUNDADAS’
Em entrevista coletiva, Jaques Wagner classificou como “infundadas” as acusações da PF. “Eu não sei de onde tiraram aquele valor de R$ 82 milhões e acho estranho que, antes de a investigação chegar ao fim, alguém já se pronuncie nesses termos [...] Então, repilo a ideia de receber propina. Nunca recebi e nunca pedi propina.” Na coletiva, Wagner respondeu a uma pergunta sobre a possibilidade de as acusações terem motivação política e afirmou que ele é tido como “plano B” do partido nas eleições presidenciais. “Quando a gente chega no ano eleitoral, efetivamente, sou citado como plano B, o [Fernando] Haddad é citado como plano B, e também foi contra ele aberto um inquérito. Eu, então, prefiro que as coisas se esclareçam para que eu possa me defender”, disse.
O ex-governador negou que os relógios apreendidos são de luxo. “Eu estou com minha cabeça absolutamente tranquila. Vou aguardar o final desse inquérito. Vamos ver o que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal dirão e eu vou me defender com muita tranquilidade”, disse.
A cúpula do PT classificou as buscas da PF como “mais um episódio da campanha de perseguição” contra o partido e acusou abuso de autoridade de “setores” do Judiciário. Wagner é o nome mais cotado, até agora, para ser candidato do PT ao Palácio do Planalto caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja impedido de concorrer por causa da Lei da Ficha Limpa. Atualmente no cargo de secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia, Wagner sempre apareceu como o mais cotado para substituir Lula. Outro nome é o do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, coordenador do programa de governo de Lula.
“A escalada do arbítrio está diretamente relacionada ao crescimento da pré-candidatura do ex-presidente Lula nas pesquisas, nas manifestações populares, nas caravanas de Lula pelo Brasil. “Quanto mais Lula avança, mais tentam nos atingir com mentiras e operações midiáticas”, disse a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), em nota.
O governador da Bahia, Rui Costa (PT), saiu em defesa de Wagner ao afirmar que confia na “lisura” dele e que a investigação tem cunho político. Para o governador, as buscas na residência e no gabinete de Wagner na secretaria têm “cunho midiático e político”, porque, segundo ele, equipes de reportagem chegaram à casa do ex-governador antes dos policiais. “Quando uma televisão ou a imprensa chegam antes nos locais em que vai ter operação policial, fica claro que a operação não tem um fim da investigação, ela tem um fim jornalístico, midiático e político- partidário”, disse Costa.