Uma
parte da história do Brasil está encaixotada em um subúrbio carioca em
situação precária e corre sério risco de se perder. São caixas e mais
caixas contendo cartas, documentos, livros, fotografias e objetos
pessoais que pertenceram a um dos mais destacados líderes trabalhistas
brasileiros, Leonel de Moura Brizola, morto em 2004, aos 82 anos. O
acervo que o ex-governador amealhou ao longo de sua vida pessoal e
política e que de tão extenso não cabia nas residências que ele mantinha
no Rio de Janeiro e em Montevideú (Uruguai) – tanto que parte dele
ficava guardada em uma casa alugada no Bairro Santa Teresa, também na
capital fluminense – foi levado há cerca de cinco anos para um depósito,
localizado na entrada da Favela da Galinha, em Inhaúma, Zona Norte do
Rio de Janeiro, região controlada pelo tráfico.
O prédio que
abriga esse material valioso fica dentro do pátio de caminhões de uma
transportadora e serve também como guarda-móveis. Algumas janelas da
construção estão quebradas e a fachada está mofada, com sinais de
infiltração. Para ter acesso à sala do prédio onde estão os documentos
do ex-governador é preciso autorização expressa de João Otávio Brizola,
60 anos, único filho vivo de Brizola. João Otávio e os sobrinhos Paulo
Cesar e Layla Brizola, filhos de Neuzinha Brizola, única filha de
Brizola, falecida em 2011, são os donos de todo esse material. Segundo
apurou o Estado de Minas, depois de uma disputa pelo espólio do pai com o
irmão José Vicente, falecido ano passado, eles fizeram um acordo e
compraram dele os direitos sobre todo o acervo.
No entanto, a
briga continua. Amigos de José Vicente dizem que ele não teria recebido o
pagamento prometido pelo acervo. Pessoas ligadas a João Otávio negam. A
deputada estadual Juliana Brizola (PTD-RS), filha de José Vicente, não
quis conversar com o Estado de Minas sobre o assunto. Seus dois irmãos, o
vereador fluminense Leonel Brizola (PDT) e o deputado federal Brizola
Neto (PDT-RJ), não foram localizados ontem para falar do caso. De
Londres, João Otávio disse que só poderia dar entrevistas em seu retorno
ao Brasil. Ele informou apenas que somente com sua autorização é
possível a visitação ou a retirada do acervo do guarda-volumes. Layla
Brizola disse que tudo “está bem guardadinho” e que a intenção deles é,
futuramente, organizar toda a documentação e quem sabe abrigá-la em uma
fundação.
Hoje o guardião dessa preciosidade é um português de 62 anos, seu Manoel
de Oliveira Gonçalves, dono da transportadora e do guarda-volumes.
Ciente da importância do acervo que mantém em seu prédio e da disputa,
ainda travada na surdina pela família em torno desses documentos e
objetos, ele não deixa ninguém entrar na sala onde o material está
guardado. De vez em quando, algum funcionário da família liga ou vai ao
local para conferir se tudo continua no mesmo lugar. Apesar de estar
localizado em uma região dominada pelo tráfico e pela criminalidade, seu
Manoel garante que não há risco de o material ser furtado. Há nove anos
no local, ele afirma que foi assaltado apenas uma vez.
Uma pessoa que já viu a situação do acervo e preferiu não ser
identificada disse que tudo está se perdendo. Segundo ela, as caixas
estão mofadas, rasgadas e guardadas sem nenhum cuidado. “Está tudo
jogado, abandonado, se perdendo. Dá até dó”, relata.
Entre a papelada depositada precariamente no guarda-volumes, em Inhaúma,
no Rio de Janeiro, haveria fotos e correspondências de Leonel Brizola
com líderes da esquerda como Fidel Castro e Che Guevara, além de vasta
documentação sobre a Rede da Legalidade, movimento organizado por ele em
1961, quando ainda era governador do Rio Grande do Sul, para garantir a
posse do vice-presidente João Goulart. A Fundação Getulio Vargas (FGV),
que leva o nome do presidente e padrinho de casamento de Brizola,
tentou comprar o acervo, mas a disputa judicial pelo espólio do
ex-governador impediu a negociação.
Em 2005, um ano depois da morte de Brizola, toda a documentação quase foi parar no Rio Grande do Sul. A família de Brizola chegou a acertar com o governo gaúcho a transferência do acervo. Um grupo de historiadores viajou ao Rio de Janeiro para uma classificação inicial do material, na época guardado no apartamento que Brizola mantinha na Avenida Atlântica, em Copacabana.
Também nessa época, a família se comprometeu a fazer a triagem dos documentos que foram catalogados pelo governo gaúcho e mandar o que achasse relevante para o Arquivo Público do Rio Grande do Sul. A intenção era construir um memorial no estado natal de Brizola e manter parte dos documentos no Rio de Janeiro, estado adotado por Brizola e governado por ele por dois mandatos. No entanto, uma divergência entre os irmãos impediu mais uma vez que todo esse “baú”, como o próprio se referia ao seu acervo, se tornasse público.
Em 2005, um ano depois da morte de Brizola, toda a documentação quase foi parar no Rio Grande do Sul. A família de Brizola chegou a acertar com o governo gaúcho a transferência do acervo. Um grupo de historiadores viajou ao Rio de Janeiro para uma classificação inicial do material, na época guardado no apartamento que Brizola mantinha na Avenida Atlântica, em Copacabana.
Também nessa época, a família se comprometeu a fazer a triagem dos documentos que foram catalogados pelo governo gaúcho e mandar o que achasse relevante para o Arquivo Público do Rio Grande do Sul. A intenção era construir um memorial no estado natal de Brizola e manter parte dos documentos no Rio de Janeiro, estado adotado por Brizola e governado por ele por dois mandatos. No entanto, uma divergência entre os irmãos impediu mais uma vez que todo esse “baú”, como o próprio se referia ao seu acervo, se tornasse público.