“Sinto-me autorizado a alertar a nação brasileira de que este é
apenas o primeiro passo. Esta maioria de circunstância tem todo tempo a
seu favor para continuar nessa sua sanha reformadora.” A frase do
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, ao final
do julgamento que absolveu oito réus do crime de formação de quadrilha
no processo do mensalão – entre eles o ex-ministro José Dirceu, o
ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-presidente do partido José
Genoino – oferece múltiplas interpretações.
“Este é apenas o primeiro passo” significa, no mínimo, que Joaquim Barbosa dá asas à imaginação da imprensa e da especulação sobre sua possível aposentadoria precoce e até a entrada na política, inclusive em disputas eleitorais. O ministro sempre negou, mas muita gente não acredita em sua sinceridade.
Quando completou o primeiro comentário, o presidente do Supremo colocou ainda mais lenha na fogueira do aspecto político de seu voto: “Essa maioria de circunstância formada sob medida para lançar por terra todo um trabalho primoroso, levado a cabo por esta corte no segundo semestre de 2012” é frase claramente destinada à presidente Dilma Rousseff, pelas indicações dos novos ministros Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki, que votaram pela absolvição. Não custa lembrar que o placar foi 6 a 5.
Sobre a migração do Poder Judiciário para o Poder Legislativo, que Barbosa – como já dito – nega, não custa lembrar que ele já recebeu, extra-oficialmente, convite do PSB do presidenciável e governador de Pernambuco Eduardo Campos, que comanda a legenda, para disputar uma vaga no Senado.
Pode ser apenas um primeiro passo, mas é certo que não houve um constrangimento semiaberto no Supremo Tribunal Federal no julgamento de ontem. Foi totalmente aberto.