O mês de julho marca a morte de Lampião, o maior líder do cangaço brasileiro. Mas quem foi esse homem, misto de herói e bandido, tido por muitos como o 'rei do sertão'? Virgulino Ferreira da Silva nasceu em 1900, no interior de Pernambuco. Muito cedo caiu na marginalidade, levado por desavenças familiares e políticas.
Para vingar a morte do pai, juntou-se a outros 'fora da lei' e formou um bando armado, cujo lema era 'matar ou morrer'. Seu apelido Lampião surgiu durante um combate com uma 'Volante' – tropa militar da Força Pública pernambucana –, quando sua espingarda atirou tanto que provocou um enorme clarão.
O serão nordestino, nas décadas de 20 e 30, era palco propício para o aparecimento de convulsões sociais – secas, decadência da lavoura algodoeira e distância gritante entre pobres e ricos. Em 1925, foi convidado para combater a Coluna Prestes. Em sua marcha pelo Nordeste, recebeu armas, cavalos e um duvidoso posto de capitão, conferido por um funcionário do governo.
Não combateu Prestes, porém conservou a patente de 'capitão', adotando o nome do qual se orgulhava: capitão Virgulino. Várias vezes tentou viver de modo sedentário no sertão, sob a proteção de algum coronel fazendeiro, mas o apelo do cangaço mais a perseguição a que era submetido acabaram por torná-lo um andarilho do sertão. Uniu-se a Maria Bonita, uma jovem sertaneja retirante, com quem teve vários filhos e que o acompanharia por toda a vida.
A mulher representou um papel importante no cangaço – era freio de violências, evitando castigos hediondos. Lampião se interna na caatinga para fugir da perseguição policial. Fere-se e perde um olho, perfurado por um espinho. O governo estadual coloca sua cabeça a prêmio e organiza batalhões para combatê-lo.
Os 'macacos', como eram chamados os soldados das forças públicas, apertam cada vez mais o cerco contra Lampião. Seu bando foi dizimado na localidade de Angicos e quase todos mortos. Lampião e Maria Bonita foram mortos e suas cabeças arrancadas e exibidas posteriormente em museu, em Salvador.
O folclore nordestino canta Lampião de várias formas: em músicas, romances e cordéis. Hoje, ele pode ser visto de outra forma – como ponto de luta entre latifundiários e a favor das massas oprimidas. O campesinato sofrido o identifica com o lema 'fazer justiça com as próprias mãos'. Pode ser símbolo da luta dos deserdados da sorte e contra os poderosos. E, quem sabe, um Robin Hood do sertão?