terça-feira, 18 de setembro de 2012
Rir com dente é fácil
Artigo escrito pela Dra. Elizabeth Rondelli, Doutora em Ciências Sociais, professora aposentada das Universidades Federais do Rio de Janeiro e Juiz de Fora:
“Meu Amigo Petista”
Tenho um amigo petista (pessoa incrível e honestíssima), que escreveu sobre o relatório da OIT - Organização Internacional do Trabalho, mostrando que a pobreza no Brasil caiu 36% em 6 anos, e dizendo que deve ter gente mordendo os cotovelos de tanta raiva. Não resisti e respondo publicamente.
‘Rir com dente é fácil’.
Quero ver agora que o preço das commodities caiu, que o modelo de exploração de petróleo criado pela presidanta prova-se inviável, que a Petrobras não consegue mais segurar a inflação artificialmente baixa, que o pibinho petista não vai sequer chegar a 2%, que o Brasil começa a ser encarado como um país onde é difícil fazer negócio por tanta intervenção e achaques às empresas, que o prazo razoável de fazer as importantes reformas (previdenciária, tributária, fiscal, política…) já venceu, que não houve um mísero progresso nas variáveis que impactam o aumento da produtividade e da competitividade (infraestrutura, educação, ciência e tecnologia), que todos os esforços foram direcionados à anabolização dos números no curto prazo em detrimento da poupança e do investimento no longo, que os sete (eu disse SETE) pacotes lançados nos últimos meses para tentar ressuscitar o paciente moribundo mostraram-se tão patéticos quanto as pessoas que os maquinaram, que as famílias estão endividadas até o talo de tanto estímulo ao consumo, que a arrecadação já dá demonstração de queda (mesmo com o aumento das alíquotas, o que representa perda real em base tributável — ou atividade econômica)…
Eu poderia continuar por mais uma semana elencando a sequência de burradas dos governos petistas. E olha que eu nem entrei no mérito moral — aí, é “capivara” mesmo, ficha policial!
Com economia aquecida e uma carga tributária boçal (em ambos sentido: quantidade e qualidade), é fácil ter muito dinheiro para gastar. Distribuir aos pobres parece coisa de gente de bom coração. Renda na mão de pobre vira consumo e consumo conta para o PIB. E, na mão de petista, vira voto na certa.
Mas agora que o dinheiro vai começar a rarear, quero ver onde vai estar o coração dessa gente. Ou vão cravar mais fundo os dentes no setor produtivo da sociedade ou vão ter que escolher o que deixa de receber recursos. Tenho certeza de que o caixa 2 das campanhas eleitorais deles está garantido — até porque este parece ser (por mais surreal que possa parecer) o ÁLIBI dos 36 réus do mensalão.
O fato é que, 10 anos depois, o pobre brasileiro pode ter ficado momentaneamente menos pobre na carteira, mas não se tornou um milímetro mais capaz de enfrentar os desafios do mundo moderno em que o país compete. Basta ver que os analfabetos funcionais das faculdades de gesso do Luladdad chegam a 38% (é inacreditável, mas é verdade).
Acabada a farra da gastança, voltaremos para a mesma estaca em que estávamos antes. Um pouco piores, na verdade, graças aos retrocessos que representam os constantes ataques às instituições da sociedade (a Justiça, a liberdade de imprensa, a independência dos poderes, o que restava de honradez no Congresso, a política externa que deixou de servir à nação para se dobrar a um projeto particular de poder…) e às bases da economia de mercado tão sólidas que os petistas herdaram de seus antecessores mais capazes (a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Bolsa Escola — este, sim, carregava uma contrapartida que produzia um efeito positivo no longo prazo em vez de boçalizar a população com esmola–, a autonomia do Banco Central, a confiabilidade dos dados oficiais, o modelo de privatização, o ordenamento jurídico que atraiu o investidor estrangeiro, a estabilidade econômica e de regras, a não-intervenção nos mercados…).
Eu não mordo os cotovelos porque as pessoas estão menos pobres. Mordo de ver que o PT transformou em mais um vôo de galinha a maior oportunidade que o Brasil jamais teve de entrar definitivamente para a elite global. Mordo de ver que gente inteligente como você não consegue perceber a destruição do nosso futuro que está sendo promovida dia após dia por gente que só quer se locupletar e perpetuar seu poder sobre a máquina estatal — cada dia maior e mais nefasta para a economia e, por extensão, à sociedade. Mordo de ver que estamos abandonando as fontes que trouxeram riqueza para este país para nos alinharmos cada dia mais aos membros do Foro de São Paulo — do qual fazem parte o mais abominável ditador do século na América do Sul e o grupo narco-guerrilheiro que ele apóia no país vizinho. Mordo de ver que gente do bem ainda se alinha com os maiores bandidos que já ocuparam o poder central deste país. Mordo de pena. Mordo de tristeza. Mordo de desesperança.
Punição modelo
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Violência contra a Mulher
esteve, na semana passada, em Queimadas, na Paraíba. A escolha da cidade
é emblemática. Em fevereiro houve um estupro coletivo de cinco mulheres
e duas delas foram assassinadas. São 10 homens os acusados de terem
cometido os crimes, dois deles menores. A relatora da CPI, a senadora
capixaba Ana Rita, do PT, pediu que a punição dos culpados seja
exemplar. É bom mesmo que isso aconteça.Se bem que tudo que vem do PT...
Uma bomba atômica chamada "núcleo político"
A imprensa batizou de “núcleo político” a nova fase do julgamento do
escândalo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF). Sem querer,
acabou encontrando um apelido muito apropriado para essa etapa em que
estão no banco dos réus caciques do PT como o ex-ministro da Casa Civil
José Dirceu, o ex-presidente da legenda José Genoino e o ex-tesoureiro
Delúbio Soares. Se é núcleo, é melhor recorrer à física. É de alto teor
explosivo, quase uma bomba atômica, daí o núcleo da fissão que causa
tanto estrago.
Se com os três já há megatons suficientes para
abalar a estrutura, ainda é preciso incluir gente como o presidente do
PTB, Roberto Jefferson, o deputado Valdemar da Costa Neto, que comandava
o PL, hoje PR, e o ex-ministro dos Transportes, hoje prefeito de
Uberaba, Anderson Adauto.
Para ter uma ideia do que está por vir, o
ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, já avisou que precisará
de, pelo menos, duas sessões para dar o seu voto. Sinal de que vem mesmo
chumbo grosso por aí. Barbosa tem sido implacável no julgamento até
agora. Não é à toa que os réus andam tão preocupados.
A
expectativa é de que esta nova fase leve duas semanas, no mínimo. Serão
sessões de fortes emoções, porque vão deixar de lado as filigranas
jurídico-financeiras do início e servir um prato político bem
apimentado. José Dirceu, como seus companheiros, jura inocência. E com a
cara lavada. O que não é difícil para alguém que, na época da ditadura,
depois de fazer plásticas, escondeu a verdadeira identidade até para a
própria mulher.
Os próximos dias serão de tirar o fôlego no
Supremo Tribunal Federal. As atenções políticas vão descer dos palanques
das eleições municipais para ficar de olho no que os ministros vão
fazer no julgamento que já entrou para a história.
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