Greve da Polícia Militar, privatização dos aeroportos e o primeiro teste
de fogo do PSD como um dos novos protagonistas da política nacional.
Esses assuntos, somados à troca de comando nas Cidades, prometem dominar
parte da semana política que teremos pela frente. E desses, o que mais
serve para desgastar o governo é mesmo a greve da PM.
As greves
eram favas contadas desde o início de janeiro, quando da paralisação no
Ceará. O governo federal já esperava que o movimento surgisse em outros
estados, como forma de pressionar o Congresso a aprovar a PEC 300, que
equipara os salários dos policiais de todo o país aos valores pagos em
Brasília. Mencionamos aqui, em janeiro, quando o governo Dilma já havia
alertado alguns estados.
No caso da Bahia, se a oposição queria
alguma chance de colocar o governador em maus lençóis, a oportunidade
chegou. Assim como em Fortaleza, não se teve notícias de um trabalho
preventivo em Salvador, capaz de evitar a sensação de insegurança. E,
para completar, a infeliz coincidência da viagem do governador com a
presidente. Jaques Wagner passava alguns dias em Cuba, na comitiva de
Dilma, enquanto o caldeirão esquentava. Se os oposicionistas baianos não
surfarem nessa onda, talvez não tenham outra tão boa.
Por falar em surfar...
No
caso da privatização dos aeroportos, a onda pró-oposição não parece ser
tão grande quanto a da greve baiana. O leilão dos aeroportos de
Guarulhos, de Campinas e de Brasília foi mantido pelo Tribunal de Contas
da União (TCU), apesar das ressalvas. Se os vencedores conseguirem
cumprir um cronograma de obras capaz de dar aquela impressão de que tudo
estará melhor na época da Copa, Dilma agregará valor ao seu discurso.
Todos
sabem que os atrasos decorreram da resistência política do governo Lula
em abrir os aeroportos à iniciativa privada, uma vez que o poder
público tinha outras prioridades. Para completar, Lula precisava de
todos os cargos disponíveis no poder público para abrigar companheiros e
partidos aliados.
Agora, o governo Dilma tem uma base tão
grande que não precisa mais de tanta gente assim. Portanto, dispensar
esses cargos nos aeroportos é uma coisa a menos para resolver e o estado
ainda ganha recursos para incrementar serviços, como a aviação
regional.
Além desse lado prático, há o político: ao optar pela
privatização dos aeroportos, Dilma faz a atitude de Lula, de críticas a
esse modelo, virar coisa do passado. Portanto, se o leilão dos
aeroportos hoje for um sucesso e as obras ocorrerem a contento, pode
estar aí um início do descolamento de Dilma Rousseff de seu criador, o
ex-presidente Lula.
Dilma tem hoje uma popularidade maior do que
a de seu antecessor. Conseguiu manter essa imagem em viés de alta
depois da queda de sete ministros por suspeitas de corrupção. Se a
privatização for positiva, ela passará a ideia de que o modelo Lula, de
tudo estatal, ficou para trás. Dilma pode até perder uma parte do
eleitorado à esquerda, mas ganhará entre aqueles que defendem um Estado
mais enxuto.