O governo Lula será lembrado por ter melhorado as condições de vida dos excluídos ou por um dos maiores escândalos de corrupção da história do país? |
A volta de Lula é inevitável, por razões diversas, como a alta popularidade com a qual deixou o governo, a vitória de sua candidata e o apego ao poder. É muito cedo para a formação de uma visão consistente sobre a herança dos oito anos do governo dele. É assunto para historiadores e cientistas políticos nos próximos anos e décadas, mas não há como negar, ainda que pra inglês ver, que o aumento do salário mínimo, a distribuição de renda e a elevação do crédito garantiram uma vida melhor e cidadania a setores historicamente excluídos pela ditadura e pelo neoliberalismo e levaram à eleição de Dilma Rousseff não fosse a máquina montada por Lula e o PT.
É claro que tudo começou com a abertura da economia brasileira durante o governo Collor, deu os primeiros passos no governo FHC e deslanchou no governo Lula. Deslanchou, diferentemente dos antecessores, porque houve uma opção clara pelos menos favorecidos. Puro paternalismo e mero assistêncialismo. A expectativa é de que o governo Dilma siga a mesma política, com mais emprego e geração de renda para que os brasileiros passem da cidadania concedida para a cidadania conquistada. Eu disse "expectativa!".
Por outro lado, não dá para negar também o vergonhoso escândalo do mensalão (até hoje Lula diz que não sabia da existência ou finge não saber!) e o aparelhamento excessivo dos órgãos públicos comandados por petistas desqualificados em detrimento da capacitação técnica. Faltaram ao seu governo muitas reformas essenciais, principalmente a política, que mantém o país no atraso do voto personalizado e de cabresto. Não se vota em partidos ou ideias, mas em pessoas, a maioria sem compromisso com o social e o interesse público. O financiamento de campanha, outra aberração, também passou ao largo. Do jeito que é hoje, serve para enriquecimento ilícito ou cobrir campanhas eleitorais suspeitas. Lógico que uma reforma, seja qual for, não depende só do presidente, mas faltou a Lula vontade e mobilização para fazer o Congresso Nacional tocar a reforma política. No fim de seu governo, ele chegou a propor uma assembleia nacional constituinte para discutir o assunto.
Imaginário popular
Certo ou errado, atropelando a língua e o protocolo, ignorando a corrupção, Lula fala o que os mais pobres querem ouvir. É claro que sua origem miserável, de quem veio da base da pirâmide social, é fundamental nessa popularidade. A figura rude, o jeitão emotivo para chorar e esbravejar, o passado de sindicalista que forjou sua língua afiada e popular. Tudo isso colabora para reforçar seu nome no imaginário popular. A grande questão é a seguinte: o governo Lula será lembrado por ter melhorado as condições de vida dos excluídos ou por um dos maiores escândalos de corrupção da história do país? Depende do ponto de vista.
Só o tempo dirá.