O assassino Viaduto das Almas |
A maior malha de rodovias federais do país continua fazendo de Minas um
cenário de tragédias que, de tão repetidas nos mesmos locais,
desmoralizam a máxima de que a imprudência dos motoristas é a vilã das
centenas de mortes e milhares de feridos que engordam as estatísticas
macabras.
O antigo Viaduto das Almas, na BR-040, só foi aposentado depois de mais de 50 anos de comprovada eficiência na produção de acidentes, com sua pista estreia e em curva. A Rodovia da Morte, velha frequentadora do noticiário de dores e lágrimas ainda é um desafio à crença dos mineiros em dias melhores, mesmo depois da concessão da BR-381, trecho entre Belo Horizonte e João Monlevade.
A propósito, a concessão à iniciativa privada, última esperança das pessoas que já perderam e das que ainda não perderam parentes e amigos nas BRs assassinas, tem revelado um lado frio e desumano. Projetos, planilhas e estudos que precedem a execução das obras e alimentam uma poderosa burocracia dos órgãos subordinados ao Ministério dos Transportes, passam longe daquilo que, para muitos, deveria ser o principal: a urgência em preservar vidas humanas.
Parece um capricho da maldade, uma coincidência patrocinada pela dor e pela morte, mas é comum os trechos que se tornaram célebres pelo número de cruzes à beira da estrada serem tratados com um indiferença irritante e, pior ainda, mortal. Ficam quase sempre para depois, nunca são corrigidos primeiro, nem mesmo em homenagem aos que ficaram para sempre naqueles pontos mais perigosos.
Foi assim que mais uma novela, que tinha sido aberta com alegria efêmera, foi fechada com tristeza e revolta. Desta vez foi na BR-262, no fatídico KM509, no Centro-Oeste do estado. Nem mesmo o fato de a sede do município ter nome em homenagem a Nossa Senhora (do Aterrado) da Luz conseguiu, até hoje, iluminar os engenheiros do antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) e do atual Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para que corrigissem o declive em forma de “S” ali existente.
Apelidado de Curva da Estiva e famoso por seu ponto crítico que rouba do motorista o controle do veículo, o declive viu, no começo da noite de domingo, mais um ônibus despencar de um barranco de 15 metros. Com isso, esse matadouro rodoviário aumentou sua coleção de desgraças com 10 mortos e 44 feridos. Era um ônibus de turistas que retornavam de Caldas Novas (GO) para Brumadinho, na região Central de Minas.
Tudo isso aconteceu pouco depois que a duplicação da BR-262 foi festivamente concedida a um consórcio de empresas privadas. Mas, para manter a macabra coincidência, soube-se depois do acidente que o local continuará matando por pelo menos mais cinco anos. É que as obras de duplicação da rodovia, trecho que vai de Nova Serrana até Uberaba, só ficarão prontas em 2019 e, é claro, a Curva da Estiva será dos últimos trechos a serem reformados.
A lógica da engenharia de estradas, se é que há nisso alguma lógica, parece levar muitas outras coisas em conta antes de definir seu cronograma. A vida dos usuários, como se vê, é uma das últimas.
O antigo Viaduto das Almas, na BR-040, só foi aposentado depois de mais de 50 anos de comprovada eficiência na produção de acidentes, com sua pista estreia e em curva. A Rodovia da Morte, velha frequentadora do noticiário de dores e lágrimas ainda é um desafio à crença dos mineiros em dias melhores, mesmo depois da concessão da BR-381, trecho entre Belo Horizonte e João Monlevade.
A propósito, a concessão à iniciativa privada, última esperança das pessoas que já perderam e das que ainda não perderam parentes e amigos nas BRs assassinas, tem revelado um lado frio e desumano. Projetos, planilhas e estudos que precedem a execução das obras e alimentam uma poderosa burocracia dos órgãos subordinados ao Ministério dos Transportes, passam longe daquilo que, para muitos, deveria ser o principal: a urgência em preservar vidas humanas.
Parece um capricho da maldade, uma coincidência patrocinada pela dor e pela morte, mas é comum os trechos que se tornaram célebres pelo número de cruzes à beira da estrada serem tratados com um indiferença irritante e, pior ainda, mortal. Ficam quase sempre para depois, nunca são corrigidos primeiro, nem mesmo em homenagem aos que ficaram para sempre naqueles pontos mais perigosos.
Foi assim que mais uma novela, que tinha sido aberta com alegria efêmera, foi fechada com tristeza e revolta. Desta vez foi na BR-262, no fatídico KM509, no Centro-Oeste do estado. Nem mesmo o fato de a sede do município ter nome em homenagem a Nossa Senhora (do Aterrado) da Luz conseguiu, até hoje, iluminar os engenheiros do antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) e do atual Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para que corrigissem o declive em forma de “S” ali existente.
Apelidado de Curva da Estiva e famoso por seu ponto crítico que rouba do motorista o controle do veículo, o declive viu, no começo da noite de domingo, mais um ônibus despencar de um barranco de 15 metros. Com isso, esse matadouro rodoviário aumentou sua coleção de desgraças com 10 mortos e 44 feridos. Era um ônibus de turistas que retornavam de Caldas Novas (GO) para Brumadinho, na região Central de Minas.
Tudo isso aconteceu pouco depois que a duplicação da BR-262 foi festivamente concedida a um consórcio de empresas privadas. Mas, para manter a macabra coincidência, soube-se depois do acidente que o local continuará matando por pelo menos mais cinco anos. É que as obras de duplicação da rodovia, trecho que vai de Nova Serrana até Uberaba, só ficarão prontas em 2019 e, é claro, a Curva da Estiva será dos últimos trechos a serem reformados.
A lógica da engenharia de estradas, se é que há nisso alguma lógica, parece levar muitas outras coisas em conta antes de definir seu cronograma. A vida dos usuários, como se vê, é uma das últimas.