Dilma quando pensou a Comissão da Verdade imaginou alguma coisa mais
dinâmica, que através dos relatos dos porões da ditadura e de uma
consistente apuração dos fatos pudesse chamar a atenção do brasileiro
para algo descoberto e propagado no mundo civilizado desde o século
XVIII: os direitos humanos. Dilma possivelmente tinha em mente que a
partir dos relatos dos crimes da ditadura a opinião pública nacional se
inflamasse e não deixasse impunes crimes de tortura, de assassinato,
estupro e outros mais cometidos durante aquela longa noite iniciada em
31 de março de 1964. Mas, por mais que se esforcem os seus membros, a
nossa Comissão da Verdade se transformou em algo incapaz de produzir um
fato político significativo.
A chance perdida no Executivo poderia ter sido aproveitada pelo Legislativo. Lá existia uma Comissão de Direitos Humanos. Entretanto, os partidos tradicionais tinham mais o que fazer. Na partilha do jogo parlamentar, a comissão sobrou para o PSC. Não se sabe de quem foi a ideia de entregar a sua presidência ao pastor Feliciano (SP), mas é indubitável que a inspiração só pode ter sido divina. Entre a miopia dos partidos tradicionais e a notória estupidez política dos nanicos, Feliciano apareceu para salvar a cena. Através desta “incrível” criatura ficamos sabendo o que se propaga nos cultos religiosos de determinados evangélicos, do racismo fundamentalista à homofobia tradicional.
Literalmente Feliciano conseguiu o que nem “a modernidade brasileira” – se é que existiu uma – havia conseguido: quebrar o encanto do crescimento evangélico na política. Obviamente que Feliciano não representa os evangélicos como um todo. Os setores mais consequentes deste ramo religioso estão seriamente preocupados com os estragos já causados e com aqueles que ainda virão. Mas Feliciano não está só. Esta semana o PSC reiterou o apoio à sua permanência na presidência da comissão. Em nome do seu Deus, Feliciano vai continuar. Contra ele, em nome dos homens, milhões de cidadãos que anseiam pela manutenção do Estado laico no Brasil e pelo direito à diferença. Este não é o debate que a presidente queria, menos ainda o que os cidadãos brasileiros mereciam, mas enfim os direitos humanos entraram no centro da política nacional.