Ensina a sabedoria brasileira que o que começa errado termina errado.
Ensina o folclore político que o que começa errado acaba pior ainda. O
fim desastroso da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira é
exemplo pronto e acabado. Inventada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, para desconforto e apreensão no Palácio do Planalto,
especialmente de sua sucessora, Dilma Rousseff, a CPI tinha dois
objetivos básicos: servir de contraponto na mídia ao julgamento do
escândalo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) e fornecer
munição para minar a candidatura do ex-governador José Serra (PSDB) à
Prefeitura de São Paulo. Nada deu certo.
O julgamento do mensalão
faz os petistas espernearem por causa das cassações dos mandatos de João
Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar da Costa Neto
(PR-SP) e chegarem a tratar o caso como crise institucional. Esse
capítulo o governo ainda não perdeu, mas vai. Já a tentativa de acertar
Serra na briga paulistana nem foi necessária. Ele mesmo se afundou com
os erros do passado – o fato de ter abandonado a prefeitura com menos de
dois anos de mandato – e apanhou de goleada do ex-ministro da Educação
Fernando Haddad (PT), que nunca havia disputado uma eleição. Gastou
munição com a briga errada.
Sem resultado político nenhum, não
poderia ser outro o fim da CPI do Cachoeira. Melancólico, improdutivo,
sem acertar um único alvo. E olha que por suas investigações passaram
pesos pesados, como os governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral
(PMDB), aquele do champanhe em Paris, e Marconi Perillo (PSDB), de
Goiás, talvez o mais enrolado. Serra nem passou perto. Foi blindado
pelos tucanos, e os governistas não encontraram munição para acertá-lo.
Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Em nova votação, o relatório do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF), de apenas duas páginas, um sarcasmo geral, foi aprovado. De goleada, diga-se de passagem: 21 a 7. Não indicia ninguém.