De tempos em tempos, vemos uma notícia sobre um processo de falência de uma companhia aérea. Fazendo um breve histórico, podemos destacar: 2011 – American Airlines; 2010 – Japan Airlines; 2009 – AirComet; 2008 – Alitalia; 2006 – AirMadrid; e casos brasileiros que todos conhecemos (2006 – Varig; 2005 – Vasp e 2001 – Transbrasil).
O principal motivo dessas falências é a falta do equilíbrio financeiro entre a capacidade operacional instalada e a demanda projetada. Esse é o problema habitualmente encontrado em todos os serviços de massa, onde os custos são projetados de acordo com uma demanda futura. O papel do Estado nesse tipo de segmento é fundamental. Várias pessoas acham errado o uso do dinheiro público para tal, porém, sem ele, não é possível a criação e disponibilização dos serviços.
Além do setor aeroviário, todos os outros modais de transporte possuem a mesma característica: no rodoviário, a construção de rodovias ou o subsídio para transportes coletivos; no marítimo, a infraestrutura portuária e os benefícios para construção de navios; e no ferroviário, a instalação de linhas férreas que podem custar mais de US$ 1 milhão por quilômetro.
A definição das operações de uma companhia aérea tem que ser feita com um planejamento a longo prazo, pois os investimentos são altos e demandam a mobilização de atividades que vão desde a estrutura operacional em aeroportos à encomenda de novas aeronaves. Em 2011, a TAM, seguindo as previsões de crescimento do mercado brasileiro, encomendou 32 novas aeronaves com entrega programada entre 2016 e 2018. Imaginem! Estamos falando em sete anos de planejamento em um mercado altamente sensível, onde a quantidade de variáveis não controladas são enormes.
Em 2010, os cancelamentos e atrasos nos voos, devido às nuvens do vulcão na Islândia, provocaram perdas estimadas pela Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) em mais de US$ 250 milhões por dia. Esses prejuízos podem ser comparáveis aos ocorridos depois do atentado ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001, evento que impactou a demanda existente na época e que, consequentemente, provocou a falência de várias companhias aéreas.
O problema no setor é tão sério que, apesar de verem a queda na demanda, as empresas não conseguem impedir a efetivação das despesas operacionais, já que os custos não são postergáveis. Para uma companhia aérea tempo é dinheiro, pois a perda de um voo não pode ser compensada posteriormente, já que não existe um estoque físico que pode ser comercializado na normalização da demanda. Esse tipo de serviço não permite o reaproveitamento dos principais recursos envolvidos, como o financiamento da aeronave, a equipe de comissários e pilotos e até mesmo a alimentação disponibilizada nos voos internacionais.
Nesse caso, uma das formas encontradas para minimizar os impactos, foi o uso de biscoitos ou barras de cereais nos voos nacionais, o que diminuiu os custos e as perdas que existiam anteriormente. Seguindo o mesmo raciocínio, as companhias reduziram tambémos custos de operação em solo com a adoção dos bilhetes eletrônicos. Vale ressaltar que a Gol, primeira companhia a adotar tal modelo, o fez também pela falta de disponibilidade de espaços físicos nos aeroportos, o que inviabilizaria o início da sua operação nos principais aeroportos brasileiros.
Além das variáveis destacadas, o preço do combustível também afeta os resultados. No último trimestre de 2011, a Gol teve um aumento de 24,2% no preço por litro e, como o insumo, o item representa mais de 1/3 dos custos operacionais. Essa acabou sendo a principal causa do prejuízo de R$ 317 milhões apurado no período.
Demonstrados os principais motivos para a avalanche de empresas que quebram todos os anos no mundo, podemos concluir que a falência de uma companhia aérea dependerá da capacidade da gestão colaborativa entre o setor público e privado, já que, para termos uma mobilidade garantida nos principais destinos, teremos sempre que ajudar a inciativa privada na continuidade da disponibilização de voos e horários. O difícil é separar as ineficiências decorrentes das variáveis não controláveis do erro de gestão de uma companhia.