Diga-me em quem votas, e direi quem és. Aliás, nem é preciso dizer. O que tem em comum um terço dos integrantes dos Conselhos de Ética da Câmara dos Deputados e do Senado? O fato de serem processados ou alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal, já que é lá que eles prestam contas à Justiça, por causa do foro privilegiado. Faz tempo que esses conselhos estão sendo esvaziados. Deputados e senadores mais sérios, cansados de verem pizzas serem assadas uma atrás da outra, desistiram de fazer parte do colegiado. Foi o suficiente para quem tem pendências no Judiciário se aproveitar. Pois é, é nesses conselhos que serão julgados o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e os deputados que aparecem em situação comprometedora nas gravações da Polícia Federal.
Levantamento do Congresso em Foco mostra que os nobres parlamentares respondem a nada menos que 57 investigações no Supremo. Por crimes como apropriação indébita de créditos previdenciários (terror de todo empresário sério), e, como não poderia faltar, crimes contra a administração pública e a Lei de Licitação. Tradução literal: corrupção e ataque aos cofres públicos, na maior cara de pau e com a certeza de impunidade, já que está é a regra no Brasil.
Para que o enredo fique ainda mais perfeito, será divertido assistir ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que foi condenado duas vezes no Conselho, se vingar de Demóstenes Torres, um de seus principais algozes e que na época fazia o papel de paladino da ética, com discursos virulentos e agressivos. Como se diz, Renan deve andar pelos corredores do Congresso comentando com os colegas parlamentares: “Vingança é um prato que se come frio”.