Raposa política, malandro como convém aos cariocas, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pediu espontaneamente para depor e fez o seu comercial na sessão de ontem da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. E, é claro, foi efusivamente cumprimentado e recebeu várias manifestações de solidariedade. Um script previsível.
Por quase uma hora, Eduardo Cunha
leu a petição sobre ele enviada pelo procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF). E foi rebatendo ponto a
ponto as acusações. O plenário ficou em silêncio, não houve apartes.
Parecia enredo combinado. O líder do PMDB, partido de Cunha, Leonardo
Picciani, carioca como ele, usou expressões como “fragilidade dos
indícios” e “atitude cidadã”. Mas o confete estava apenas começando.
Líder do Solidariedade, Arthur Maia (BA) foi extremamente solidário ao
presidente da Câmara. Fez questão de dar os parabéns pela “brilhante
fala”. Chega a comover os cidadãos que assistem às sessões da CPI.
E para fechar com chave de ouro, até o líder do PT, Sibá Machado (AC), aproveitou para adular Cunha, que dá calafrios ao Palácio do Planalto por armadilhas que possa jogar em cima do governo. “Expresso em nome do meu partido esse respaldo de que continue presidindo a Câmara com autonomia e independência.”
Se para o bom entendedor meia palavra basta, duas já são exageradas: “autonomia e independência”. É tudo o que a presidente Dilma Rousseff não quer. Não é à toa que, agora fora da lista de Janot, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), antes cotado para o Ministério da Integração, pode ir para outra pasta.
Como a batata de Pepe Vargas, com quem Eduardo Cunha não conversa nem por telefone, já está assando faz tempo, Henrique Alves poderia assumir o seu lugar como ministro de Relações Institucionais. Um contraponto peemedebista ao risco de retaliações do outro peemedebista. Politicamente analisando, é bem pensado.