Carlos Chagas
Acompanhada de seus advogados, a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva entregou ao
Tribunal Superior Eleitoral pedido formal de registro de seu novo
partido, a Rede Sustentabilidade. Deixou claro, na petição, ser
inadmissível a protelação das medidas burocráticas que, se
permanecer, poderá negar ao novo partido o direito de disputar as
eleições do ano que vem.
Em política não há
coincidências e ainda que não possa acusar a Justiça Eleitoral de estar
mancomunada com os interesses de quantos pretendem obstar sua
candidatura à presidência da República, Marina acha que é quase isso.
Jogar a responsabilidade pela manobra protelatória nos ombros do PT e
da própria presidente Dilma seria dar munição aos adversários, mas
basta somar dois e dois para concluir pela existência de um lobisomem na
floresta.
Afinal, a ex-senadora
aparece nas pesquisas eleitorais como a maior competidora da presidente
Dilma, com percentuais muito próximos nas preferências populares. É a
candidata que, se as eleições fossem hoje, passaria para o segundo
turno junto com a pretendente à reeleição. Mas Marina só poderia
disputar na hipótese de seu partido ganhar registro. Sempre haveria a
possibilidade de encontrar outra legenda, fosse uma dessas de aluguel,
fosse seu antigo Partido Verde, que abandonou por divergências internas.
Nos dois casos, porém,
estaria prejudicada. O ideal é ver a Rede funcionando, mas são no mínimo
estranhos os obstáculos que de repente se erguem em sua trajetória. Já
conseguiu mais de 600 mil adesões, mais do que exigido por lei, mas os
cartórios eleitorais perdem tempo e tergiversam na hora de aceitar as
assinaturas. Fazem exigências descabidas e tentam atrasar o processo,
porque se o registro não for concedido até 5 de outubro, a Rede
perderá a condição de lançar candidatos. Será isso o que deseja o PT,
temeroso de que parte dos votos a serem dados a Dilma se bandeiem para o
novo partido?
Entra na equação um
dado ainda inconcluso: por que Marina aparece em segundo lugar, logo
atrás de Dilma? Não será propriamente identificada como esquerdista, ao
menos no sentido clássico, já que sustenta propostas conservadoras em
termos de imobilismo ambiental. Talvez sua performance nas consultas se
ligue à novidade de ser uma candidata diferente, rejeitada pelo
empresariado e oriunda das camadas mais pobres da sociedade.
Além de intransigente
na oposição a projetos como da implantação de usinas hidrelétricas na
selva ou do asfaltamento de rodovias como a Porto Velho-Manaus, que
levaria o desenvolvimento àquela região amazônica, mas poderia
prejudicar a floresta intocada e causar danos à fauna e à flora.
Em suma, eis uma
candidata pouco ortodoxa, mas obviamente contrária a aspectos tidos
pelas elites como essenciais ao mundo moderno. Tempo há para que as
assinaturas em favor da Rede sejam certificadas dentro do prazo, apesar
da estranheza de tantas exigências, aliás, não adotadas quando da
formação de outros partidos, como recentemente o PSD e ainda agora o
Solidariedade. Resta aguardar a análise do pedido de registro.