Dois condenados em regime semiaberto no processo do mensalão – o
ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-tesoureiro do PL (atual PR)
Jacinto Lamas – começaram a trabalhar fora da prisão, uma realidade
distante para a maioria dos presos brasileiros (leia texto abaixo).
Delúbio passou seu primeiro dia de trabalho fora da cadeia cumprindo
ritos estabelecidos a recém-contratados pela Central Única dos
Trabalhadores (CUT), que pagará salário de R$ 4,5 mil ao condenado no
processo do mensalão. O petista chegou à sede do órgão, no Setor
Comercial Sul, em Brasília, às 8h30, e, segundo dirigentes, passou o dia
em processo de integração com outros funcionários. Sorridente e cercado
por colegas que tentavam blindá-lo de jornalistas, ele não quis dar
entrevista.
Delúbio foi contratado como assessor da presidência
da entidade para produzir relatórios e pareceres. Hoje, ele passa por
exame médico admissional. "Ele tem uma história importantíssima na CUT.
Foi um dos fundadores. Trabalhará exatamente com as funções que mandamos
para o Supremo Tribunal Federal (STF) e foram aprovadas pela Corte, que
são na área de formação sindical", diz o presidente da central, Vagner
Freitas de Moraes.
Ontem, Delúbio deixou o Centro de Progressão de
Pena (CPP), no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), em carro da
CUT. Passou o dia no prédio da entidade, sem sair para almoçar. Pela Lei
de Execução Penal, ele tem direito a circular por um raio de 100 metros
a partir do local de trabalho, no horário de almoço. O petista
preferiu, porém, fugir dos holofotes e comeu uma "quentinha" levada por
um funcionário. Saiu do local às 18h05 e foi conduzido por outro colega
até o CPP, em um carro popular.
Delúbio vestia uma camisa e calça
jeans. Fez questão de sorrir ao ver as câmeras voltadas para ele. Assim
como na entrada, ele foi cercado por colegas da CUT e não deu
entrevistas. Como foi o primeiro dia de trabalho dele, ainda não está
estabelecido o horário limite para voltar à cadeia. O prazo é calculado
de acordo com a jornada horária dele, o meio de transporte usado e o
trânsito enfrentado. Ontem foi uma espécie de teste para o cálculo do
tempo que levará no trajeto.
Dois policiais civis da Gerência de
Fiscalização de Apenados passaram no prédio da CUT durante a manhã para
conferir se o petista estava no local. Nenhum funcionário quis dar
entrevistas à imprensa. Depois da saída de Delúbio, alguns companheiros
xingaram os jornalistas de "facistas". O pedido da defesa do petista,
que não retornou o contato da reportagem, para que o preso pudesse
trabalhar foi atendido na quinta-feira.
O ex-tesoureiro do PT
cumpre pena de seis anos e oito meses de prisão pelo crime de corrupção
ativa. O presidente da CUT admitiu que a central não tem o hábito de
empregar presos. "É lógico que é uma exceção, pela história dele com a
CUT. Já nos manifestamos sobre o julgamento, que consideramos político.
Queríamos uma análise técnica. Não estamos preocupados com uma possível
repercussão negativa da contratação", disse Moraes, que, em férias, não
esteve com Delúbio e só o encontrará amanhã.
Lamas
Condenado a 5 anos de prisão pelo STF por corrupção passiva e lavagem
de dinheiro no processo do mensalão, Jacinto Lamas também estreou ontem
no emprego de auxiliar administrativo em um escritório de engenharia com
sede no Conic, com um salário de R$ 1,2 mil por mês. Ele chegou antes
mesmo da abertura da empresa e teve de esperar por mais de meia hora,
segundo informações de vizinhos do local, para a porta ser destrancada,
às 8h. Lamas deixou o trabalho pouco depois das 18h30 e dirigiu sozinho o
carro rumo ao Centro de Progressão Penitenciária (CPP), no Sistema de
Indústria e Abastecimento (SIA). Ao deixar o local, ele cometeu uma
infração grave, de acordo com o Código Brasileiro de Trânsito, ao mudar
de faixa sem dar seta no Eixinho.
Depois que desceu o elevador,
Lamas ouviu gritos de "pega ele" e "devolve o dinheiro do povo" de
pessoas que viram a movimentação da imprensa ao redor do ex-tesoureiro.
Lamas ignorou os insultos e caminhou tranquilamente para o
estacionamento. Perguntado pelo EM sobre como foi o primeiro dia de
trabalho, disse que não poderia falar por decisão judicial. O advogado
dele, Délio Lins e Silva, informou que a Vara de Execuções Penais (VEP)
do Distrito Federal proíbe que qualquer preso dê entrevistas sem
autorização.
Do quinto andar do escritório, Lamas tem vista
privilegiada à Torre de TV e ao Hotel Saint Peter, envolvido na polêmica
da contratação do também preso no mensalão José Dirceu. No mesmo
pavimento do edifício há uma clínica de olhos e outras salas comerciais.
A Misula Engenharia, empresa cujo diretor é João Cruz, amigo de Lamas
que o contratou, ocupa quatro salas no Conic.