Desta vez, a frase é diferente. Deixe o “não” para lá. Convidem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a presidente Dilma Rousseff (PT) para a mesma mesa. O papo vai rolar solto, quase uma amizade. FHC está de amores com Dilma faz tempo. Com a homenagem nas comemorações de seus 80 anos, o tucano se derreteu todo. É bom para a política que seja assim. Atitudes civilizadas são sempre bem-vindas. Ontem, o ex-presidente voltou a sair em defesa de Dilma, que trava uma batalha inglória com o funcionalismo público federal, que quer reajustes fora da realidade. Tanto que se fala em uma conta de R$ 60 bilhões por ano. É isso mesmo. Minas Gerais briga para aumentar os royalties do minério em mais R$ 300 milhões. Os servidores federais querem R$ 60 bilhões. Sem mais comentários.
Voltando a Fernando Henrique, se ele se dispõe a
defender a presidente Dilma, com o seu sucessor, Luiz Inácio Lula da
Silva, o tratamento não é o mesmo. Há, entre os dois, a cordialidade da
liturgia do cargo. Não poderia ser diferente. Mas o tucano não perde uma
chance de, mesmo que indiretamente, cutucar o petista. No mesmo evento
em que saiu em defesa de Dilma, FHC cobrou que os ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF) deixem claras as razões pelas quais os réus serão
condenados ou absolvidos. E não perdeu a caminhada. Fez questão de
ressaltar que a condenação, se vier, “manchará a imagem do governo
Lula”.
Depois de praticar o seu esporte preferido, FHC emitiu
opinião. Disse que os ministros “devem olhar e justificar” o que vão
fazer. É quase um aviso, até meio exagerado. Mas Fernando Henrique tem o
seu velho estilo e tentou escapar pela tangente: “Eu não sou juiz, acho
que houve crime e o Brasil inteiro sabe”. Pois é, é nesse clima que o
Supremo chegará um veredicto. Só que esse tipo de pressão serve apenas à
mídia, às manchetes de telejornais de emissoras insatisfeitas. Não vai
mudar um único voto dos ministros.