PIB e pibinho - 1
Não deixa de ser significativo o que é
comemorado no Brasil nestes estranhos tempos. Começou-se o ano se especulando
que o crescimento do PIB gravitaria ao redor de 4%. Já em meados do ano, o
próprio governo admitia que este crescimento não seria maior que 2,5%. Agora o
PIB do terceiro trimestre, cujas previsões giravam entre 0,8% e 1,3% no segundo
trimestre, "surpreendeu" (+1,5%). Os setores que surpreenderam foram a
agricultura (+3,9% registrado contra 1,5% esperado) e a construção civil
(+3,8%). Os outros indicadores foram razoavelmente dentro das expectativas o que
pode ser considerado como bom no atual contexto de desânimo. A questão é
sabermos se houve uma mudança estrutural que justificasse tal desempenho
superior. A resposta é não. A economia brasileira deve cair um pouco em relação
ao segundo trimestre e, ao final do ano, subir um pouco. Na contabilidade do ano
vamos crescer algo como 2,3%-2,4%, o patamar que os EUA apresentam e que é
insatisfatório. Mas, por aqui, a surpresa faz com que o ministro da Fazenda saia
de sua rotina e manifeste a glória de sua política econômica. O Brasil continua
um país de crescimento medíocre e não há nenhum vetor estrutural sendo alterado
para que este 'voo de galinha' se afaste de nós.
PIB e pibinho - 2
O principal item que acalenta a tendência
medíocre do crescimento brasileiro é a ausência de uma visão estratégica para as
políticas econômicas. A combinação confiável entre o capital privado e o estatal
persiste opaca pelo arranjo entre uma visão ideológica vencida da
presidente-ministra da Fazenda Dilma Rousseff. Além disso, o governo flerta com
a falta de disciplina fiscal e com a inflação mais alta, controlada, em parte,
pela compressão de preços públicos e pela alta (hesitante) da taxa de juros
básica. Não há nenhuma relação de causa e efeito que indique que o crescimento
no Brasil será mais robusto nos próximos dois anos. É essencial que se supere
(i) a inoperância/ineficiência governamental em relação às reformas e ao
investimento, (ii) a política cambial desindustrializante, (iii) o custo elevado
do crédito local e (iv) a baixa produtividade do setor público. Isso requererá
reformas estruturais que vão da educação à tributação e que o governo e a
sociedade gostam de jogar para debaixo do tapete. Resultado : PIB que cresce
2,5% é razão de euforia.