O Brasil acordou, recentemente, com os combustíveis mais caros. Em uma única tacada, para encher um tanque de 50 litros de gasolina o cidadão terá que desembolsar R$ 20 a mais. Espantoso é constatar que não houve e não haverá qualquer reação da população. Poderia ter sido de 50% e não de 12%, não faria diferença, continuaríamos pagando sem reclamar e sem nos indignar.
A inflação prevista para o ano, lembro, é de apenas 3,5%. Portanto, nada justifica um aumento de 12% nos combustíveis em um país que não tem controle das contas públicas e políticos saqueiam os cofres públicos. Eles são incompetentes, roubam, prevaricam, negligenciam, omitem, desviam, aplicam mal o dinheiro público, pagam salários de marajás a servidores perdulários, não fiscalizam, fazem vista grossa etc. e nós pagamos calados a conta da inoperância.
Pagamos como se nada tivesse acontecendo. Não se trata de uma correção de preço defasado, mas de aumento de impostos para cobrir rombos provocados pela incompetência da máquina pública. O que causa perplexidade não é a desconexão dos nossos governantes com a realidade. Deles não espero nada, pois não vivem aqui e pertencem a outra esfera.
O que me assusta é a passividade do povo diante dos fatos. Não reagimos mais, perdemos a capacidade de exercer a cidadania, de reclamar, de exigir postura decente e negar veementemente qualquer aumento de impostos – face a um quadro de descrédito inédito na história. Nunca pagamos tantos impostos e fomos tão decepcionados.
Não é necessário ser economista para deduzir, com 100% de certeza, que a inflação vai subir em poucos dias, embalada pelo aumento dos preços dos produtos que todos nós consumimos. Há pouco tempo, o presidente da República veio a público se defender de acusações graves de corrupção, e aproveitou o discurso para salientar seus feitos.
Um deles era o de ter a inflação sob controle e abaixo da meta. Inflação que perdeu força em virtude da redução dos preços dos combustíveis. Contradição maior não existe. É inexplicável como mudam o discurso sem perder a pose, e ainda tem coragem, a cara de pau e a desfaçatez de dizer que o povo vai compreender. Por muito menos, ou a metade, o país foi às ruas em junho de 2013. Fossem R$ 2 e não R$ 0,40, os cofres do governo estariam sendo abastecidos do mesmo jeito. O país parou por causa de R$ 0,20, mas segue calado pelo dobro.