Ainda muito jovem já gostava de livros,
principalmente dos que passavam mensagens dos autores sobre suas
observações e aprendizados da vida e, talvez por esse prazer, sempre
tenha me preocupado em transmitir minhas experiências.
Quando, já depois dos cinquenta anos,
resolvi realizar uma viagem de moto percorrendo partes do Brasil,
Paraguai, Argentina e Chile, a primeira coisa que me veio à mente foi
montar um blog onde poderia, diariamente, relatar a viagem, minhas
impressões, aprendizado e postar fotos tiradas dos locais por onde
passava, para que meus filhos e também outras pessoas pudessem ver o que
via.
Além de meus filhos e netos, a novidade
animou muitos, que interagiam, comentavam, faziam perguntas e desejavam
felicidades na aventura, que durou vinte e oito dias, durante os quais
percorri nove mil e seiscentos quilômetros. Assim como aprendi com os
autores de diversos livros, essa era minha tentativa de dar a outros a
possibilidade de aprenderem com minha vivência e de não errarem onde
errei.
Com os anos que se passaram e meu
consequente amadurecimento, passei a observar a importância das pequenas
coisas com as quais nunca havia me importado e além da observação e
valorização das coisas mais simples da vida, tenho tentado expressar meu
aprendizado, pensamentos e meus sentimentos relativos às diversas
situações, em pequenos textos, que futuramente poderão ser analisados
por meus descendentes ou por quem se interessar.
Assim como faço com minhas leituras, penso
que eles poderão ali encontrar, conhecer, aprender, viajar e imaginar
sem sair do lugar onde estiverem e cada um à sua maneira, pois as
palavras escritas, ou ditas, podem ter diversos significados, por serem
interpretadas baseadas nas experiências e percepções de quem as lê, ou
de acordo com o contexto e o tempo em que foram escritas e são lidas.
Muitos conflitos, discussões, brigas e até
guerras são iniciadas pela distância entre a intenção de quem disse e a
interpretação de quem ouviu. O mesmo ocorre com as palavras escritas,
que depois de colocadas no papel, passam a pertencer e ser interpretadas
diversamente pelos leitores.
Nos diversos comentários postados sobre
textos publicados, podemos perceber claramente como cada um é
interpretado de maneira totalmente diversa quando lido por pessoas
distintas. Por vezes o entendem da mesma maneira que tentou expressar o
autor e de outras, totalmente diferente do que pretendia dizer.
Apesar de saber que, por esses motivos e
com o passar do tempo, as palavras por mim escritas dificilmente
corresponderão exatamente ao que pretendia dizer, penso que mesmo assim
ainda conseguirei transmitir algo, o que já é melhor do que se não
tivesse escrito nada.
Os textos nos ajudam a esclarecer e
compreender motivos, ensinam, mostram origens e caminhos, apresentam
soluções e diversos deles tornam possível a interpretação, comum ou não,
de fatos históricos.
Foi através deles que pudemos aprender
tudo o que hoje sabemos, desde o plantio ao modo de preparar e conservar
os alimentos, de construirmos nossos lares para nos protegermos das
variações climáticas, curarmos nossas enfermidades, continuar os estudos
em busca da cura de outras, saber sobre pessoas diversas que viveram a
dezenas ou a milhares de anos, revoluções, guerras, contos, romances,
políticas e religiões. E baseados neles é que podemos buscar novas
tecnologias para continuarmos nossa evolução.
Lendo e ouvindo entendemos somente o que estamos preparados, mas abrimos possibilidades de novos conhecimentos.
João Bosco Leal www.joaoboscoleal.com.br
*Jornalista, escritor e produtor rural