A noite e madrugada de terça para quarta-feira foram movimentadas para os presidentes de federações, que chegaram ao Rio de Janeiro para a reunião extraordinária da CBF, que pode definir a renúncia de Ricardo Teixeira. Comandados por um grupo dissidente, cerca de 16 dirigentes tinham um ponto em comum: querer a permanência do mandatário. Não que ele seja unanimidade, mas sim para evitar que a turma de São Paulo comande a entidade.
Ninguém afirmava se Teixeira iria ou não deixar o cargo. Alguns foram recebidos por ele durante o dia. Outros receberam dinheiro para não vir à reunião, para que Teixeira tenha maioria naquilo que decidir. O caso mais grave foi o do interventor da Federação Brasiliense, que recebeu telefonema em que representantes de Teixeira diziam a ele para não vir, pois seria recompensado. Digno, o interventor não aceitou o pedido e chegou à Cidade Maravilhosa para votar com aqueles que se insurgiram contra o chamado golpe dos paulistas e da própria CBF.
Depois de receber alguns dirigentes, Teixeira pediu desculpas a um outro grupo e não os recebeu. Partiu da CBF, direto para o médico, particular, pois está com problemas sérios de saúde. Diabético, há anos, tem problemas cardíacos também. Segundo ele, nesta quarta-feira receberia o resultado de um exame, que poderia definir sua vida.
Um dos presidentes mais fortes é o da Federação do Rio de Janeiro, o médico, Rubens Lopes, o Rubinho. Ele foi chamado à casa de Teixeira, na manhã dessa terça-feira, juntamente com os “golpistas”, Marco Polo Del Nero e José Maria Marin. Lá chegando, ouviu dos paulistas que “alguém estava traindo Teixeira e que o presidente não gostara nada do movimento insurgente”. Diante do “homem”, disse que não havia movimento algum e que os presidentes estavam com Teixeira. Mas foi taxativo ao dizer que não aceitariam a indicação de Marin ou qualquer outro, em caso de renúncia de Teixeira, pois o mandato foi prorrogado para ele. Se isso ocorresse, o ideal seriam novas eleições, embora contrariasse o estatuto, que determina que o mais velho, em idade, assuma.
Teixeira, então, olhou para ele e disse que o mais importante era manter a unidade das federações, sob pena de uma intervenção federal, o que complicaria a vida da CBF. Rubinho concordou e reafirmou que não houve qualquer movimento para derrubar o chefe, mas que por um lado foi até bom porque mostrou a força das federações, consideradas joguetes nas mãos de Teixeira. Del Nero e Marin escutavam, sem manifestar-se. Eles morrem de medo de contrariar Teixeira. Porém, olhavam Rubinho de forma fulminante, querendo engoli-lo.
Estratégia antes da reunião
Teixeira questionou quem comandaria a reunião. Como Rubinho tem sido o “relator”, ficou decidido que ele abriria os trabalhos. Marin e Del Nero não contestaram, mas é sabido que já tinham o discurso pronto, para acusar Weber Magalhães, vice da Centro-Oeste, Francisco Noveleto, presidente da Gaúcha, e Ednaldo Soares, presidente da Baiana, como os “traidores”. A ideia da cúpula paulista era minar estes dirigentes, ganhar apoio do demais, e assumir o lugar de Teixeira, sem contestação. Teixeira ainda falou sobre algumas mudanças no estatuto, coisas simples, e a reunião acabou.
Weber Magalhães, Rubens Lopes, Léo Ferraz, vice da Carioca, e o presidente da Federação Paranaense, Helio Coury, ficaram trocando idéias e articulando a estratégia para a reunião, até as 3h. Del Nero e Marin chegaram ao hotel por volta das 2h, foram à mesa dos “colegas”, e, com um ar sarcástico e falso, disseram que o melhor mesmo seria Teixeira ficar. Del Nero, o mais fiel escudeiro do mandatário, não respondeu se ele ficaria ou renunciaria. “Ele não me falou. Acho que vai ficar tudo do jeito que está”. Del Nero não sabia que os presentes à mesa, desconfiavam que ele teria insuflado Ricardo Teixeira contra os mesmos. O clima de falsidade durou 15 minutos, tempo em que os cartolas paulistas ficaram no lobby do hotel.
Aí foi a vez de Rubinho, Weber, Léo e Hélio Coury criarem uma situação para que a reunião fosse aberta de forma a expurgar qualquer tipo de represália aos “rebeldes”. Rubinho abriria dizendo o seguinte: “Aqui não há insurgentes, nem traidores. Estamos com o presidente, Ricardo Teixeira, e entendemos que ele é o melhor para a CBF e federações. Apenas nos manifestamos num momento de instabilidade, onde tomamos conhecimento dos fatos através da imprensa, já que naquela momento, ninguém conseguia audiência com o presidente da CBF”. Com esse discurso, ele impediria a ala paulista de insuflar Teixeira contra os insurgentes, na reunião. Os quatro eram unânimes em afirmar que não aceitariam, de forma alguma, Marin como novo mandatário, embora o estatuto determine isso. Eles entendiam que o mandato de Teixeira só fora prorrogado, por causa de uma determinação da Fifa. Novas eleições seria o pedido deles, em caso de renúncia.
Outro ponto abordado foi sobre a possibilidade de Marcelo Campos Pinto, executivo da Globo Esportes, ser o candidato de Teixeira, em caso de novas eleições. A maioria concordava que este era um sonho do executivo, desafeto de Teixeira em 2002, mas que hoje é um grande aliado.
O café da manhã dos dirigentes
Dormir tarde e acordar cedo é um fato normal entre os cartolas, principalmente quando precisam articular em favor próprio. Com a reunião marcada para às 14h, os dirigentes procuraram se juntar aos aliados para estreitar as relações antes do encontro.
De um lado, José Maria Marin, Marco Polo Del Nero e Reinaldo eram unha e carne. Sorridentes, eles chamavam para sua mesa os dirigentes de federações do Norte-Nordeste, sem deixar de ser gentis com os “antagonistas”. Era visível a cara de satisfação deles, como se já soubessem o que iria acontecer às 14h, hora da reunião na CBF.
Do outro lado estavam Weber Magalhães, Francisco Noveleto, Léo Ferraz, e Ednaldo Soares, da Federação Baiana de Futebol. Chamados de rebeldes, não aceitavam a alcunha, mas mantinham-se firmes na decisão de pedir novas eleições. “Fui eu quem criei o dispositivo, em 2006, que permitiu a prorrogação do mandato do Ricardo Teixeira, a pedido da Fifa. Caso ela saia, definitivamente, ou peça licença, acho justo que tenhamos uma nova eleição", disse.
(em 29/02/2012)
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