125 anos atrás, em 1888 – depois de
quase quatro séculos de escravismo – o povo afro-brasileiro (ambos
negros e mestiços) finalmente ganhou sua liberdade das plantações de
café e açúcar, e, também, das senzalas. Mas isso não significou uma
melhoria extraordinária em suas vidas. Para citar o antropólogo Darcy Ribeiro (1995: 222):
"As atuais classes dominantes brasileiras,
feitas de filhos e netos dos antigos senhores de escravos, guardam,
diante do negro, a mesma atitude de desprezo vil. Para seus pais, o
negro escravo ou forro, bem como o mulato, eram mera força energética,
como um saco de carvão, que desgastado era substituído facilmente por
outro que se comprava. Para seus descendentes, o negro livre, o mulato e
o branco pobre são também o que há de mais reles, pela preguiça, pela
ignorância, pela criminalidade inatas e inelutáveis. Todos eles são
tidos consensualmente como culpados de suas próprias desgraças,
explicadas como características da raça e não como resultado da
escravidão e da opressão. Essa visão deformada é assimilada também pelos
mulatos e até pelos negros que conseguem ascender socialmente, os quais
se somam ao contingente branco para discriminar o negro-massa."
"A nação brasileira, comandada por gente dessa
mentalidade, nunca fez nada pela massa negra que a construíra. Negou-lhe
a posse de qualquer pedaço de terra para viver e cultivar, de escolas
em que pudesse educar seus filhos, e de qualquer ordem de assistência.
Só lhes deu, sobejamente, discriminação e repressão"
Tendo isso em mente, gostaria de recomendar-lhes o documentário "Eu só quero conhecer o Shopping" http://goo.gl/wnqCfQ,
filmado em 2000, que mostra em imagens o que Darcy descreveu em
palavras. Mostra que, mesmo depois de passado mais de um século desde a
abolição, a nossa sociedade pouco mudou. Mostra, também, de onde
provém a crença de muitos políticos e magistrados que, ainda hoje,
acreditam merecer mais do que a maioria da população brasileiro pelo trabalho que fazem para a sociedade (ou será mesmo para a sociedade?).
É esse o Brasil que queremos?
Termino essa atualização com a seguinte frase (retirada do documentário):
“As portas
do Rio-Sul não são a mesma coisa quando entro e depois quando eu saio. Ou,
quando passo em frente, desempregado. Ou ainda, quando nunca entrei ou sai, mas
permaneço, quase sem nada”.
PS: O jornal Folha de S. Paulo publicou um artigo interessante sobre os "rolezinhos", o qual também recomendo a leitura.
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