Luiz
Holanda
Somente
no Brasil acontece uma associação entre um ex-ministro da Justiça
e um investigado pela polícia por envolvimento no crime organizado e
corrupção. Alegando que se sentia desafiado e que não tinha
qualquer impedimento ético ou psicológico em defender o
“empresário” Carlinho Cachoeira, o advogado Márcio Thomaz
Bastos cobrou 15 milhões de reais pelos seus serviços
profissionais, segundo a imprensa.
Ao aceitar defender Cachoeira, Bastos teve de sentar-se
ao seu lado na sessão da CPI que investigou o suposto esquema de
lavagem de dinheiro praticado pelo seu cliente e aliados,
orientando-o a manter-se calado a fim de inviabilizá-la. Tempos
depois, sem qualquer explicação, renunciou à defesa, avisando que
não devolveria os honorários pagos.
Defensor
do golpe militar de 64, ex-vereador de província, ministro da
Justiça de Lula e advogado de gente como Edir Macedo, Roger
Abdelmassih, Eike Batista e outros moradores do “andar de cima”,
Márcio Thomaz Bastos, falecido no ano passado, era considerado um
Deus entre os colegas de banca, que o chamavam, carinhosamente, de
GOD.
Estrategista
e especialista no trato com o Poder tentou e conseguiu, pelo menos
parcialmente, absolver os réus do mensalão, cuja tese de defesa,
criada por ele, foi que o dinheiro recebido pelos seus clientes era
para pagar despesas de campanhas eleitorais, o famoso Caixa dois.
Além de indicar os advogados de defesa de alguns mensaleiros, ele
próprio patrocinou a defesa de um deles: o ex-diretor do Banco Rural
José Roberto Salgado.
A
participação de GOD nas decisões do poder e nos grandes processos
de corrupção - antes e os ainda em curso-, não para por aí. Ele
foi padrinho de cinco dos onze ministros que julgaram o mensalão,
nomeados na época em que ocupou o cargo de ministro da Justiça do
então presidente Lula. Mesmo assim, compareceu no STF meio
constrangido, chamando a atenção dos ministros para não esperarem
dele uma “defesa sintética, uma defesa brilhante”. Ele
acreditava tanto na fragilidade de sua defesa que preferiu encerrá-la
“para o bem de todos”.
Mesmo
assim, só não ganhou totalmente o processo porque a Corte, naquela
ocasião, não podia garantir, em sua totalidade, a impunidade dos
acusados. Além disso, a defesa promovida pelos advogados dos
mensaleiros e por ele próprio nada mais era do que um amontoado de
teses rebuscadas e vazias.
Essas
mesmas teses estão sendo usadas na defesa dos empreiteiros para
boicotar a Operação Lava Jato. O encontro entre os advogados desses
empreiteiros e o ministro da Justiça petista, Eduardo Cardozo,
parece que vai dar frutos. O procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, já deu sinais de que isso pode acontecer, principalmente em
relação a alguns dos personagens, cujos nomes constam de uma lista
em seu poder.
Vamos
aguardar a tão ansiada e adiada lista com os nomes dos parlamentares
e governadores citados no esquema de corrupção na Petrobrás. Se
ela for completa - o que se duvida muito-, contribuirá para que
possamos recuperar um pouco a justiça que de há muito perdemos.
Caso contrário, se for apenas para burlar a lei, como ocorre quando
o Supremo absolve os criminosos de colarinho branco, estaremos
criando um perigoso precedente para novos e maiores crimes.
GOD
sabia navegar nas águas revoltas da política sem jamais afundar.
Conhecia como poucos as máximas balzaquianas sobre a advocacia,
entre as quais a que diz que “Todo processo é julgado pelos
advogados antes de sê-lo pelos juízes, assim como a morte do doente
é pressentida pelos médicos antes da luta que eles sustentarão com
a natureza; e aqueles com a Justiça”. Daí a sapiência de GOD em
julgar os seus próprios processos antes dos juízes.
Sua
morte foi sentida pelo mundo político, jurídico e pelos que foram
por ele defendidos, mas como era inteligente e certamente leitor de
Shakespeare, sabia que a morte é uma baixa apressada para o ocaso,
para o qual se cai como um meteoro, que ninguém mais enxerga. Que
Deus o tenha, GOD.
Luiz
Holanda é advogado, articulista da Tribuna da Bahia, professor de
Ética e de Direito Constitucional da UCSAL e Conselheiro do Tribunal
de Ética da OAB/BA.
Defensor de notórios bandidos engravatados, a esta hora deve estar acertando as contas com o diabo. MTB não tinha escrúpulos e assim com vários coleguinhas de bancas conceituadas, vendeu a alma a preços exorbitantes na ilusão de que encerrou a sua trajetória consagrado. Ledo engano. Ainda que não pague por sua ganância e amoralidade, será sempre execrado pelos homens de bem. E na lembrança desses, alguém para se esquecer. Existe algo pior do que passar pela vida e deixar esta imagem para os seus descendentes?Tentar dourar a pílula que se esfarela é como tentar pegar o polegar usando a mão que o contem.
ResponderExcluir